A manutenção da legislação brasileira atual é, eu e muita gente consciente neste país, um estímulo claro à criminalidade e à certeza da impunidade. Pior: os átimos de revolta e de execração da criminalidade vistos de parte de quem tem responsabilidade pública e capacidade para mudar a coisa, só acontecem quando há um crime violento, bárbaro, como aconteceu naquele caso de uma atriz da Rede Globo (e cuja repercussão maior só aconteceu em razão da visibilidade e poder de fogo da empresa para a qual ela trabalhava e, certamente, não para o fato em si); nos ataques do PCC em São Paulo, o seqüestro e assassinato do prefeito Celso Daniel, e, agora, de volta, com a violenta morte de um garoto no Rio de Janeiro.
Aí, é só acompanhar o noticiário, quem tem o dever de atuar para mudar o quadro dá entrevista, condena, ameaça e, sentada a poeira, ninguém faz nada. Recolhem-se todos à espera da nova oportunidade de aparecer em rede nacional, como se fossem chacais (*) esperando uma nova vítima de caso aterrorizante e vergonhoso para, outra vez, repetirem a mesma encenação, num ciclo que se repete e que, na realidade, eles não querem mudar, até porque só assim conseguem espaço na mídia.
Estou cheio, como muitos outros brasileiros, de ouvir de autoridades, políticos e líderes de entidades da sociedade que a legislação tem que mudar, que o ECA se tornou um abrigo para o crime, de saber que este país tem leis que protegem mais a criminalidade do que o cidadão que paga impostos. Cheio de ouvir pessoas que se dizem conscientes defender que a idade penal não deve ser reduzida e que, com certeza, se escondem nesse discurso de alegar estarem a favor de mudanças no Código Penal , mas não vão além disso e, quando cobradas, alegam ser a culpa de outros.
E envergonhado, porque não tenho coragem de olhar meus netos nos olhos e lhes dizer que fiz alguma coisa além de gritar, espernear e me revoltar. Envergonhado por compactuar com tudo isso, em razão de exercer meu (??) direito de cidadão e votar em todas as eleições e de contribuir, ainda que meus candidatos não ganhem, para eleger quem não tem compromisso efetivo com a sociedade que dizem representar. Sim, "direito" para quê?
Desculpem os leitores, mas eu estou revoltado com tanto blá-blá-blá e tanta letargia da própria sociedade da qual eu, você, fazemos parte.
Inté outro dia, se Deus quiser!
(*) Que me desculpem os chacais, porque esses animais fazem um trabalho natural e não pretendem ganhar pontos sobre a revolta e a dor de outros.
Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)