Terça-feira, 10 de outubro de 2017 - 14h40
O que Jair Bolsonaro tem em comum com Mário Palmério? Antes de responder que absolutamente nada, lembro que ambos foram eleitos deputados e são chamados de mito.
A questão é que cada um carrega significado diferente à palavra, relativizada como tantas com o passar dos anos.
Mito pode ser empregada para descrever uma mentira ou alguém que é sumidade em determinado campo, como o da política.
No sentido léxico da palavra, mito é o que se forma a partir da sonoridade popular por elevado reconhecimento de mérito, por algo muito bom que servia à comunidade como exemplo.
Atualmente, o personagem fantástico, portanto, pode ser chamado mito por algo relevante que fez ou pelas mentiras que representa.
Mário Palmério foi um político, educador e romancista que fundou colégios, escolas técnicas e as primeiras faculdades de direito, medicina e engenharia do triângulo mineiro.
Dele duas grandes obras da literatura brasileira: Vila dos Confins e Chapadão do Bugre. Pelo rico material linguístico que deixou revelando os costumes regionais do nosso país, foi dele a cadeira de Guimarães Rosa na Academia Brasileira de Letras.
Ou seja, a palavra ‘mito’ se refere às coisas magníficas que realizou.
A explicação para chamar Bolsonaro de mito está também no seu histórico, mas com outro significado.
Segundo levantamento do Estado/Broadcast, ele apresentou 171 projetos em três décadas na Câmara, dos quais 53 são voltados para militares e 44 para segurança pública.
Só dois viraram lei: o que estendeu o benefício de isenção do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) para bens de informática e outro que autorizava o uso da chamada “pílula do câncer”.
É isso. Só isso. O que propôs de bizarro, as declarações insanas em apologia à barbárie nem vale a pena citar, pois mesmo quem gosta de Bolsonaro sabe de cor.
Bolsonaro atraiu uma legião que o aclama mito sem saber que o significado da palavra para ele é: mentira. Convém analisar o próprio caráter para entender o deslumbramento.
O político que se insinua à presidência da república não passa de um personagem que agrada pessoas de caráter semelhante.
Quem declara voto a Bolsonaro não sabe quais suas propostas para setores como a economia, educação e saúde, porque simplesmente não existem.
É um político limitadíssimo aos temas que tocam uma sociedade pouco politizada, insatisfeita e confusa.
A presença de Bolsonaro nos debates eleitorais vai gerar muito riso e raiva, dois ingredientes que confundem o real conceito de política.
O historiador André Azevedo da Fonseca usou Mário Palmeiro como personagem histórico para apontar A Construção Do Mito.
“Num lento processo que ele soube lidar muito bem, de construção de prestígio, de construção de uma imagem social, Mário Palmério soube convencer a cidade inteira que ele era alguém que merecia respeito. Através de um movimento calculado, onde ele soube se apresentar como alguém muito importante, Mário Palmério conseguiu uma ascensão profissional muito rápida, uma ascensão política que surpreendeu os políticos da região. Ele conseguiu ser interpretado no imaginário nacional como um herói, sagrado, capaz de superar os problemas da região e conduzir seu povo a uma terra prometida”.
Portanto, não confunda o emprego da palavra ‘mito’ a Mário Palmério e a Bolsonaro.
Aquele que não for uma mentira de brasileiro honesto, politizado e preocupado com valores tão caros às famílias, saberá diferenciar.
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