Domingo, 5 de julho de 2020 - 13h26
Em 1969, com dois municípios, houve eleição no Território, para as Câmaras, no caso de Porto Velho, que escolheria, mais de 40 anos depois da última eleição, nove vereadores, e em Guajará-Mirim pela primeira vez, seriam cinco. Todos os que tomaram posse a 31 de janeiro de 1970, eram homens.
O município de Porto Velho se estendia desde a divisa com o Acre até a divisa de Rondônia com Mato Grosso, mas a votação pesada foi só na cidade sede, e o melhor votado, o comerciante Anísio Goraieb, foi também o primeiro presidente no retorno do Poder Legislativo que se reunia dentro do gabinete do Prefeito. As vilas existentes ao longo da rodovia no sentido de Mato Grosso não tiveram candidatos. A Arena foi a vencedora na capital, mas perdeu em Guajará para o MDB que elegeu 3 vereadores, Salomão Silva, Salomão Justiniano de Melgar e Manoel Mendes Filho, e a Arena dois, Quintino Augusto de Oliveira e Clodoaldo Moura Palha. Naquela eleição, dois fatos marcantes em Porto Velho foram a renúncia do vereador mais votado, Anísio Gorayeb, também presidente do legislativo municipal, para assumir a presidência da Caerd; e a cassação, e o retorno, do folclórico vereador Edgar Lobo de Vasconcelos.
Na eleição de 1972 um fenômeno: o radialista Osmar Vilhena, que mantinha o programa de maior audiência na única emissora local, a Rádio Caiari, foi eleito com tanatos votos que “puxou” os outros quatro vereadores da bancada majoritária, a do MDB, e que dois anos depois tramariam sua cassação, supostamente por manipulação do único deputado federal do Território, o goiano Jerônimo Santana, supostamente temeroso do crescimento eleitoral de Osmar Vilhena, que sempre negou tivesse intenção, àquela altura, de disputar a vaga. Outra versão é a de que Vilhena teria cometido “infidelidade partidária”. Essa citação nunca foi confirmada pelo vereador nem tampouco por Jerônimo, reeleito em 1974 e 1978.
A partir de 1975 Jerônimo mandava distribuir um boletim quinzenal com seus pronunciamentos em Brasília, e começou um trabalho de desconstrução de quatro dos cinco vereadores do MDB – Cloter Mota, Luís Lessa, Abelardo Castro e Paulo Struthos, denunciando suposta ligação entre eles e mais o secretário-geral regional Enjolras Araújo Velloso ao governador Humberto Guedes, o que levou na disputa eleitoral de 1976 a que o MDB, presidido por Jeronimo, se dividisse em duas alas, uma formada pelos “rebeldes” – que acabou elegendo Cloter, Abelardo e Paulos Struthos, enquanto do grupo conduzido pelo deputado só elegeria um, o advogado Itamar Moreira Dantas, a primeira derrota política do Dr. Bengala.
Na disputa de 1976 pela primeira vez os distritos ao longo da BR-364 elegeram representantes – 7 dos 14 novos vereadores, e pela primeira vez Porto Velho elegeria uma mulher, a professora Marise Castiel, enquanto em Guajará-Mirim a professora Eliethe Morhy foi reconduzida. Naquela eleição começou o domínio político em Rondônia por parte das então vilas e depois municípios ao longo da rodovia BR-364. Era nossa experiência com o que eu passei a chamar “voto distrital à moda rondoniense”, o que fez com que em nove eleições para governador seis dos eleitos tinham/têm domicílio eleitoral no interior.
Já em 1978, nova eleição para deputado federal, a única em que foram escolhidos dois. Cada partido tinha direito a indicar quatro candidatos e os mais votados seriam eleitos. Os “caciques” dos dois lados, Jerônimo (MDB) e Odacir Soares (Arena) anunciaram os escolhidos. Ainda irritado com a derrota imposta a ele pelos “rebeldes” em 1976, o Dr. Bengala não aceitou o pedido de colocar o vereador Abelardo Castro na lista, indicando a si próprio e outros três. Os “rebeldes” foram com uma chapa fechada para a convenção: Abelardo, Struthos e Cloter, al[em de Jerônimo que era o chamado “candidato nato”. Fim da votação, derrota de Jerônimo, mas no dia seguinte dois dos rebeldes renunciaram, ficando só Abelardo.
Na Arena a indicação dos candidatos não teve problema. Odacir deu uma vaga para o municipal de Guajará-Mirim indicar, o bancário Isaac Nílton e as três outras vagas preenchidas por Odacir e mais dois de sua escolha. Odacir sabia que ele iria disputar a segunda vaga, porque a primeira já era cativa de Jerônimo. Odacir e o governador Humberto Guedes não se davam bem, mas Guedes não queria participar da campanha, até que a três semanas antes do pleito, ele teria recebido uma ordem de Brasília – na entrevista que fiz com ele n capital federal em 2005 ele não confirmou, mas não negou – para dar apoio a uma candidatura, ele e o capitão Sílvio Faria, da coordenação do Incra no Território. O escolhido foi Isaac Nílton que, com apoio dos dois, ficou com a segunda vaga.
Foi a primeira participação efetiva do Incra na política rondoniense, mas isso é outra história.
Na próxima quinta-feira, “O legado de 64 para Rondônia”, fim da série.
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