Segunda-feira, 12 de maio de 2008 - 14h14
ALUÍZIO FERREIRA – o Homem e o Mito
(Bragança/PA 12.5.1897 – Rio de Janeiro 19.12.1980)
Não posso falar sobre a figura de Aluízio Ferreira, porque quando cheguei aqui ele já havia morrido.
A frase, conforme várias testemunhas, teria sido dita por uma importante autoridade estadual, quando convidado a falar, durante a sessão do Instituto Histórico e Geográfico de Rondônia, em homenagem ao centenário do nascimento de Aluízio.
Para muitos pode parecer estranho que uma autoridade faça tal afirmação, demonstrando desconhecer inteiramente a maior figura política que Rondônia já teve, mas num Estado em que a História, com seus fatos e personagens, é colocada de lado, não é de muito admirar. Apenas a lamentar.
Aluízio Ferreira (de farda e capacete) mostra a Getúlio Vargas o projeto da rodovia que, mais tarde, seria a BR-364 |
A FIGURA
Segundo o historiador Francisco Matias, em Pioneiros –Ocupação Humana e Trajetória Política de Rondônia, Aluízio Pinheiro Ferreira nasceu em Bragança (PA) a 12 de maio de 1897, e faleceu no Rio de Janeiro a 19 de dezembro de 1980. Foi tenente do Exército e em 1924 liderou a rebelião no Forte de Óbidos (PA). Derrotado, fugiu para o Rio madeira e acabou indo trabalhar no seringal de propriedade de Américo Casara, na localidade de Laranjeira (Município de Pimenteiras), no Rio Guaporé. Aluízio foi convencido pelo Marechal Rondon a se apresentar ao Exército, em Belém, onde foi preso e depois reabilitado. A Revolução de 1930 o tem como aliado e Aluízio é nomeado Delegado do Governo Provisório na região do Rio Madeira, tendo se estabelecido em Porto Velho onde se torna a principal autoridade e, em 1931, torna-se o primeiro brasileiro a ser diretor-geral da maior fonte econômica da região, a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. Em 1940 consegue fazer com que o presidente Getúlio Vargas venha a Porto Velho e passe três dias na cidade, ao invés de 3 horas conforme a programação inicial, período em que convence Getúlio de criar o Território (do Guaporé, em 1943), mas incluindo a região pertencente ao Amazonas (Porto Velho) e não apenas a de Mato Grosso (95% da área). Em 1944 Aluízio Ferreira é o primeiro governador do Território e em 1947 é eleito deputado federal, reeleito em 1950 e em 1958. Em 1962 retira-se da vida política, fixando residência no Rio de Janeiro.
O HOMEM VERSUS....
Sem qualquer dúvida, mesmo os mais apaixonados adversário de Aluízio Ferreira não podem negar a História: ele se sobrepõe a qualquer outra figura política e administrativa local, com uma visão muito além de seu tempo, e cujos reflexos se estendem até hoje.
Já em 1930 Aluízio conseguia recursos do Ministério da Viação e Obras para saldar salários de trabalhadores da Madeira-Mamoré.
Em 1931, numa ação que envolveu até a ação irregular de dois aliados, que se fingiram de bêbados para evitar a partida do trem, e do delegado de polícia de então (conforme o historiador Esron Penha de Menezes) Aluízio evita que a empresa estrangeira burle a legislação que regia a EFMM. E a seguir assume a direção da ferrovia.
Em 1932 Aluízio vê um de seus projetos, para a região, implantado: a 3ª Companhia de Fronteira (embrião da 17ª Brigada de Infantaria de Selva) em Porto Velho, e os pelotões de Guajará-Mirim e do Real Forte do Príncipe da Beira. Ainda como diretor da Madeira-Mamoré manda construir o colégio Barão do Solimões, a vila do Caiari (conf. Esron Menezes) e importa médicos, professores e outros profissionais oriundos de Belém (PA). Além disso, dá início à construção de uma estrada que, seguindo o traçado da linha telegráfica implantada pelo Marechal Rondon, chegasse a Cuiabá (embrião da atual BR-364), chegando até à localidade de São Pedro (KM 45).
Em 1940 sugere ao presidente Getúlio Vargas, que tinha viagem marcada apenas a Manaus, a esticar a viagem até Porto Velho e, das três horas previstas, ficar três dias, tempo em que convence o presidente da República a incluir Porto Velho no projeto de criação do Território Federal do Guaporé, o que acontece em 1943, sendo Aluízio seu primeiro governador.
São de sua lavra, quando no governo, a primeira estruturação político-administrativa de Rondônia, a criação da Guarda-Territorial, a criação de órgãos como o Serviço de Navegação do Guaporé e o Serviço de Navegação do Madeira, etc.
Como deputado federal, Aluízio Ferreira foi autor do primeiro projeto de lei criando o Estado de Rondônia, em 1962, quando estava encerando seu terceiro mandato parlamentar. O projeto não foi aprovado pelo Congresso Nacional.
Aluízo (de farda) e Getúlio, na usina de luz inaugurada pelo presidente em Porto Velho |
...ELE PRÓPRIO
Durante os mais de 30 anos que teve liderança forte sobre Rondônia, se, de um lado, Aluízio Ferreira teve muitos pontos positivos, que o colocam num patamar muito acima de outras lideranças locais, como essas, também houve ações a ele atribuídas e que, se realmente o foram como citam, acabaram enodoando sua biografia.
Aluízio, dizem, sem tirar seus méritos positivos, os que o conheceram, que ele literalmente casava e batizava. Ele era o chefe, ou o soba. Há muitas coisas faladas que podem ser estórias ou histórias, depende do lado que se esteja.
Dentre outros fatos, há quem diga que:
1 - Quando um funcionário público ia para a oposição, e se a mulher fosse também servidora, Aluízio designava um para o vale do Guaporé e o outro (ou outra) para o baixo Madeira. Praticamente acabava com a família.
2 – Ele mantinha uma equipe de fiéis, uma espécie de guarda pessoal, capaz de fazer o serviço sujo.
3 – Há três casos escabrosos: o primeiro deles, quando um padre disse que ia denunciar o possível envolvimento de uma pessoa ligada a Aluízio, num derrame de notas falsas. Misteriosamente o provável denunciante morreu antes de sair daqui.
Na seqüência, que o médico que fez a autopsia do corpo teria sido pressionado para dizer que não houve envenenamento, mas, sim, uma síncope cardíaca.
TENENTE FERNANDO
O terceiro caso, o fato mais escabroso, e que rendeu mais munição à oposição, foi o desaparecimento, em 1945, do tenente-engenheiro do Exército Fernando Oliveira, num acampamento da construção da rodovia, à altura do KM 45 sentido de Ariquemes.
Das versões sobre o desaparecimento, há pelo menos duas que envolvem Aluízio. Numa delas, porque o tenente, jovem e atlético, teria se aproximado de uma mulher muito bonita e que estava na alça de mira de Aluízio, então governador do Território.
A segunda versão é que o tenente teria anunciado que iria denunciar Aluízio pelo sumiço de um equipamento rodoviário que teria sido embarcado em Belém e não chegara a Porto Velho.
O fato já havia praticamente caído no esquecimento, mas, segundo os historiadores Abnael Machado e Francisco Matias, quando da reunião do Instituto Histórico, comemorativa dos 100 anos do nascimento de Aluízio, seu primo, general Ênio Pinheiro, que era capitão e comandante da Companhia Rodoviária em 1945, teria provocado o assunto, apresentando várias versões sobre o desaparecimento do tenente Fernando, sem que qualquer dos presentes tivesse feito menção ao caso.
O historiador Esron Menezes nega, mas há várias citações de que a cassação do deputado federal, pelo Território, Renato Medeiros, em 1964, teria saído por pressão de Aluízio. "Eu perguntei ao coronel (último posto de Aluízio no Exército) e ele negou", garante Esron.
DÍVIDA
Mas, seja lá o lado que se coloque o leitor, certamente que a figura de Aluízio Ferreira se sobrepõe, pelo que ele representou para a região ao alto Rio Maderia, às falhas que realmente tenham sido culpa sua.
E foi justamente o mérito daquilo que Aluízio Ferreira realizou a favor do desenvolvimento regional, que o faz merecedor de ser colocado um degrau acima dos demais que também deixaram um lastro de trabalho a favor de Rondônia.
Fonte: Lúcio Albuquerque
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