Quinta-feira, 18 de maio de 2017 - 11h58
Não vou disfarçar que estou feliz por finalmente ver Michel Temer e Aécio Neves defenestrados, mesmo com o país à deriva.
Prefiro não saber o caminho a seguir rumo ao precipício sob o comando de uma corja golpista.
De tudo que vi de abominável do início do golpe à democracia até aqui, o que mais doeu foi a alienação de uma parcela gigantesca da sociedade que demonstrou não ter consciência sobre o que é certo e errado.
Vi uma multidão manipulada, desonesta e histérica cobrar dos políticos princípios éticos e morais ignorados quando a presidenta eleita foi deposta sem crime.
Ganância, traição, chantagem, mentiras, subversão do processo judicial em midiático.
Todos os meios imorais e ilícitos foram admitidos pra transferir o poder sem voto.
O atentado contra o processo democrático contou com o aplauso de uma imensa torcida e os estilhaços atingiram todos os poderes constituídos.
O estrago é imensurável, mas o que vem depois de um golpe é exatamente este cenário de destruição de valores com grave instabilidade política e econômica.
Tudo que Dilma que quis evitar, quando acuada pelos golpistas teve a humildade de sugerir um plebiscito para que o povo decidisse sobre a realização de eleições diretas.
Todos os alertas de um cataclismo na política e economia do país foram ignorados.
A maioria mandou às favas os escrúpulos de consciência, exatamente como no golpe de 64.
O que temos hoje, é nada mais que a confirmação do golpe parlamentar-midiático-judicial e os estragos que dele resultaram.
Talvez agora todos compreendam o coro por tantos ridicularizado: golpistas não passarão!
Esse choque de realidade é o que de melhor poderia ocorrer a curto prazo para colocar a sociedade num estado de consciência mais seguro.
O brasileiro tem que aprender que não é seguro brincar de golpe.
E não cabe assombro com os escândalos de corrupção. Temos os políticos que merecemos.
Que desse golpe surja uma sociedade mais consciente e comprometida com os valores republicanos.
Porque a desgraceira não teria ocorrido se o povo brasileiro não estivesse tão mal representado no Congresso Nacional.
Quer mudar o país? Só pelo voto!
Na década de 80, Affonso Romano de Sant’Anna avisou:
Sei que a verdade é difícil
e para alguns é cara e escura.
Mas não se chega à verdade
pela mentira, nem à democracia
pela ditadura.
Quem sabe com esse soco no estômago que só vai parar de doer com uma reforma política profunda, a gente pare de passar a limpo a mentira.
E, sinceramente, não sem que o eleitor também pare de mentir.
O que nos trouxe até aqui foi o elogio à desonestidade.
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