Quarta-feira, 26 de setembro de 2007 - 20h01
O jornalista Montezuma Cruz me rebate à notícia do 1º ano de falecimento do jornalista Paulinho Correia, neste dia 27 de setembro, com outra notícia desagradável: faleceu em Brasília, vítima de um forte acidente vascular-cerebral (AVC) a senhora Gilsa Auvray Guedes.
O fato aconteceu dia 3 de agosto, mas com certeza se alguém soube por aqui deve ter guardado bem a (infausta) notícia: liguei para dois funcionários que trabalharam drietamente com o governador Humberto Guedes, marido de dona Gilsa, e ambos disseram desconhecer a ocorrência, o jornalista Ciro Pinheiro e o secretário de gabinete Jader Moreira Pinto.
Para quem não lembra, ou para quem não sabe, dona Gilsa era esposa do governador que plantou as bases para que Rondônia pudesse ser transformado em Estado, o coronel Humberto da Silva Guedes que governou o Território de junho de 1975 a abril de 1979, e uma figura que precisa ser melhor lembrada na historiografia rondoniense.
Mas não estou aqui para falar do ex-governador, apesar de reconhecer que se somos Estado temos muito a agradecer a ele, à percepção que o governador Guedes teve de que Rondônia não cabia mais na condição de Território. A intenção é falar sobre dona Gilsa, em cuja casa, em Brasília, estive em 2005, em companhia dos jornalistas Montezuma Cruz e José carlos Sá, para uma entrevista com o ex-governador - ela estava viajando.
Eu não tinha relação maior que de repórter com fonte de informação com dona Gilsa, mas nunca deixei de admirar a vontade que ela demosntrava de ajudar outras pessoas, podendo citar dois fatos, um o empenho dela no atendimento a pessoas humildes no único hospital de então, o São José (hoje policlínica da PM), quando, o testemunho foi de um médico, chegou a se atritar com alguns desses profissionais na ânsia de ajudar doentes.
Foi dela a inspiração para criar o bairro Pedacinho de Chão, em Porto Velho, quando literalmente saiu pedindo ajuda de comerciantes e outras pessoas para doar materiais necessários a que as famílias que foram deslocadas para ali tivessem, pelo menos, meios para iniciar a nova vida.
Na grande enchente de 1977, quando o Ramal São Domingos, aquele trecho do bairro do triângulo que comumente alaga, foi tomado pelas águas, dona Gilsa ia de canoa, de casa em casa de alagado oferecer ajuda, fato que me surpreendeu, não pela oferta de ajuda, mas por encontrar a esposa de um governador, sem qualquer assessoria apenas dois remadores, numa canoa comum, fazendo aquele trabalho.
Ela ia à cada família propor que se mudassem para o novo bairro, àquela altura muito distante do centro da cidade e com todos os problemas decorrentes da falta de estrutura, da água que não tinha à inexistência de linha de ônibus.
Inspirada numa telenovela, dona Gilsa batizou o novo núcleo que estava nascendo em Porto Velho com o nome da série, Meu Pedacinho de Chão, que já "nasceu" com áreas definidas para igreja, colégio, escola infantil, mercado - se não me engano com seu traço urbano desenhado pelo prefeito Antonio Carlos Cabral Carpintero. Como sempre, na adminsitração de seu marido, o novo bairro surgia pensado para o futuro.
Sempre prefiro me lembrar das pessoas como as vi, como as conheci. Dona Gilsa, sempre que sua figura vem à minha mente, lembro dela sentada na canoa (e é dessa forma que vou continuar lembrando), visitando as famílias em meio à alagação, cena que surpreendeu outro jornalista da época - e futuro presidente da Assembléia Legislativa - o professor Amizael Silva, também já falecido, que, ele pelo O Guaporé e eu pelo Alto Madeira, mas na mesma canoa, estávamos no local fazendo reportagem sobre a alagação.
Dizer ao governador Guedes e sua família dos meus sentimentos é fato real. Preciso lhes dizer do respeito que sempre tive pela dona Gilsa.
Inté outro dia, se Deus quiser!
Lúcio Albuquerque
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