Terça-feira, 1 de novembro de 2016 - 14h47
Tão logo os militares tomaram poder em 1964, a sede da União Nacional dos Estudantes (UNE), no Rio de Janeiro, foi metralhada e incendiada, a entidade passou à atuar na clandestinidade e o estudante secundarista Edson Luís de Lima Souto, 18, foi assassinado por policiais. O país mergulhou no caos.
Para reprimir as manifestações contra o regime da ditadura baixaram o AI-5, um coquetel molotov que autorizava arbitrariedades contra os insurgentes.
Se passaram 52 anos e os estudantes voltam a protagonizar a luta contra o autoritarismo que sucede um golpe.
Mais de mil escolas seguem ocupadas em protesto contra a PEC da Morte, a 241, que impõe cortes de verbas nas áreas sociais, na saúde e na educação, e também contra a Medida Provisória que reforma drasticamente o ensino médio sem discussão prévia.
Só no Distrito Federal há sete escolas ocupadas em cidades-satélites, cinco institutos técnicos federais e a Universidade de Brasília (UnB).
Inacreditavelmente, o juiz Alex Costa de Oliveira, da Vara da Infância e Juventude do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) determinou que se reprima as ocupações com técnicas de tortura.
Ele mandou cortar o fornecimento de água, luz e gás das unidades de ensino, impedir o acesso de familiares e amigos e pasme, fazer barulho até que desocupem.
O juiz ordenou que a polícia utilize “instrumentos sonoros contínuos, direcionados ao local da ocupação”, para impedir que os estudantes tenham sono”, submetendo-os à uma técnica de tortura utilizada na prisão de Guantánamo.
A tática de convencimento por tortura psicológica afeta, inclusive, moradores vizinhos.
O juiz da Infância e Juventude ainda ressaltou na decisão que a cumpram independentemente da presença de menores no local.
“É uma reedição de técnicas de tortura. São considerados meios mais amenos, por assim dizer, por que não tem violência direta, mas isso agride física e mentalmente os estudantes. Visa criar o caos entre os jovens. Não é para convencer. É autoritário e violento”, afirmou o advogado Renan Quinalha, que auxiliou os trabalhos da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo.
Folheie o calendário por meio da literatura e ache dia 31 de outubro, só que de 1964, e verá que na mesma data alunas da Faculdade de Filosofia da Universidade de Santa, no Rio de Janeiro, encenavam o “Enterro da UNE”.
Com um cortejo fúnebre lamentavam: “Participamos aos colegas o falecimento do órgão máximo do movimento estudantil brasileiro – a UNE. Está consumada a pressão governamental, atentando contra um dos mais sagrados direitos do Homem – o da liberdade, na pessoa do estudante do Brasil.”
Neste 31, os estudantes reafirmaram que o som da finada democracia não os fará assumir o papel de carpideiras.
Vão lutar! De novo.
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