Domingo, 13 de julho de 2014 - 21h39
Ninguém protestou, ninguém podia protestar, diz jornalista
O jornalista Ciro Pinheiro, do Alto Madeira, narrou como foi o fim da Madeira-Mamoré:
Porto Velho, um dia qualquer do começo do ano de 1972. No Café Santos, na esquina da Sete de Setembro com a Prudente de Morais, local onde políticos, jornalistas, gente do governo e os que nada tinham a fazer, apareciam para discutir e curtir uma boa fofoca.
Começava uma tarde quente quando correu a notícia de que a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré seria desativada, por completo, pelo governo federal. Sem a preocupação de colher detalhes, fui rapidamente para a redação do jornal Alto Madeira, na Barão do Rio Branco e, usando uma velha “Remington 33”, a minha máquina preferida, produzi a notícia que, com certeza, iria causar comoção, agitação e revolta do povo portovelhense.
“O Apito Final”, foi a manchete principal da edição do dia seguinte do velho Alto Madeira, o mais acreditado jornal da cidade. A edição foi rapidamente esgotada e, logo, a inacreditável e indesejável novidade já se espalhava em toda a cidade, causando muito alvoroço e muita revolta calada. Ninguém protestou. Ninguém podia protestar.
Naquele tempo, sem internet nem televisão, os jornais impressos eram esperados para confirmação, detalhada, dos acontecimentos mais importantes. No começo do mês de julho, os jornais da cidade - Alto Madeira e O Guaporé - divulgavam uma nota da administração da ferrovia convidando a população para a solenidade de extinção da Madeira-Mamoré, marcada para o dia 10 de julho.
Exatamente às 19h30min do dia 10 de julho de 1972 as velhas locomotivas que estavam no pátio da ferrovia, na margem do Rio Madeira, badalaram seus sinos e acionaram seus apitos por cinco “longos minutos”, num adeus tristonho aos 50 mil habitantes de Porto Velho, encerrando 60 anos de atividades ao longo dos 366 quilômetros que ligam a capital do Território Federal de Rondônia à cidade de Guajará-Mirim, na fronteira com a Bolívia. “Era o fim melancólico da Madeira-Mamoré, ferrovia que marcou época na vida econômica de Rondônia”, como bem escreveu Manoel Rodrigues Ferreira em “A Ferrovia do Diabo”. O povo não escondia a revolta e os velhos ferroviários ainda sem acreditar no que estava acontecendo.
Ciro Pinheiro (de frente) deu o furo da desativação.
Concretizou-se o fim da ferrovia, que durante muito tempo levou o progresso para dezenas de localidades e transportou toneladas de borracha, castanha, peles silvestres e tantos outros produtos produzidos não somente pelos brasileiros, mas também pelos bolivianos.
Cearense, acostumado com a tristeza dos tempos de seca no sertão nordestino, não resisti, ao ver velhos ferroviários, a maioria vinda das ilhas caribenhas de Barbados e Granada, deixarem, sem demonstrar vergonha, as lágrimas banharem o rosto.
Minha matéria, na edição do dia 11 de julho, no Alto Madeira, espelhou meu sentimento, meu desgosto. Eu só não imaginava que, depois de tantos anos, minha tristeza voltaria a aflorar ao ver, quase sempre, velhos vagões abandonados destruídos pela intempérie desta região, perdidos no meio do mato, poucos, porque muitos foram vendidos como ferro velho, para longe daqui.
Há, ainda, uma ponta de esperança na reativação, mas isto é apenas um sonho. Encerro com um pouco do saudoso acadêmico, o querido poeta Bolívar Marcelino:
“Desativaram uma Estrada,
Consumou-se uma decisão
Destruíram uma Ferrovia,
Sem motivo e sem razão,
Esqueceram-lhe a história,
E seus momentos de glória,
Rolaram tristes no chão...!”
Ivo Feitosa: saudades da viagem que era uma festa
O jornalista Ivo Feitosa, colunista do site gentedeopiniao.com.br nasceu em Abunã mas viajava sempre pela ferrovia e contou da frustração de todos:
Eu não presenciei o tão comentando o derradeiro apito da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (EFMM) dando o adeus à lendária estrada férrea. Eu, por ter nascido no Distrito de Abunã (km 220 EFMM) onde meus pais trabalharam por muito tempo, vivenciei o grande trajeto da viagem dos 365 km, ligando Porto Velho a Guajará-Mirim.
Ivo Feitosa
A viagem era uma festa. Recordo dos almoços acontecidos em Jacy Paraná (na ida) e Vila Murtinho (na volta) onde todos se misturavam procurando o melhor local para a refeição das 12h. Mesmo com as dificuldades que na época existiam a hoje extinta EFMM é lembrada com saudades, não só pelas famílias dos ex-ferroviários, como por todos os que usaram aquele transporte.
Lembro muito bem dos comentários que surgiram em nossa Porto Velho. Muitos choraram e o desespero era visível nos rostos de todos que ali no pátio da estação férrea viam a composição no seu último passeio na velha locomotiva, uivando o adeus ainda mais triste e fúnebre. Era o fim de uma época, a EFMM se curvava diante dos burocratas de plantão no Palácio do Planalto, perdendo-se assim parte da nossa história.
As décadas se passaram e nada foi feito pela preservação do acervo histórico, pelos órgãos competentes cuja responsabilidade era a de zelar pelo que restou da velha ferrovia. E tudo foi acontecendo . . . o trecho até Santo Antonio do Rio Madeira foi reativado, era uma tentativa de não se perder toda uma história de bravura, coragem e determinação de trabalhadores vindos de várias partes do Mundo, desbravando a floresta amazônica, no início do século passado.
No pequeno trecho (7 Km) as recordações vinham à mente dos passageiros/turistas , com o sonoro apito no início e fim da pequena viagem. Muitas famílias utilizavam essa opção de lazer e para Santo Antonio do Rio Madeira se dirigiam, fazendo piquiniques se reunindo próximo às gigantescas pedras à margem do caudaloso rio Madeira e ali ficavam durante toda dia, apreciando as belezas da natureza.
Hoje o cenário é outro . . .Veio a enchente/2014 e todo complexo ferroviário foi atingido e as imagens são fortes: destruição, abandono, falta de zelo, falta de interesse, falta de conhecimento sobre a nossa história. Com isso a “identificação histórica” dos porto-velhenses chega ao FIM.
Lamentável ! Muitas promessas foram feitas, de projetos, recursos, assessorias “que vamos fazer, que vamos realizar” e jogando responsabilidade de um órgão para outro, e nada é cumprido e executado.
O que fazer ?
Lúcio Albuquerque
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