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Lucio Albuquerque

1964 EM RONDÔNIA (7) - O “canto do cisne” de Aluízio que não deixou linha política sucessória


Paulo Leal, centro, eleito deputado federal em 1966 renunciou e não conseguiu se candidatar em 1970 - Gente de Opinião
Paulo Leal, centro, eleito deputado federal em 1966 renunciou e não conseguiu se candidatar em 1970

Aluízio Ferreira disputou sua última eleição em 1958 (ganhou em 1947 e em 1950, perdeu em 1954), aos 61 anos, quando ganhou sua última disputa, pela legenda do PTB, com 3.660 votos tendo como adversário seu ex-aliado o médico Renato Medeiros, cujo período de pré-campanha foi complicado porque o ex-governador Araújo Lima, cuja administração fora pontilhada de grandes obras, decidiu lançar seu nome para disputar contra Aluízio (que transformara sua nova candidatura a um espécie de “julgamento de sua passagem pelo Território”, depois da derrota de 1954 para outro seu ex-aliado, o ex-governador Joaquim Vicente Rondon).

Araújo Lima, segundo o jornalista Euro Tourinho e o historiador Esron Menezes, era um intelectual, autor da letra do poema Céus do Guaporé, que a partir da criação do Estado foi sagrado como o Hino Oficial de Rondônia, fez um  bom trabalho quando governou, era bem aceito pela comunidade mas, conforme o funcionário público Walter Bártolo, “não tinha sangue nos olhos” quando o assunto era política. Depois de amealhar várias lideranças para a campanha, inclusive o importante apoio da professora Marise Castiel e seu marido Raphael.

Na biografia de Marise, sua filha Sandra conta que a mãe arregimentou lideranças e vários cabos eleitorais para alavancar o nome de Araújo Lima, mas, como se diz na área política, “não decolava”, e Araújo Lima decidiu retirar dizendo que havia sido “traído”.

Sem ter adversário na convenção, Renato Medeiros  ganhou a indicação mas um grupo considerável de partidários de Araújo Lima teriam mudaram de lado e Aluízio venceu novamente, mas Renato reorganizou a oposição ao “cacique” e quatro anos depois, quando Aluízio se aposentou e decidiu lançar seu primo, o ex-governador do Guaporé Ênio Pinheiro, que já não conseguiu ganhar o eleitorado e ficou pior porque no último comício da campanha, quando uma caçamba da prefeitura invadiu o espaço dos “renatistas” e causou muitos acidentes, repetiu-se o que ocorrera quatro anos antes, porque partidários de Aluízio, que não aceitavam a candidatura de Ênio Pinheiro e muito menos com aquela violência, votaram  no líder dos pele-curtas, que já estava muitos pontos à frente na campanha.

Em 1962, como se fosse um “canto do cisne”,  Aluízio apresentou um projeto criando o Estado de Rondônia, não foi adiante e um fator teria sido que naquele mesmo ano foi aprovada a criação do Estado do Acre.  Aluízio encerrou seu último mandato na Câmara Federal mas continuou articulando em Brasília e  no Rio de Janeiro. No Território, seu grupo ficou num vácuo porque, como a imensa maioria dos líderes que “olham para o próprio umbigo”, ele não preparou um substituto.

Derrotado, na condição de fiador da campanha de Ênio Pinheiro, Aluízo teria, conforme a acusação dos peles-curtas,  usado de amizades com seus ex-companheiros de farda, em 1964, pra conseguir a cassação  do deputado Renato Medeiros, inclusive, conforme ouvi várias vezes, o nome de Renato teria sido colocado à mão na lista original de cassados. Com Renato substituído pelo suplente Hegel Morhy, mas não tendo o mesmo carisma que o titular, e sem um nome capaz de formar uma liderança fora capaz de levar adiante o legado de Aluízio, ambos os lados ficaram órfãos, politicamente falando.  Hegel se tornaria o primeiro guajaramirense a chegar a deputado federal, mas em 1966  não conseguiu novo mandato e encerou aí sua carreira política.

Em 1960 o presidente Juscelino Kubistchek mandou abrir a rodovia BR-29 (BR-364), começando um novo e muito importante capítulo na história não só para Rondônia, mas, também, para a própria Amazônia Ocidental. Aquela década de 1960 foi marcada por uma mobilização que juntou estudantes, dirigentes de entidades comunitárias, jornalistas e praticamente toda a sociedade, o movimento próprio, surgindo aí o movimento pela criação da unidade federativa Pró-Rondônia Estado.

Em 1965 o Governo perdeu eleições para governador em dois grandes colégios eleitorais do país, Negrão de Lima venceu no Estado da Guanabara e Israel Pinheiro em Minas. Foi editado o Ato Institucional nº 2, acabando com os partidos surgindo aí só dois, a Arena, umbilicalmente ligada ao governo, e o MDB, uma espécie de oposição consentida.

Em Rondônia, onde as duas principais, talvez únicas lideranças políticas, estavam fora de cogitação, Aluízio aposentado e Renato Medeiros cassado, a Arena lançou candidato em 1966 o ex-governador Paulo Leal, e o MDB confirmou a candidatura de Hegel Morhy, que tentava a eleição. Hegel perdeu.

Paulo Leal teve 4.352  votos, menos de 400 que Renato levou quatro anos antes. Leal renunciou ao mandato e em 1970 tentou ser candidato, mas levou o que em política da época se chamava “uma rasteira” que abriu espaço para a ascensão de um ilustre desconhecido, o goiano Jerônimo Garcia de Santana.

 

Mas isso é outra história.

Um ano antes, em 1969, pelo decreto-lei 411, assinado pelo presidente Costa e Silva, autorizava  a realização de eleições para vereadores – sem direito a salário ou qualquer outa ajuda financeira – e pela primeira vez Guajará Mirim, que era município desde 1928, teria eleição.  Porto Velho teve sua primeira escolha de vereadores (então chamados “intendentes”) em 1915. Eleitos em 1969, sob a presidência do mais votado, o arenista Anísio Goraieb, a Câmara Municipal se reunia no gabinete do prefeito.

No ano seguinte haveria eleição para a única vaga de deputado federal do Território.  Apesar de ter renunciado ao mandato para o qual fora eleito em 1966, o ex-governador Paulo Leal resolveu se lançar candidato à vaga pela Arena. O jornalista e advogado Rochilmer Rocha contava que Leal estaca tão certo da vitória na convenção, devido ao trabalho que seria feito pelos seus amigos em Porto Velho, que praticamente não apareceu no Território para a campanha.

Várias vezes Rochilmer relembrava essa história. Paulo Leal depois de renunciar, sumira. Em 1970 visitou o Território e se lançou  candidato, mas muitos seus eleitores lembravam que ele não ficara como deputado como fora eleito em 1966, e faziam restrições a seu nome. A convenção fora marcada para um domingo. “O Paulo chegou no voo da Cruzeiro do Sul e fomos recebe-lo no aeroporto. Estava muito sol. Quando ele veio, imaginando que a comitiva viera para iniciar uma carreata da campanha, recebeu a notícia”.

A convenção tivera antecipada seu horário de encerramento, das 16 para 12 horas. A ata estava fechada e os convencionais haviam eleito outro nome. “Deram uma rasteira  no coronel Paulo e muitos eleitores dele se bandearam para o outro candidato, do MDB”. Naquele ano ninguém conseguia no MDB aprovar um nome. Sem outro, a convenção resolveu lançar na disputa um filiado que chegara O Território dois anos antes. Seu nome: Jerônimo Garcia de Santana, que sempre andava com uma bengala e por isso passara a ser  chamado “Doutor Bengala”. Começava ali uma nova era na política do Território.

Galeria de Imagens

  • Porto Velho teve sua primeira escolha de vereadores (então chamados “intendentes”) em 1915
    Porto Velho teve sua primeira escolha de vereadores (então chamados “intendentes”) em 1915
  • Araújo Lima foi bom governador, tentou ser a terceira via em 1958 mas “não tinha sangue nos olhos” para ser político.
    Araújo Lima foi bom governador, tentou ser a terceira via em 1958 mas “não tinha sangue nos olhos” para ser político.
  • Para o jornalista Rochilmer Rocha, “deram uma rasteira” em Paulo Leal e beneficiaram Jerônimo na disputa de 1970
    Para o jornalista Rochilmer Rocha, “deram uma rasteira” em Paulo Leal e beneficiaram Jerônimo na disputa de 1970
  • Jerônimo Santana, o Dr. Bengala, abriu em 1970 um novo tempo político em Rondônia
    Jerônimo Santana, o Dr. Bengala, abriu em 1970 um novo tempo político em Rondônia

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