Domingo, 25 de março de 2018 - 18h24
No DCM
Querido Kiko,
Eu tô indignado, viu?! Essa violência no Rio Grande do Sul mexeu comigo. Depois dos últimos e trágicos acontecimentos no Rio de Janeiro com a vereadora e militante Marielle Franco e do visível crescimento da onda de ódio nas redes sociais, resolvi te mandar essa carta. É carta mesmo, é pra ser um desabafo sem pretensões intelectuais.
Quando estava filmando o documentário ‘O Povo Pode’ na caravana do Lula pelo Nordeste também vi ódio e hostilidade. Mas nada comparável com as milícias gaúchas. Vi gente contra.
Contra o Lula, contra o PT, contra o MST, até contra a democracia, mas não vi gente disposta a hostilizar mulheres petistas, jogar pedras na comitiva ou bloquear estradas para impedir atos democráticos. E mais importante, não vi gente fazendo algo perto disso com a certeza de impunidade e o sentimento de um “danem-se eles”, “que morram!”.
Em toda a caravana pelo Nordeste me lembro de apenas duas irrelevantes manifestações contra Lula. Numa delas, inflaram o tal do Pixuleco. Parei o carro da produção, desci e fui lá ver qual era o ânimo dos cidadãos. Vou te dizer, Kiko, que tinha no máximo umas trinta pessoas. Carregavam cartazes ofensivos e gritavam ao vento um monte de palavras de ordem vazias.
Eram protegidos pela polícia militar e estavam há uns dois ou três quarteirões de distância do ato da caravana. Vi o ódio no olhar daquela turma, mas eram o que o meu pai chamaria de “loucos mansos”, uma turma disposta a apresentar sua visão da realidade mesmo diante de uma multidão que vê o mundo de um jeito completamente diferente.
No Rio Grande do Sul foi diferente, né, Kiko? A turma queria sangue, desde Bagé. Partiram para o ataque. Pedrada e ovada foi só um aperitivo do que estavam dispostos. Nem vou perder tempo em citar as tantas militantes agredidas, nem o áudio que o DCM deu, revelando uma bravata (espero) de alguém disposto até a “derrubar” o hotel na cidade de Sarandi, aonde o Lula talvez fosse dormir.
Vou me concentrar naquela foto de um simpatizante de Lula sendo chicoteado em Santa Maria. O que foi aquilo, meu Deus?!! Um ser humano chicoteando outro ser humano em pleno século XXI é algo assustador. Chicotear um animal pra mim já seria assustador. E o pior é que a foto não é um ato isolado de um cara fora da razão.
Você acredita que vi posts nas redes sociais com aquela foto como exemplo de como se trata petista?!! Como dizia o Henfil, que diabo de país é esse? Que diabo de nação acha normal ou acha engraçado um homem chicoteando outro? Aquela foto, Kiko, é a expressão máxima da fala do Jessé Souza: a escravidão é nosso berço. E ela está em muitos de nós com toda força.
Lula disse no último discurso de sua passagem pelo Rio Grande do Sul que tinha notícias de um Estado tomado pelo conservadorismo. Vou arriscar dizer que atos como o da foto não revelam uma população conservadora, revelam a barbárie!
Desculpem-me os gaúchos. Não faço discursos totalizantes. Como qualquer Estado, o Rio Grande do Sul é feito de gente de todo tipo, mas em especial de boa gente. O que eu não posso aceitar é essa raiva, é esse ódio entre brasileiros. O Rio Grande do Sul também não pode aceitar.
Acompanho manifestações há muitos anos. Cobri várias para veículos jornalísticos e fui em várias como cidadão. Faço aqui meu testemunho de como movimentos populares e sindicatos organizam seus atos. Em toda manifestação há uma equipe responsável pela segurança dos manifestantes e da população que não quer se manifestar.
Vi muitas vezes essa equipe cumprir funções de polícia e evitar conflitos e depredações. Tenho certeza de que se não houve uma tragédia no Rio Grande do Sul foi porque as equipes de segurança do ex-presidente Lula e dos movimentos populares que o apoiam fizeram a sua parte.
As imagens do bloqueio à cidade de Passo Fundo mostram que a polícia militar do Estado não fez seu papel. Tenho visto isso se repetir muitas vezes. Não se trata de proteger representantes dessa ou daquela corrente política. Se trata de responsabilidade cívica, de proteger a cidadania. Se os órgãos de segurança do Estado fizessem seu trabalho, talvez tivéssemos evitado a imagem terrível da foto que hoje representa o ódio no Brasil. Mas parece que segurança continua sendo privilégio, né, Kiko?!!! É… a escravidão é mesmo o nosso berço.
Max Alvim é cineasta e diretor do filme O Povo Pode, sobre o outro país que Lula visitou com sua caravana. CLIQUE AQUI PARA CONTRIBUIR
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