A esperança é um sentimento que comparo ao mel, um produto que não estraga por mais adversas que sejam as condições em que é mantido.
Por ser além de doce, de Ph muito ácido, nenhum microrganismo que tente fazer do mel hospedeiro, sobrevive.
O mel é eterno e só concorre em doçura com as tâmaras que antigamente demoravam 80 anos para serem colhidas. Daí o ditado árabe: “Quem planta tâmaras, não colhe tâmaras!”
É com características desses dois alimentos preciosos que preparo o espírito para encarar 2018.
A previsão de que nada bom para o Brasil será produzido novo ano por esse governo corrupto e mau, não vai acabar com minha doçura e sonhos.
Seguirei plantando o sonho de um país menos desigual e melhor para todos e todas.
Porque sem plantar o desejo de justiça social, ninguém colherá.
2017 foi cansativo para quem lutou contra a perda de direitos e o desmonte de políticas sociais bem sucedidas.
Foi um ano catastrófico, sobretudo para os mais pobres.
O Congresso Nacional disparou mísseis letais contra os mais frágeis, como a PEC que congelou investimentos na saúde e educação por 20 anos, o que vai aprofundar a desigualdade. A ONU chamou a medida de “radical” e “sem compaixão”.
No país em que os 5% mais ricos detêm a mesma porção de renda que outros 95%, segundo estudo da Oxfam, o contraste social resulta em mais violência quando a fatia pobre é condenada a ficar mais pobre.
“Em 2015 houve 59.080 homicídios no Brasil – o que equivale a uma taxa por 100 mil habitantes de 28,9. Este número de homicídios consolida uma mudança de patamar nesse indicador (na ordem de 59 a 60 mil casos por ano), e se distancia das 48 mil a 50 mil mortes, ocorridas entre 2005 e 2007”, segundo o Sistema de Informações sobre Mortalidade, do Ministério da Saúde.
O avanço da violência é o recibo dos governantes aos que não se importam com os vulneráveis.
O congelamento de investimentos na educação lançará mais adolescentes da escola ao trabalho precoce e precário.
Só os ricos e estúpidos aprovam o fim do combate à desigualdade.
Esses, não se preocupam com os 28 milhões de brasileiros que voltaram a ocupar a linha abaixo da pobreza. Entre 2004 e 2014, 30 milhões saíram dessa condição.
Reforma Trabalhista, rico e estúpido aprova.
Reforma da Previdência, também.
E o fim da corrupção? Claro que não.
Os ricos negam a catinga desse governo, porque nela conservam seus privilégios. E os estúpidos, sua estupidez.
Por isso é tão importante manter a esperança com luta e plantar a consciência de que um país tão vasto e rico não pode ser pra poucos.
De um modo geral, o brasileiro se rebaixou à altura do governo que jamais seria eleito com as reformas desastrosas que vêm sendo aprovadas com chantagens e compra de votos.
A maioria preferiu não admitir o erro do apoio ao golpe a exigir à Câmara autorizasse as investigações contra Temer e ao Senado o afastamento de Aécio Neves. Sem esses dois políticos de mal caráter, o “acordo com o STF, com tudo…” poderia sofrer uma reviravolta.
Faltou a força dos brasileiros amargos que perderam de vista a esperança.
Que em 2018 a encontrem para banir os políticos que ajudaram Temer a massacrar os mais pobres.
A esperança é eterna como o mel e está onde sempre esteve, nas urnas.
Mas, para enxerga-la é preciso cultivar o que dá trabalho e leva tempo para colher.
Não é assim com nossa democracia?
Aos brasileiros que andam falando de lado e olhando pro chão, desejo esperança e luta.
A Eterna Mágoa sem luta não tem utilidade alguma, com plantou Augusto dos Anjos.
“O homem por sobre quem caiu a praga
Da tristeza do Mundo, o homem que é triste
Para todos os séculos existe
E nunca mais o seu pesar se apaga!
Não crê em nada, pois, nada há que traga
Consolo à Mágoa, a que só ele assiste.
Quer resistir, e quanto mais resiste
Mais se lhe aumenta e se lhe afunda a chaga.
Sabe que sofre, mas o que não sabe
É que essa mágoa infinda assim, não cabe
Na sua vida, é que essa mágoa infinda
Transpõe a vida do seu corpo inerme;
E quando esse homem se transforma em verme
É essa mágoa que o acompanha ainda!”
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