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Luciana Oliveira

Sobre realidade e fantasia no período natalino - Por Luciana Oliveira


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Para minha família o papai noel nunca foi personagem principal no mês natalino. Meus pais são católicos e apesar de manter tradições como árvore, ceia e presentes, o mais importante no natal sempre foi confirmar valores cristãos.

A gente faz isso na oração da família em torno da mesa e com o poema que papai escreve para lembrar o que Jesus deixou como ensinamento à uma vida útil e feliz.

Cedo aprendi que o velhinho carismático e bondoso era só um produto de marketing, mero pretexto para elevar bons sentimentos e justificar o presente a quem foi bacana durante o ano.

O papai noel reflete valores caros como honestidade e respeito. Disso, ninguém duvida.

Mas, vi raros casos de crianças que de fato ficaram de castigo e com as mãos abanando por terem sido desrespeitosas ou más.

Tudo se releva no Natal e os exemplos e ensinamentos de papai noel e Jesus Cristo para serem vividos o ano todo, acabam banalizados.

Alguns especialistas garantem que é importante estimular crianças à fantasia de uma noite mágica num mundo perfeito.

A partir de quando, cabe a cada um decidir.

Com nossos filhos, decidimos muito cedo.

Aos quatro minha filha já questionava por que papai noel não presenteava crianças pobres. “Não tem criança pobre que é boa o ano inteiro? Toda criança rica merece presente?”.

O senso crítico precoce não impediu ela e os irmãos de curtirem as festas familiares e os fez sonhar ainda mais com um mundo justo e bom para todos e todas.

No poema de natal de 2014 meu pai, Antônio Cândido, escreveu:

“Na minha infância de menino pobre
deixava meus pedidos na janela
que eram feitos pra Papai Noel
durante minhas noites de Natal.
E todo ano, então, se repetia
de eu encontrar molhada do sereno
minha carta deixada na janela
e a velha meia uma vez mais vazia.

Na minha inocência de criança,
verifiquei, depois de muita busca,
não existir de fato uma resposta
que pudesse afinal me convencer.
Menino rico sempre recebia
seu presente na noite de Natal,
enquanto aquele que nascia pobre
nenhum presente tinha a receber.”

No poema de 2007, lamentou:

“Mas o mundo, Jesus, está perdido.
O amor ao irmão foi esquecido
e é ser esperto ensinamento novo.

E em outro, pediu:

Seria bom, Jesus, se novamente
você pudesse entre nós nascer
e ao mundo trouxesse humildemente
suas lições de como se viver.

Pois o mundo mudou complemente
como por certo você pode ver.
Festejar o seu dia alegremente
é só motivo para mais vender.”

E no seguinte, renovou o sonho:

“Sonharia com um mundo novo
onde existisse em cada peito,
em cada alma de todo ser humano,
reinando absoluto o amor,
o amor caridade, o amor doação.

Sonharia com a fé que faz milagres
e que nos leva ao primeiro passo,
à decisão da primeira atitude
de quem resolve conquistar o mundo.”

Eis o que meu pai me ensinou sobre o natal.

O que adquiri além da psicodélica festa natalina não foi melhor compreensão cognitiva por meio da fantasia, mas razão de viver.

O que desejo a todos é mais foco na realidade a ser transformada que na fantasia.

Que a fé se converta em coragem e luta por justiça social.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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