Segunda-feira, 6 de outubro de 2014 - 06h01
“Atenção Porto Velho...atenção Rondônia....atenção Brasil: o presidente do Tribunal Regional Eleitoral vai abrir a primeira urna e anunciar o primeiro voto”.
Era assim. A seguir o próprio juiz, falando ao vivo, anunciava para quem era e para qual partido o primeiro voto apurado. Sem dúvida um momento solene e muito esperado pelos eleitores e pelos não eleitores. Nesse momento todas as emissoras de rádio transmitiam, e todos os aparelhos estavam ligados, nos bares, nas casas, nas feiras, nos comércios, nas repartições, nas igrejas, nos caros, em qualquer lugar onde houvesse um “papagaio” esse era um dos grandes e mais emocionantes momentos da eleição.
A partir daí ninguém desligava o rádio e, durante dias a contagem dos votos, a abertura de cada urna, tudo “transmitido ao vivo e a cores”, como gostava de dizer meu amigo Walmir de Miranda Vitorino ao microfone da Rádio Caiari, ocupava o dia-a-dia de todos independente da classe social ou de sua ligação política. Não dava para não ouvir: em qualquer lugar a coisa era a mesma.
Entrava o Hino de Rondônia, eram anunciados os patrocinadores e em seguida o âncora fazia o que não precisava mais fazer que era lembrar aos ouvintes que vinha aí mais um resultado de nova urna aberta. Aí “chamava” o repórter que estava na linha que lia a relação de candidatos e os votos que cada um obtinha: “Governador: fulano, tantos votos; senador: sicrano tantos votos; etc....” Em seguida novas mensagens dos patrocinadores e a palavra final do âncora, agradecendo ao repórter e anunciando que o ouvinte não desligasse o aparelho “...porque a qualquer momento estaremos de volta com novas informações na marcha das apurações”.
Nos locais de apuração cada mesa apuradora tinha vários componentes, uma boa parcela formada por bancários e/ou funcionários públicos. Cada grupo ficava numa espécie de cercadinho e as urnas a serem abertas eram colocadas em lugar específico sob olhares mais que atentos de candidatos, fiscais partidários, cabos eleitorais e curiosos.
A cada anúncio de nova seção ou nova urna muitos dos ouvintes, “colados” ao rádio, se envolviam tanto que até deixavam de lado os compromissos. Quanto almoço deve ter queimado porque a dona-de-casa estava mais atenta “à voz das urnas” do que em preparar o “de comer”? Muitos faziam as anotações, alguns soltavam fogos E outros esperavam que a próxima urna aberta fosse a que iria virar o jogo. Vizinhos brigavam famílias se dividiam. Não importava quantos dias levasse, a cena era a mesma. Quando terminava ficava aquele “buraco”: o que fazer?
Nos jornais a edição seguinte era mais procurada que a anterior, especialmente porque aos poucos a contagem de votos ia afunilando os pretendentes. Em qualquer lugar que você chegasse a cena era sempre a mesma: resultado das urnas. E, lógico, o folclore, como quando no ginásio do Flamengo (ali no Bairro da Arigolândia) na votação a vereador em 1976 quando um candidato conseguiu que o juiz Cesar Soares de Montenegro admitisse seu protesto e tivesse computado a seu favor o voto em que o eleitor escrevera”João burro”.
Ah! Sim!. Desculpe leitor. Esqueci de citar no início que era o tempo da cédula de papel, em que se escrevia o nome ou número do candidato. São sensações de eleição que o eleitor de hoje já não tem. Hoje você chega à “cabine indevassável” faz sua identificação biométrica (se o aparelho não reconhecer sua impressão digital ffaz-se tantas tentativas quantas o mesário tenha paciência – por que ele não aplica logo na primeira falha o “código 8”?. Aí você vai para a cabine, tecla números e Fim.
Depois vai para casa. E duas horas depois de acabada a votação sabe, por ação de computadores, quem ganhou e quem perdeu.
Acabaram com os comícios, acabaram com a campanha como era feita, acabaram até com a emoção de acompanhar a contagem dos votos. Não que eu seja saudosista ou não goste de modernidades – de algumas eu realmente não gosto, e não nego.
Acabaram até com a emoção.
Lúcio Albuquerque
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