Sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016 - 21h03
Arte Bortolete
No dia 28 de fevereiro de 2011 o comerciante Manoel Mendonça morreu. Boêmio, carnavalesco desde criança na escola de samba Pobres do Caiari, membro do Bloco da Cobra, ele era para os amigos, e até para os inimigos, o “Manelão”, mas desde quando assumiu a organização da Banda do Vai Quem Quer, que ele ajudou a fundar, passou a ter outro “nome”, porque agora ele era o “general” da Banda.
O repórter Lúcio Albuquerque, um dos muitos que gostavam de ir ao “Chaveiro Gold”, rir das estórias e histórias que Manelão contava, escreveu àquela altura uma coluna contando como teria sido a chegada de Manelão ao céu, que o redator chama de “Valhalla”.
Para lembrar a data, estamos republicando a coluna.
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Manelão chega ao céu e decreta:
A BANDA SAI SÁBADO!
Nem era 12 horas de segunda-feira, último dia de fevereiro de 2011, e o Sérgio Valente passeava nervoso perto da porta de entrada do Valhalla. Momentos antes dera uma olhada na Porto Velho que ele quase não mais reconheceu e passara sobre o João Paulo II. “Não conheço mais ninguém por lá”, reclamava o Sérgio, mas ele não estava nervoso por isso. O problema era o fato de já ser a segunda-feira “magra” de carnaval e a turma queria botar o bloco na rua, mas faltava algum detalhe e ele não sabia o que seria.
Foi aí que ele viu, de longe, o tumulto. A fila não andava e havia reclamação contra a demora, tudo porque o funcionário da recepção, que já queria encerrar o expediente para poder almoçar, não conseguia acessar a ficha do novo hóspede. Encontrou depois de algum tempo e aí reclamou: “Pô, por que não disse logo seu apelido?”.
Afinal de contas poucos aqui, e lá também, conheciam o recém-chegado pelo seu nome civil, mas poucos aqui poderiam afirmar com segurança nunca ter ouvido falar daquela figura sempre com um cigarro entre os dedos, a roupa sempre muito larga e uma disposição constante de conversar.
“Faz tanto tempo que você não é mais conhecido por seu nome civil, Manoel Costa de Mendonça, que até aqui já deletamos. Nosso registro é o seu apelido”, explicou o funcionário enquanto autorizava a entrada do hóspede.
Sérgio, que como todo bom jornalista está sempre pronto para anotar uma novidade, aproximou-se da entrada e aí deu de cara com o novo hóspede, mal ele havia passado a primeira passada além da linha demarcatória.Ele não se conteve: “Manelão, você por aqui?. Ainda bem que você chegou. Agora nosso carnaval vai bombar”.
O grito do Sérgio atraiu a atenção de uma turma que tirava um “partido alto” debaixo de uma árvore copada. A batida parou e quando eles viram quem era foi aquele festival: “General da Banda, nem desfaça as malas. Depois você vai conhecer seus aposentos”, disse o magérrimo Vinícius Abrahão Coutinho Danin, jornalista e grande boêmio, praticamente sequestrando o Manelão para ele, antes de tudo, dar uma entrevista coletiva para falar sobre a viagem e seus planos nessa nova etapa da vida.
Na tumultuada coletiva, com presenças de Danin, Jorge Santos, Sérgio Valente, Roberto Vieira, Roberto Azevedo, Ivan Marrocos, Paulo Correia, a conversa foi tumultuada, primeiro porque o Ivan e o Danin, flamenguistas, queriam tirar sarro do botafoguense Manelão, e o vascaíno Paulinho Correia preferia falar das goleadas que o Vasco andou aplicando ultimamente. A coletiva acabou praticamente antes de terminar, porque a turma da roda de samba queria era puxar o entrevistado para o bloco, enquanto o advogado Juvenal Sena reclamava porque não encontrava gelo para comemorar a chegada do amigo e tinha de tomar mais um puro.
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No tumulto, decidiram ir almoçar. O Rogério Weber, depois de um longo abraço em seu companheiro de estrepolias no final da década de 1960, mandou que a passista Ruth, “Diplomata doente”, e o Bosquinho, que se vestia de noiva na banda do Vai Quem Quer, fossem correndo dizer ao Claudinho, cozinheiro experimentado e que no carnaval sempre aparecia fantasiado de cadelinha poodle, para “botar mais água no feijão” porque o Manelão havia chegado e a turma ia para a boca livre.
Ninguém sabe quem avisou a carnavalesca, folclorista, política e professora Marise Castiel, mas ela apareceu em companhia do jornalista e advogado Rochilmer Rocha que está cuidando de fazer circular seu novo jornal lá para aquelas bandas.
Com dona Marise vieram também várias costureiras, responsáveis pelas fantasias que fizeram a Pobres do Caiari se transformar em referência de beleza nos carnavais porto-velhenses.
O Gainete, que sempre estava por perto do doutor Rochilmer, ao encontrar o Manelão logo começou a perguntar pela turma do café da Zenilda, no Mercado Central, onde o Gainete era o “dono da banca” e o Manelão um dos membros da confraria. Gainete vinha com outro membro do grupo, o advogado França, que já colocou à disposição o escritório que tem por lá em sociedade com o doutor Abílio Nascimento, para o caso do general decidir botar uma banda no Valhalla e ter problemas para resolver, como tinha quando estava aqui no “vale de lágrimas”.
Na casa do Claudinho a festa foi grande, e demorada. Afinal, além da chegada do Manelão, o cozinheiro tem fama de entendedor e a turma que chegava não é de comer pouco. Os colunistas sociais Roberto Vieira e Sérgio Valente logo botaram nos seus blogs a nova e alguns dos que estavam presentes: Os músicos Antonio do Violão, Jorge Andrade, os sambistas Neguinho Menezes, Leônidas Chester , Neguinho Orlando, Bola Sete; os boêmios Claudio Carvalho, Bráulio Bigode, José Carlos, Esmite Bento de Melo, o Esron Menezes; o carnavalesco Waldemar Cachorro, o advogado Marcos Soares e até o ex-prefeito Chiquilito Erse que participou da fundação da Pobres do Caiari.
O ex-prefeito e engenheiro Luiz Gonzaga já chegou falando alto. Com ele vieram outros integrantes do “Bloco da Cobra”, junto com o seringalista Francisco Paiva, o professor Câmara Leme, o comerciante Hortêncio Simplício, o Abel Marques, a turma foi se chegando.
A conversa andava animada e os tira-gostos já estavam circulando, uns cubos de peixe frito que foram atacados pela turma, com destaque para o Manelão que estava com uma fome braba. O papo descambou para o carnaval, para o último baile municipal e o Sérgio Valente lembrou dos que realizava.
A turma perguntou sobre o Mercado Cultural e o show de samba das noites de sexta-feira, ficando admirados que tanta gente recém-chegada gostasse das músicas do Ernesto Melo e do Sílvio Santos contando a história de Porto Velho. Esmite, pai do Ernesto e do violonista Ênio, encheu-se de orgulho. A conversa foi rolando por aí.
Mas de repente, sem que ninguém tocasse no assunto que, no entanto, estava transpirando no ar, todos ficaram em silêncio. Mas nada a ver com tristeza. É que os músicos, que vinham apenas ritmando velhos sambas, decidiram tocar: “Chegou a banda, a banda, a banda. A banda do Vai Quem quer....”.
Aí o Manelão levantou e disse:
“Tá bom, rapaziada: eu aceito o convite que nem precisou ser feito. Vamos botar a banda na rua. A Banda do Vai Quem Quer vai sair sábado, no mesmo horário e no mesmo local”.
Lúcio Albuquerque, repórter
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