Quinta-feira, 11 de junho de 2020 - 09h50
Durante mais de 20
anos dois grupos políticos se revezaram no poder no Território, numa disputa
quase fratricida, entre 1946, quando aconteceu a primeira eleição para deputado
federal até 1967, quando o pluripartidarismo foi substituído pelo bipartidarismo
– a ARENA, governista, e o MDB ou, como também foi chamado, “oposição
consentida” que garantiram a ideia do bipartidarismo no Brasil.
E como começou tudo:
Desde que o presidente Getúlio Vargas criou o
Território do Guaporé em 1943, juntando uma pequena parcela de terras do
Amazonas, e mais de 90% de Mato Grosso, teria começado ali um grupo que não
queria aceitar isso, ainda mais que a capital ficou em Porto Velho, porque os
comerciantes e outras lideranças do vale do Guaporé, que em 1937 tentaram
convencer Getúlio a criar o Território só com terras de Mato Grosso não
gostaram da decisão.
Esron Menezes tinha
outra teoria, de que tudo começara quando Aluízio decidiu deixar om governo e
sair candidato a deputado federal. Definida a candidatura Aluízio teria ido
embora para o Rio de Janeiro, esperar penas o resultado da eleição, o que
deixara irritadas algumas pessoas, incluindo o funcionário Abnatal Lima, pai do
historiador Abnael Machado do Lima e o médico Osvaldo Piana, pai do único
governador do Estado nascido em Rondônia o também médico Osvaldo Piana.
O grupo decidiu
lançar uma candidatura diferente e o escolhido foi a maior liderança que o
Guaporé tinha, o comerciante Paulo Saldanha, que perdeu a eleição, ou foi
“tomada”, como afirma seu sobrinho Paulo Cordeiro Saldanha e dizia o
historiador Abnael Machado de Lima, logicamente negado elos partidários de
Aluizio, como Esron e o músico Walter Bártolo, que em entrevista concedida ao
autor, em companhia do historiador Francisco Matias e o poeta Adaídes – Dadá – dos
Santos, garantia que a eleição havia sido limpa.
Mas a briga entre cutubas e peles curtas só apareceria bem mais tarde, a
partir da eleição de 1954, quando o ex-apadrinhado de Aluízio, Joaquim
Vicente Rondon ganhou a disputa e se tornou o terceiro deputado federal do
Território. Li se teriam formado as duas correntes, a “aluizista” e
“rondonista”. No período duas correntes se formaram no Território, uma liderada
pelo coronel Aluízio Ferreira, grupo chamado “cutuba”, e outra pelo coronel
Joaquim Rondon – depois pelo médico Renato Medeiros, grupo chamado “pele
curta”. Não havia uma justificativa para os apelidos dos dois grupos. “Cutuba”,
diziam os peles-curtas, seria a junção de duas palavras de uma língua
indígena da região. “Tuba”, significaria “doce”. A sílaba antecedente teria o
significado ficando ao gosto do freguês e, juntando os dois....
Já o epíteto “pele-curta” seria em razão dos membros desse grupo não
poderiam sorrir, porque deixaria sair pelo cóccix os chamados “dejetos
humanos”.
Foi uma época em que era o deputado federal quem indicava o governador –
como dizem atualmente fazendeiros rondonienses, o ganhador levava tudo, “de
porteira fechada”. Quem perdia a eleição ficava no ostracismo social e
político. A Justiça era representada pelo único juiz e um promotor, às vezes,
poucas vezes, dois de cada. Não havia o que hoje se chama de “direitos”, até
porque qualquer apelação tinha de ser mandada à Segunda Instância, até 1961 no
Rio de Janeiro, e, depois, em Brasília, o que continuou até 1982, quando foram
criados o Poder Judiciário e o Ministério Público estaduais. Literalmente
vigorava a lei do mais forte – às vezes não só politicamente.
Quem viveu aqueles tempos lembra: Disputa eleitoral no Território era um
combate sujo, porque o ganhador teria nas mãos o direito de nomear governador,
os dois prefeitos, remanejar funcionários, por exemplo, transferir o marido ou
a mulher para Tabajara, no Rio Machado e um dos dois para Costa Marques,
destruindo a família.
A passeata da vitória era um inferno para quem perdia. A professora
Sandra Castiel, na biografia de sua mãe a professora Marise Castiel, narra que
em 1958 os partidários de Aluízio Ferreira apedrejaram a casa da família,
porque o casal Rafael/Marise Castiel fizeram campanha para o candidato derrotado
Renato Medeiros. A passeata dos vencedores era fato comum, e naquele dia os
partidários de Aluízio tentaram invadir a casa da família. “Meu pai pegou um
revólver, foi para a janela e fez vários disparos para o ar. Só assim a turba
foi embora”. Isso foi apenas um dos muitos episódios.
Das seis eleições para deputado federal, no período, os cutubas ganharam
quatro (1946, 1950, 1958 e 1966) e os pele curta duas (1954 e 1962). Aluízio
era uma espécie de “soba”. Cair em desgraça com ele era querer sofrer. Mas nas
vezes que os adversários ganhavam a eleição, como aconteceu em 1954 ou 1962,
era dado o troco, apesar que muitas vezes o grupo de Aluízio conseguia dar um
jeito. Em seu livro “Professora Marise Castiel e Rondônia – Educação, Política
e Cultura” a escritora e acadêmica Sandra Castiel, conta que seus pais eram
amigos de Aluízio, mas quando passaram a apoiar os adversários, houve
retaliações, também contadas pelo aluizista Esron Penha de Menezes que por
apoiar os cutubas ele foi transferido para a região do Rio Machado e a esposa,
dona Vitória, ficou trabalhando em Porto Velho.
Em 1958 Aluízio foi eleito para seu terceiro (e último) mandato aos 61
anos de idade. “Aluízio entrou na disputa parecendo apenas para provar sua
liderança política”, diz o historiador Anísio Goraieb, “e provou isso”.
Em 1962 os cutubas lançaram candidato, indicado por Aluízio, o
ex-governador Ênio Pinheiro, contra o médico Renato Clímaco de Medeiros,
ex-aliado político de Aluízio, então líder dos peles-curtas, que
foi eleito. O jornalista Euro Tourinho, em conversa com o autor,
afirmou várias vezes que a vitória de Renato teria sido facilitada devido ao
episódio conhecido por “Caçambada Cutuba”, na noite de 26 de
setembro de 1962, quando uma caçamba da prefeitura invadiu um comício de
Renato e causou muitos ferimentos. Alguns eleitores cutubas teriam então mudado
seus votos, o que desequilibrou, conforme Euro, a balança a favor da oposição.
O gráfico Zé Paca
contava que sentiu na carne o que era ser oposição. Indicado para fiscal de um
partido político na eleição de 1958, Zé Paca foi para uma vila na margem do
Madeira. Chegou sábado, havia um festa patrocinada pelo seringalista, amigo de
Aluízio. Paca ficou na festa pouco tempo e não aceitou o convite para jantar na
casa do dono da casa, foi bem cedo para onde a urna estava. “Passei o dia lá,
em cima da urna, não fui almoçar e depois de fechar a urna fui dar uma mijada
numas bananeiras; depois a viagem toda de volta sem pregar o olho”. Na hora que
abriram a urna, uma surpresa: “Nem meu voto estava lá. Foi tudo do coronel
Aluízio. Tinham emprenhado a urna”. Em meu livro “A Cesta Página de um
Repórter” conto algumas dessas histórias (ou estórias?). Por exemplo.
Urnas ao Rio – Contar os votos da eleição era demorado no tempo dos cutubas e
peles curtas. Muitas urnas demoravam tanto a chegar, trazidas em lombos de
burros dos distantes seringais, que nem serviam mais para o resultado final.
Num desses casos a
comitiva vinha de um seringal na região de Vila Rondônia, mas quando chegou na
travessia do Candeias encontraram outra, indo para lá. Pararam para tomar uma
pinga e o que ia com as urnas perguntou aos outros: “E aí, como está a
eleição”. Ao saber que “o nosso lado ganhou”, o perguntador mandou jogar as
urnas no rio “porque não servem pra mais nada”. E retornaram.
Falha ao emprenhar – Qualquer urna impugnada tinha de ser
mandada para ser aberta na sede do Tribunal, no Rio de Janeiro até 1960 e
daí em diante a Brasília. Era o ano de 1954. Um funcionário da Justiça levava a
urna e toda a documentação, acompanhado de fiscais dos dois candidatos, Aluízio
Ferreira, que tentava seu terceiro mandato, e Joaquim Rondon. O avião
pernoitava em Cuiabá e os dois fiscais dos candidatos ficaram no mesmo hotel do
condutor.
Quando a urna foi
aberta, estava como saíra de Porto Velho. Na volta o funcionário explicou: “Eu
“tava” abrindo a urna e alguém bateu na porta. Fechei tudo e só levantei na
hora de pegar o avião”. Segundo
quem me contou, a urna teria
sido impugnada pelo candidato perdedor, e a diferença de votou foi re3sultado
da urna impugnada.
O depósito “inviolável”– As urnas eram guardadas numa casa da
Prudente de Moraes (onde depois foi instalado o museu da Justiça
Eleitoral). Acesso só pela frente. Ninguém entrava nem saía. Mas o dono de uma
das casas laterais era cutuba. Contava o jornalista Rochilmer Rocha que à noite
uma pessoa tinha acesso por trás, entrava no local onde as urnas “dormiam”,
fazia o emprenhamento e depois saía pelo caminho anterior.
Na frente, noite toda
a guarda era feita pelo Exército, que nem permitia passar na calçada e do outro
lado da rua, partidários dos dois lados faziam o “velório” até que o juiz
chegasse e a contagem dos votos fosse iniciada, mas aí.....
Galeria de Imagens
* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.O DIA NA HISTÓRIA - 25 de novembro de 2024 - BOM DIA!
RONDÔNIA1955 – Já se encontra no Ministério do Trabalho a documentação para ser instalado o Sindicato dos Trabalhadores de Porto Velho. 1967 – Muitas
O DIA NA HISTÓRIA - 24 de novembro de 2024 - BOM DIA!
RONDÔNIA1918 – Tripulantes e passageiros do vapor “São Luiz”, vindo de Manaus, alguns com sintomas de gripe “espanhola”, foram colocados em quarentena
O DIA NA HISTÓRIA - 23 de novembro de 2024 - BOM DIA!
RONDÔNIA1947 – A prefeitura iniciou a colocação de placas indicadoras de ruas e quadras de Porto Velho. 1955 – A empresa “Loide Aéreo” anuncia uma li
O DIA NA HISTÓRIA - 22 de novembro 2024 - BOM DIA!
RONDÔNIA 1917 – Afixada em todas as estações da Madeira-Mamoré a proclamação do presidente Wenceslau Braz: apesar do país estar em guerra contra a Ale