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Luciana Oliveira

SOBRE LULA, O PT, A ESQUERDA E A ESCOLHA NO FUTURO - POR LUCIANA OLIVEIRA


 

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É mais quem me cobra posicionamento sobre os escândalos que envolvem vários filiados ao Partido dos Trabalhadores, sobretudo o ex-presidente Lula.

O que penso hoje, naturalmente, pode mudar amanhã em função do movimento e da força dos fatos. A construção do raciocínio, portanto, vem da relação entre os eventos até aqui.

Minha aproximação com o PT nasceu há mais de duas décadas, quando um dos fundadores do partido em Rondônia se tornou meu vizinho, o Odair Cordeiro, depois meu chefe, depois com quem me estranhei. Partiu sem meu agradecimento pelo que usufrui de bom de seus ensinamentos.

O desgosto que tive com pessoas e com o governo petista na capital logo no primeiro mandato, me fez raciocinar da barriga pra baixo, puramente com paixão.

Destaco isso para mostrar que senti lá atrás, a frustração com o discurso moralizador que muitos reclamaram só a partir dos primeiros escândalos de corrupção envolvendo petistas em nível nacional. Nunca fui filiada a nenhum partido, mas me importunavam com cobranças sobre o mensalão até em leito hospitalar.

Foi na faculdade de direito que minha racionalidade subiu o umbigo.

O julgamento do mensalão e a condenação de José Dirceu, sem provas, foram determinantes para enxergar que pelas vias legais o Brasil tomaria o rumo de um novo golpe.

O que foi o impeachment de Dilma, senão um golpe com vestimenta jurídica? Os parlamentares admitiram a condenação sem crime despudoradamente e há pouco, Cunha, Temer e FHC fizeram o mesmo.

Quando Lula saiu dos bastidores em defesa de Dilma, sabia que ia sobrar pra ele e que a deposição de Dilma era certa.

O ex-presidente foi até levado coercitivamente a depor, mesmo tendo se oferecido.

Quando ele tomou posse como ministro, ninguém honesto é capaz de negar que foi tratado ‘diferente’, à margem do direito, pelo parlamento, mídia e judiciário.

Os valores éticos e morais dos brasileiros foram às extremidades, de muito a zero, em apenas três anos. Essa relativização é fenômeno inequívoco de manipulação de massas.

Quem não admite é o mais vulnerável, por ignorância ou interesse de classes.

Quando a lei não basta para igualmente investigar e punir alguém por corrupção, o que sobrevém é o golpe e os estragos na vida de todos.

Optei pela defesa do Estado Democrático de Direito de forma intransigente, por uma garantia coletiva, não partidária.

PRESSA E SELETIVIDADE

Não é fácil viver esse momento sem pressa em chamar os investigados de bandidos e cada um sonha com seus favoritos na cadeia. O que vem à tona por meio de colaborações premiadas, graças à Lei 12.850, que foi sancionada por Dilma Rousseff, faz sentido.

O que não tem lógica é o brasileiro se bastar com as confissões de delatores, ao arrepio da lei, divulgadas conforme a conveniência do submundo da política.

Pela relação dos fatos do mensalão até aqui, posso e devo denunciar sim, com base na seletividade aplicada na Operação Lava Jato por juízes, promotores, procuradores e ministros, uma estrutura orquestral para acabar com a esquerda no país. Isso já aconteceu antes.

Lula, Dilma e vários outros petistas, dizem, jogaram o mesmo jogo voraz pra garantir governabilidade. Quando digo o mesmo, não significa dizer com o mesmo resultado.

Se realmente todos sujaram as mãos, o que restará ao povo é suportar e eleger resultados diferentes e a partir disso traçar uma linha imaginária de uma nova forma de fazer política.

Todos os grandes líderes partidários estão enrolados com a justiça.

Só que pra mim, mais que antes, está claro não votar na direita que tomou na marra o poder.

São piores, muito piores, porque governam de cima pra baixo, pra uma minoria que quer se manter no topo à custa do sacrifício – como bem disse Temer ao assumir – da maioria.

Em 10 meses tornaram o país menos respeitado no cenário global, mais injusto e mais instável economicamente.

COMPARAR MODELOS É O QUE RESTA

O resultado dos governos petistas, sobretudo com Lula, que teria praticado corrupção como os outros, não pode ser ignorado.

FHC, que também teria metido a mão na cumbuca, deixou o país com 627 mil/ano, já Lula e Dilma com 1,79 milhões/ano. O desemprego com o tucano se manteve na casa dos dois dígitos e achegou a 12% quando foi rejeitado nas urnas.

E a economia hein? Dá pra esquecer que o Brasil saiu da 13ª posição mundial com FHC para a 7ª nos governos petistas?

Ah, mas os tucanos deixaram o país pronto para o crescimento…
Mentira! Não deixaram e não sabem o que fazer daqui pra frente como artífices do golpe à democracia.

Quem poderá ajudar a colocar o país nos trilhos, Lula?
Sempre me pergunto como.

Lula fez um governo de coalização, que hoje podemos resumir ao velho toma lá dá cá.

Se eleito, o que ele tem para oferecer diferente, sobretudo no que diz respeito a garantir governabilidade sem dar nada de forma ilícita em troca pela aprovação de apoio no Congresso?

Como eleitora da esquerda, me pergunto todo dia o que esperar de uma retomada de poder.

Se Lula tivesse tentado resistir ao esquema de troca não teria sequer concluído o primeiro mandato, pois também foi alvo de vários pedidos de impeachment.

Ele deu um jeito de se safar, Dilma, não.

E, justamente por não ceder à chantagem de Eduardo Cunha e Temer, foi deposta.
O coro que prevaleceu foi o de que Dilma era arrogante e péssima de articulação política.


A HIPOCRISIA EMBURRECE

O Brasil quer mesmo é um governante que não importa o que faça, faça bem feito e não deixe ninguém saber como foi feito.

Se Lula tivesse rompido com os esquemas de corrupção, não sejamos hipócritas, não teria concluído o primeiro mandato. E se o PT não tivesse governado tanto tempo e com vantagem de sobra para futuras eleições, nem saberíamos que empresas comandadas por corruptos mandam e desmandam nos três poderes.

Não teríamos também, provas de que a base do nosso sistema político é construída com financiamentos ilegais.

A questão é o que fazer daqui pra frente com a topada na realidade descrita, principalmente no depoimento de Emílio Odebrecht, para quem o poder sempre se estabeleceu com a troca de dinheiro e favores entre o público e o privado, com a prevaricação geral nos poderes e com a manipulação da mídia tradicional.

Suspeito que tudo dito por delatores tenha um fundo de verdade, mas muito exagero pra beneficiar um projeto de poder que não veio à tona ainda.

Deste modo, sigo em defesa não de um político ou partido, mas da mentalidade que só encontro na esquerda que contempla as bandeiras por um país mais inclusivo, democrático.

Não viro à direita!

Não vou com os que além de sujar as mãos roubando o erário, condenam ao ressarcimento o povo mais humilde à invisibilidade e aos trabalhadores à retirada de direitos.

Simples assim.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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