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Lucio Albuquerque

1964 em RO (10) - Voto distrital à moda rondoniense, e como fazer um deputado em 20 dias


Câmara Municipal de Porto Velho – em 1970, quando foi reinstalada depois de 40 anos fechada, os vereadores reuniam no gabinete do prefeito - Gente de Opinião
Câmara Municipal de Porto Velho – em 1970, quando foi reinstalada depois de 40 anos fechada, os vereadores reuniam no gabinete do prefeito

Em 1969, com dois municípios, houve eleição no Território, para as Câmaras, no caso de Porto Velho, que escolheria, mais de 40 anos depois da última eleição, nove vereadores, e em Guajará-Mirim pela primeira vez, seriam cinco. Todos os que tomaram posse a  31 de janeiro de 1970, eram homens.

O município de Porto Velho se estendia desde a divisa com o Acre até a divisa de Rondônia com Mato Grosso, mas a votação pesada foi só na cidade sede, e o melhor votado, o comerciante Anísio Goraieb, foi também o primeiro presidente no retorno do Poder Legislativo que se reunia dentro do gabinete do Prefeito. As vilas existentes ao longo da rodovia no sentido de Mato Grosso não tiveram candidatos. A Arena foi a vencedora na capital, mas perdeu em Guajará para o MDB que elegeu 3 vereadores, Salomão Silva, Salomão Justiniano de Melgar e Manoel Mendes Filho, e a Arena dois, Quintino Augusto de Oliveira e Clodoaldo Moura Palha. Naquela eleição, dois fatos marcantes em Porto Velho foram a renúncia do vereador mais votado, Anísio Gorayeb, também presidente do legislativo municipal, para assumir a presidência da Caerd; e a cassação, e o retorno, do folclórico vereador Edgar Lobo de Vasconcelos. 

Osmar Vilhena, radialista mais conhecido em Porto Velho, eleito vereador em 1972, “caroneou” quatro candidatos para seu partido, o PMDB fazer maioria e foi cassado por eles - Gente de Opinião
Osmar Vilhena, radialista mais conhecido em Porto Velho, eleito vereador em 1972, “caroneou” quatro candidatos para seu partido, o PMDB fazer maioria e foi cassado por eles

Na  eleição de 1972 um fenômeno: o radialista Osmar Vilhena, que mantinha o programa de maior audiência na única emissora local,  a Rádio Caiari, foi eleito com tanatos votos que “puxou” os outros quatro vereadores da  bancada majoritária, a do MDB, e que dois anos depois tramariam sua cassação, supostamente por manipulação do único deputado federal do Território, o goiano Jerônimo Santana, supostamente temeroso do crescimento eleitoral de Osmar Vilhena, que sempre negou tivesse intenção, àquela altura, de disputar a vaga. Outra versão é a de que Vilhena teria cometido “infidelidade partidária”. Essa citação nunca foi confirmada pelo vereador nem tampouco por Jerônimo, reeleito em 1974 e 1978.

A partir de 1975 Jerônimo mandava distribuir um boletim quinzenal com seus pronunciamentos em Brasília, e começou um trabalho de desconstrução de quatro dos cinco vereadores do MDB – Cloter Mota, Luís Lessa, Abelardo Castro e Paulo Struthos, denunciando suposta ligação entre eles e mais o secretário-geral regional Enjolras Araújo Velloso ao governador Humberto Guedes, o que levou na disputa eleitoral de 1976 a que o MDB, presidido por Jeronimo, se dividisse em duas alas, uma formada pelos “rebeldes” – que acabou elegendo Cloter, Abelardo e Paulos Struthos, enquanto do grupo conduzido pelo deputado só elegeria um, o advogado Itamar Moreira Dantas, a primeira derrota política do Dr. Bengala.

Na disputa de 1976 pela primeira vez os distritos ao longo da BR-364 elegeram representantes – 7 dos 14 novos vereadores, e pela primeira vez Porto Velho elegeria uma mulher, a professora Marise Castiel, enquanto em Guajará-Mirim  a professora Eliethe Morhy foi reconduzida. Naquela eleição começou o domínio político em Rondônia por parte das então vilas e depois municípios  ao longo da rodovia BR-364. Era nossa experiência com o que eu passei a chamar “voto distrital à moda rondoniense”, o que fez com que em nove eleições para governador seis dos eleitos tinham/têm domicílio eleitoral no interior. 

Já em 1978, nova eleição para deputado federal, a única em que foram escolhidos dois. Cada partido tinha direito a indicar quatro candidatos e os mais votados seriam eleitos. Os “caciques” dos dois lados, Jerônimo (MDB) e Odacir Soares (Arena) anunciaram os escolhidos. Ainda irritado com a derrota imposta a ele pelos “rebeldes” em 1976, o Dr. Bengala não aceitou o pedido de colocar o vereador Abelardo Castro na lista, indicando a si próprio e outros três. Os “rebeldes” foram com uma chapa fechada para a convenção:  Abelardo, Struthos e Cloter, al[em de Jerônimo que era o chamado “candidato nato”. Fim da votação, derrota de Jerônimo, mas no dia seguinte dois dos rebeldes renunciaram, ficando só Abelardo.

Na Arena a indicação dos candidatos não teve problema. Odacir deu uma vaga para o municipal de Guajará-Mirim indicar, o bancário Isaac Nílton e as três outras vagas preenchidas por Odacir e mais dois de sua escolha. Odacir sabia que ele iria disputar a segunda vaga, porque a primeira já era cativa de Jerônimo. Odacir e o governador Humberto Guedes não se davam bem, mas Guedes não queria participar da campanha, até que a três semanas antes do pleito, ele teria recebido uma ordem de Brasília – na entrevista que fiz com ele n capital federal em 2005 ele não confirmou, mas não negou – para dar apoio a uma candidatura, ele e o capitão Sílvio Faria, da coordenação do Incra  no Território. O escolhido foi Isaac Nílton que, com apoio dos dois, ficou com a segunda vaga.

Foi a primeira participação efetiva do Incra na política rondoniense, mas isso é outra história.

Na próxima quinta-feira, “O legado de 64 para Rondônia”, fim da série.

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Governador Humberto Guedes (1975/79) aí contando votos de moradores da “velha” Ariquemes sobre a proposta de abrir a nova cidade de Ariquemes
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Isaac Nílton, eleito deputado federal em 1978, numa campanha onde contou com apoio direto do Incra e do governador Guedes

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