Domingo, 1 de janeiro de 2012 - 11h28
Em seu livro “O Punho de Deus”, Frederic Forsith narra o drama de todo aparato de inteligência e tecnologia dos Estados Unidos porque não tinham ninguém na corte de Sadam Hussein. Até que um informante israelita passou ao Serviço Secreto inglês que eles têm um homem lá. O problema todo é que o aparato tecnológico da OTAN não conseguia penetrar no círculo íntimo de Sadam, mas o livro acaba resolvendo o problema bem ao estilo de Forsith (O Dia do Chacal, O Afegão, e outros).
Na semana passada o repórter e (ainda) melhor redator Montezuma Cruz publicou em sua coluna Rondônia de Ontem mais um de seus relatos no site www.gentedeopiniao.com.br, narrando como os órgãos de segurança tomavam conhecimento das notícias que mandávamos para os jornais Estado de São Paulo e Folha de São Paulo.
Na época, em 1976, o meio para mandarmos as matérias era o telex, uma máquina de transmissão antecessora do computador e da internet, e em Porto Velho só tínhamos um caminho para isso, o telex da cabine dos Correios.
O que não sabíamos é que alguém da EBCT tinha algum acerto com os órgãos de segurança, e mandava aos gabinetes do governador e do titular da SSP – creio que também a outros órgãos de Segurança locais, as cópias das matérias, minhas e do Monte.
Isso nós só acabamos descobrindo por puro acaso. O Monte narrou que eu encontrei um texto meu na mesa do governador. Mas tem um caso que o Monte não lembrou, e que por obra do destino coube-me entregar o enviado pelo agente infiltrado nos Correios. Foi assim: Eu acabara de mandar um material para o jornal O Estado de São Paulo e precisei a seguir ir ao gabinete do Secretário de Segurança José Mário Alves da Silva.
Ele não estava, mas resolvi esperar. A secretária dele disse que precisava ir não sei aonde (a SSP funcionava no prédio da CAERD onde atualmente está um setor do Poder Judiciário Estadual) e eu fiquei na sala.
Aí chegou um estafeta para entregar um papel ao secretário. Como só havia eu na sala o rapaz perguntou se poderia deixar comigo e eu disse que sim. Entregou, foi embora, e eu fiquei nas mãos com a cópia da matéria que havia passado há menos de 10 minutos da cabine de telex dos Correios.
É preciso entender que nós já estávamos desconfiados, porque algumas vezes pessoas ligadas à área de segurança comentavam trechos das matérias conosco antes dos jornais chegarem aqui (naquela época todos os jornais do eixo Rio/São Paulo e de Brasília) chegavam religiosamente no avião das 14 horas e o velho silva os vendia na banca do Café Santos - esquina da Sete com a Prudente de Moraes. Como não havia telefonia celular e ligação interurbana era coisa difícil, então, a suspeita era grande, de que alguém estava lendo o material e encaminhando aos homens.
Bom, o estafeta entregou a cópia da minha mat´ria, eu fiquei com a dita cuja e cumpri o que havia prometido. Quando a secretária retornou, a primeira coisa que fiz foi entregar o material. Ao verificar o que era e por quem lhe foi entregue, ela ficou meio sem jeito, perguntou se eu queria café e disse que o seu chefe não viria mais naquela manhã.
Em tempo: não sei se o primeiro estafeta foi demitido. Espero que não. Apenas ele foi substituído por outro, agora conduzindo o material, que deveria ter característica de muito perigoso, num envelope e não apenas uma folha de papel qualquer.
A corrente continuou, pelo menos até que o jornal instalasse um telex para uso exclusivo num escritório que instalamos. Mas digo que continuou porque às vezes eu estava com o Monte na cabine do telex dos Correios e quando ele ia mandar matéria eu me mandava para o prédio da SSP onde via o estafeta chegar com o envelope e só entregar para a secretária.
Fonte: Lúcio Albuquerque
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