Segunda-feira, 14 de março de 2016 - 14h11
O debate que se instalou nas redes sociais por conta da foto da babá empurrando o carrinho com duas crianças, num protesto, atrás dos patrões, uniformizada, reflete a superficialidade com que nos lançamos ao confronto de ideias.
A controvérsia, de um modo geral, se concentra no pode ou não pode da conduta dos patrões e em comparações esdrúxulas com negros que igualmente trabalham aos domingos.
A cena disse mais que isso, tanto que motivou o debate nacional e sobre isso não há controvérsia. Não foram os marcos recentes da CLT que promoveram a reflexão, mas o olhar de Gilberto Freyre sobre o país que precisou descrever em seu doutorado na Califórnia. O Brasil profundamente marcado por uma desigualdade que serviu como título de sua valiosa obra: Casa-Grande & Senzala.
Em sua narrativa amparada por diários de senhores de engenho, ele revelou ao mundo a raiz da nossa desigualdade social, pois segundo ele “o que houve no Brasil foi a degradação das raças atrasadas pelo domínio das adiantadas”.
A cena emblemática da babá nos remete à rotina da casa-grande, ao poder do patrão que não só pelo suor do seu trabalho, mas à custa de muito trabalho escravo era rico. Um retrato fiel do ontem e por analogia, de muitos patrões hoje. Como apontou Freyre na década de 30, reflete “uma sociedade agrária na estrutura, escravocrata da técnica de exploração econômica.” Isso não transfere ao casal a fidelidade da narrativa histórica, mas inconscientemente, como quero crer, representaram uma tela de Debret.
Que não se faça de besta o que não assume ser a manifestação exclusiva da classe média, porque a cena serviu como um marca-texto pra outras condutas típicas de uma casa-grande quando a direita se reúne.
As faixas e palavras de ordem contra programas sociais como o Bolsa Família, contra a adoção de cotas, a presença de políticos como Bolsonaro que estimula a discriminação por gênero no mercado de trabalho, enfim, corroboram com a leitura que muitos fizeram da cena.
Não dá pra resumir o debate com uma análise pura e simples à luz da norma trabalhista. É natural que numa manifestação se analise o público e a imagem reforça a visão de uma direita que faz de tudo pra se distinguir. Não estivesse a babá uniformizada, talvez ninguém percebesse que era babá. Na verdade, não houvesse essa cena, ainda assim a manifestação da direita saltaria aos olhos como de classe média, pois não haviam minorias ali representadas.
Uma amiga minha que levou a babá numa viagem disse que se arrependeu, porque quando ia comer num bom restaurante tinha que pagar de novo o jantar dela. “A gente comprava um lanche pra ela antes, mas chegava no restaurante ela ficava olhando pra nossa comida”.
Ela estava na manifestação, que pra mim, foi uma mistura de joio e trigo, de gente bacana com gente sacana, mas definitivamente, uma festa estranha com gente esquisita.
Luciana Oliveira
Empresária e jornalista
Ruanda vai taxar igrejas e acusa pastores de enganarem fiéis
Proliferação de igrejas neopentecostais no país africano levou governo de Paul Kagame a acusar pastores de “espremerem dinheiro” de ruandeses mais pob
Levante feminista realiza encontro nacional para frear violência contra as mulheres
Luciana Oliveira, de Brasilia – Mais de 130 mulheres vindas de 20 estados do país participaram do evento em Brasília que durou três dias.Foram intensa
Quilombolas vencem eleição para prefeito em 17 cidades
Candidatos que se declararam quilombolas venceram as eleições para prefeito em 17 municípios, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).A ma
Incêndio criminoso eleva tensão em terra indígena Igarapé Lage
No 247 – A terra indígena Igarapé Lage, do povo Wari é uma ilha cercada por fazendas. Tem mais de 107 mil hectares e fica no Oeste do Estado, próxima