Domingo, 29 de novembro de 2020 - 16h11
Esta série é uma homenagem de jornalistas de várias gerações que trabalharam, em ocasiões diversas, com o diretor do Alto Madeira, jornalista Euro Tourinho. Quétila Ruiz é da safra jovem, que atuou no período final do AM, entre 2015 e 2017. Sílvio Santos, o Zé Catraca, atuou na época do chumbão ainda na redação da Barão do Rio Branco, e Rodrigo Pacheco da fase intermediária, quando o AM se mudou para a área ao lado do Hospital de Base. Cada um tem uma história, ou várias histórias para narrar, de sua convivência com Euro.
A visão da experiência que vê além do fato
Com tudo o que seu Euro
já havia presenciado nesta vida, as pessoas ao redor estavam sempre aprendendo,
absorvendo algum conhecimento. Ele era frequentador assíduo do Mercado Central.
Certo dia ele chegou cedo ao jornal e me perguntou: “Está com sua máquina aí?
Você pode ir ali comigo?” Ele me levou até a parte lateral do Mercado Central.
Ali um casal, usuário
de drogas, tinha feito uma cabana de compensado nas grades do ‘Prédio do
Relógio’, e, além disso, haviam estendido roupas nas grades, calcinhas e
cuecas. Ele disse: “Tire uma foto e escreva sobre isso”. E reforçou: “A gente
sabe de toda a situação, mas isso é um local histórico, passam diversas
famílias com crianças. As autoridades precisam fazer alguma coisa a respeito,
inclusive prestando apoio a esse casal”.
“Eu já havia passado
por ali, o casal já estava naquele local. Mas meus olhos, acostumados com o
caminho, não prestaram atenção aos detalhes. Seu Euro, todos os dias tomando
café no Mercado, não perdia os detalhes, atento e sempre observando tudo ao seu
redor”.
Apesar da idade, sempre
lúcido, sempre. Uma das lições para essa aprendiz de jornalista, ‘atenção aos
detalhes’, da rotina, do caminho, da vida.
A coluna social “Eurly”
do seu Euro Tourinho e o aprendiz de tipógrafo
Corria o ano de 1966 e
por um fato que não tinha nada a ver comigo, fui dispensado da Sociedade de
Cultura Rádio Caiairi, onde exercia as funções de Sonoplasta, Locutor e
Discotecário.
Voltando no tempo!
Comecei a trabalhar na imprensa de Porto Velho, no ano de 1958, no Jornal Alto
Madeira como entregador de jornal, office-boy e aprendiz de tipógrafo.
Em 1960 fui contratado
para exercer a função de sonoplasta e discotecário na Rádio Caiari, que entrou
no ar no mês de julho daquele ano, depois passei a locutor apresentador de
programa, funções que exerci até meado do ano de 1966,
Desempregado, consegui
ser contratado pelo Jornal Alto Madeira desta feita, como tipógrafo. Na época a
redação ficava à Rua Barão do Rio Branco, em frente à praça Jonathas Pedrosa.
Logo de cara, no primeiro dia de serviço, o chefe da oficina me escalou para
‘COMPOR’ a Coluna Social Eurly escrita pelo seu Euro Tourinho. Era uma página
de informações sociais e como a época, não existia clicheria em Porto Velho, a
página era constituída praticamente só de notícias.
Eu estava há mais de
seis anos, sem exercer a profissão de tipógrafo e mais, o corpo (tipo –
letrinhas) era o CORPO 8.
Terminei de compor
(juntar as letras), por volta das 17 horas, bati a “prova” e apresentei para o
seu Euro corrigir.
Quando peguei a prova
de volta, estava cheia de erros que deveriam ser corrigidos até as 18 horas.
Corrigindo os erros
contidos na minha “composição”, em determinado momento, meu cotovelo esbarrou
na “composição” quebrando parte do que estava pronto.
A remontagem atrasou
deveras, e, também, a impressão do jornal naquele dia. Apesar do incidente seu
Euro Tourinho, talvez para me dar uma
força, exigiu que eu continuasse compondo a sua coluna, dai em diante.
Desde então, passei a
admirar a pessoa do seu Euro Tourinho que se tornou meu amigo e é meu amigo até
os dias atuais.
Lembranças de “seu” Euro
O incansável jornalista
manauara Lúcio Albuquerque, mas rondoniense de coração (e bota coração nisso),
me pediu um texto sobre o saudoso Euro Tourinho, o mais prestigiado
profissional da imprensa de Rondônia, proprietário e diretor do centenário e
inesquecível Alto Madeira, onde tive a honra de fazer parte do corpo redacional
por nove anos.
Ele me disse para
esquecer as loas, que todos sabem enormemente merecidas, e buscar algo sobre a
faceta do dia a dia do “seu” Euro, tarefa da qual vou procurar me desincumbir
da melhor maneira possível, desde já pedindo desculpas por não ter aquela
memória privilegiada de alguns que lembram os acontecimentos em seus mínimos
detalhes.
Vamos lá.
O telex
Quando o jornal passou
do endereço da Rua Barão do Rio Branco, no centro de Porto Velho, para a nova
sede da Avenida Jorge Teixeira, nas proximidades do Hospital de Base, ele
organizou a disposição das mesas na redação pessoalmente.
No primeiro dia em que compareci para trabalhar, uma moça que fazia as vezes de arquivista de fotos e algum outro tipo de serviços gerais, me passou a determinação de que nenhuma mesa poderia ser trocada de lugar. Era de manhã cedo e só estávamos nós dois na redação. Eis que chegou um técnico da Embratel para instalar a máquina de telex (estamos falando do início dos anos 80), fonte de abastecimento das notícias nacionais e internacionais.
O rapaz precisava de
uma mesa, que deveria ser levada até o local onde tinha sido feita a instalação
elétrica para aquela finalidade. Pedi à jovem secretária que mostrasse qual
mesa poderia ser deslocada. Ela, com algum temor, nos disse que nenhuma estava
disponível porque “seu” Euro havia dito que as mesas não poderiam ser
deslocadas e não iria desobedecer a ordem dele. Sem a presença do diretor e não
dispondo, na ocasião, dos meios instantâneos de comunicação atuais (celular,
WhatsApp, etc e tal) criou-se um impasse.
O funcionário da
Embratel disse que iria embora e que teríamos que agendar outra data para
instalação do telex, o que provavelmente só seria possível dias depois.
Resolvi, por minha conta e risco, pegar uma mesa qualquer e colocar nas
proximidades da tomada específica, onde o equipamento foi instalado e começou a
funcionar. Quando “seu” Euro chegou informei-o do ocorrido e ele simplesmente
disse:
- Muito bem. Mostrou
que tem iniciativa.
O herói
Em determinado período
do tempo em que trabalhei no Alto Madeira fiquei responsável pela edição da
primeira página. Chegou-nos à informação do falecimento de Luís Carlos Prestes,
militar e líder comunista, uma figura polêmica, mas, a meu ver, importante no
contexto histórico brasileiro.
Fiz uma nota de capa,
sem muito destaque, indicando em que página interna estava o noticiário
completo do tema, coloquei uma foto dele e titulei da seguinte maneira: “Morreu
um herói”.
Manhã seguinte, estava
eu sentado à mesa que ocupava normalmente e, coincidentemente, tinha à minha
frente o jornal (era meu costume, assim que chegava, ler a edição do dia
todinha para verificar erros e avaliar o trabalho impresso). Estava revisando
exatamente a primeira página.
“Seu” Euro chegou, muito sério. Ficou em pé na minha frente. Lançou-me um olhar duro e apenas apontou a chamada sobre Prestes, pousando um dedo firme em cima do título – “Morreu um herói”. Encarou-me mais uns momentos e, sem dizer palavra, saiu da redação, deixando-me com a absoluta certeza de que ele, sem dúvida, não considerava o ex-deputado do PCB merecedor de nenhuma homenagem.
O carro
Numa ocasião, acho que foi durante algum período eleitoral, trabalhamos até tarde e, na hora de encerrar o expediente, como eu ainda não tinha carro próprio, “seu” Euro me autorizou a usar um Fiat utilizado nas reportagens para ir embora.
Chegando em casa,
coloquei o veículo na garagem e fui repousar. No dia seguinte, para minha
surpresa, constatei que não tinha deixado o carro com a marcha engrenada e
também não tinha puxado o freio de mão totalmente, o que fez com que o
automóvel fosse, ao longo da noite, deslizando devagarzinho até esbarrar no
portão, onde ficou escorado até de manhã.
O resultado foi uma
lanterna quebrada. Fui trabalhar com medo de relatar o ocorrido e em vez de
falar diretamente com “seu” Euro procurei dona Adelice, gerente administrativa
e quem cuidava da gente com amor filial. Ela disse que ia resolver. Além do
jornal, o Grupo Tourinho tinha também a concessionária da Fiat, o que facilitou
o conserto.
Porém, “seu” Euro,
obviamente, ficou sabendo que o veículo da reportagem estava na oficina e quis
saber o que havia acontecido. Me procurou e perguntou se tinha chegado em casa
bem, estava tudo tranquilo e tinha devolvido o carro em ordem. Aí, não tive
outro jeito a não ser abrir o jogo. Ele me disso, então, que já sabia e só não
tinha gostado de uma coisa: porque levei o assunto a terceiros, sem procurá-lo
diretamente.
Pedi desculpas, e me
comprometi a pagar o serviço, obrigação da qual ele me dispensou.
Assim, essas são
pequenas lembranças de um grande homem. Me veio à memória agora a figura dele,
aos sábados, quando, não raras vezes, chegava na redação de bermuda, uma
camiseta folgada e a inseparável máquina fotográfica pendurada no pescoço.
Ficava por ali, conversava com um e outro, buscava saber como estava a edição
dominical, escrevia algum texto e, depois de tudo pronto, chamava o pessoal
para comer uma feijoada no Rondon Palace Hotel.
Por conta da casa,
naturalmente.
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