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Lucio Albuquerque

DANIN, UM PERSONAGEM DA ANTI-HISTÓRIA DE RONDÔNIA



Lúcio Albuquerque, repórter (*)

Rondônia, e o futebol amazônico, devem muito ao Vinícius Abrahão Coutinho Danin que criou, em 1975, um torneio com os campeões do Acre, Rondônia, Amapá e Roraima, intitulado 'Copão da Amazônia', e também foi presidente da Federação de Desportos de Rondônia. Um excelente contador ou gerador de histórias e de causos.

Era uma dessas figuras ímpares, que surgem de tempos em tempo em meio à multidão, e cujo rastro final deixa saldos positivos, como quando participou ativamente do Sindicato dos Jornalistas ainda na fase inicial, ou quando realizava concursos de misses, Objetiva, Rondônia etc. Até sua participação para que não deixassem fechar a hoje BR-364 também foi importante.

Contava que, bem jovem, o pai era um dos editores do jornal “Província do Pará”, em Belém, e o colocou na redação. Não para fazer matérias, mas já começando num cargo: Editor de Obituário. Chegava uma pessoa pedindo para publicar notícia de uma morte e era ele quem ia fazer o texto. Daí para a frente a “vírus” do jornalismo pegou e um dia ele apareceu em Porto Velho, fazendo, algumas vezes, ponte com Cuiabá.

Sentado no Café Santos, o Danin lembrava de um episódio, quando era editor do Alto Madeira. O Bahia, campeão brasileiro, veio excursionar logo depois do título, por estas bandas, batendo em tudo que é time, e, por causa disso, o Danin acabou dando a manchete mais barriguda de sua vida de jornalista.

Foi assim: o Bahia batia em tudo que era time. Ia voltar num dia, mas o avião não chegou, então tinha de esperar o outro voo, ficando sem fazer nada aqui de quinta a domingo. Para ocupar o tempo, arrumaram um jogo contra o Flamengo, time recém-formado pelo seu Dudu.

Acontece que o Danin tinha um programa diferente na noite do jogo, mas disse para a dona Dora que iria voltar tarde porque teria de esperar para dar a notícia do resultado da partida no jornal. Saiu cedo da redação, mas como o Bahia vinha ganhando de todos, nem pensou duas vezes e colocou como  manchete principal: 'Mais uma vitória do Bahia – Detalhes na edição de amanhã'.

E foi embora. Depois chegou em casa, dormiu e, ao chegar ao Café Santos, primeira parada do dia seguinte, o Simeão Tavernard, com o Alto Madeira na mão, fez a maior gozação: é que no jogo, o Flamengo deu de três nos baianos.

Pior para os baianos que, com a invencibilidade quebrada queriam revanche, mas seu Dudu disse que aceitaria, só que com tudo pago e mais um cachê, na Fonte Nova. Aí não houve jeito.

Vinícius Danin, magérrimo, era uma figura. Veio de Belém e aqui fez de tudo um pouco no jornalismo local,  entre os anos 60 e 70. Inclusive uma viagem de lambreta até Brasília, pelo caminho de onça que era a rodovia BR-364 nos idos de 1963, para entregar ao presidente da República um documento pedindo que não permitisse que a estrada fosse fechada (talvez um dos resultados disso tenha sido a vinda do 5º BEC para cá).

Do Danin há muitas estórias e histórias. Uma delas envolve um caminhoneiro forte, grandalhão, Antonio Jotão Geraldo, que mais tarde seria o primeiro prefeito eleito de Ji-Paraná. Danin era editor do Alto Madeira, alguém disse para ele que o Jotão era baderneiro, estava bagunçando e o Danin não descartou. Tascou manchete em cima do futuro prefeito.

Duas, três, haja cacete no 'tal Jotão', que ninguém conhecia, até que um dia o Danin estava sentado dentro da redação, quando alguém empurra a porta e pergunta por ele. Sem levantar a vista, Danin responde ser o próprio. Aí o visitante se identifica, numa voz calma, diferente da imagem que haviam 'vendido' ao Danin.

'Eu sou o Jotão. Queria que o senhor me conhecesse porque estão dizendo mentiras a meu respeito'. Entre risadas, sentados no Café Santos, Danin contava para nós: 'Na hora que o cara, um armário grande, disse que era o Jotão, eu pensei que ele ia me dar um cacete, tremi que nem vara verde'.

O jornalista Ivan Marrocos (falecido em 1995) contava uma envolvendo o Danin e sua magreza. Era assim: O Enéas "Alicate", repórter esportivo do jornal A Tribuna, era vizinho do Danin e tinha um filho que não queria comer nada, apesar dos esforços dos pais. Um dia o Enéas teve uma idéia: na hora do almoço pegou o garoto pelo braço e foi direto na casa do vizinho Danin que veio atender enrolado numa toalha e sem camisa, as costelas apontando para fora da pele, tal era a magreza.

O Enéas mostrou para o filho e disse que se ele não comesse ia ficar feio daquele jeito. "Foi um santo remédio", garantia o Ivan.

Em Ouro Preto, ainda no início, Danin foi fazer umas matérias e levou um tiro. Há duas vertentes, a primeira, que ele contava, era que estava sentado na mesa do café no então “Hotel do Incra”, quando um PM que estava saindo do serviço rolou sobre a mesa o revólver para o que o ia substituir, mas a arma disparou e acertou o Danin.

A outra, e muitos dos que o conheceram garantem que seja a real, é de que ele teria se metido num triângulo amoroso e o PM atirou mesmo. Pelo menos para mim o Danin nunca confirmou um a das duas. Aquela história do amante, que sempre deixa uma dúvida no ar.

(*) Pretendo escrever um livro que conte histórias ou estórias de pessoas que tenham contribuído com Rondônia, mas que não aparecem nos nossos livros de História. O título deve ser “Personagens da anti-história de Rondônia”.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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