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Lucio Albuquerque

JACOB – APESAR DO QUE FEZ, É OUTRO CANDIDATO A SER ESQUECIDO NA NOSSA HISTÓRIA? Por Lúcio Albuquerque


 

 Lúcio Albuquerque, repórter

Em finais de 1975 ou início de 1976 fui entrevistar o médico Jacob Atallah, sobre um forte surto de malária que estava grassando, e com muito mais violência nas comunidades que àquela altura se formavam em Rondônia com a chegada de milhares de famílias que praticamente nada sabiam sobre a doença então considerada endêmica na Amazônia. Eu não o conhecia, apenas atendia à sugestão de uma pauta grande sobre a migração via BR-364, mas a forma como ele abordou o tema e, mais ainda, como me tratou, fez-me ver a dimensão e a importância dele.JACOB – APESAR DO QUE FEZ, É OUTRO CANDIDATO A SER ESQUECIDO NA NOSSA HISTÓRIA? Por Lúcio Albuquerque - Gente de Opinião

Àquela altura, ainda como Território Federal, Rondônia passava por uma transformação fantástica, mudança tão forte que pouco mais de cinco anos depois levou o governo federal a admitir que, como dizia o então governador Humberto Guedes, “Rondônia não pode continuar sendo tratado por Brasília da mesma forma que os outros Territórios”.

À pergunta sobre a razão de não haver um trabalho sério de pesquisa e prevenção à malária, Jacob foi simples: “Enquanto a malária não grassar nos grandes centros não haverá vacina e nem ação forte para seu combate”. Sobre o assunto eu já ouvira não sei quantos técnicos em não sei quantas entrevistas e palestras, e as respostas eram sempre evasivas talvez porque eram funcionários de órgãos federais da área de saúde. Quanto à vacina continuamos na mesma.

Como malárico, fui um dos muitos pacientes do dr. Jacob. E dele recebi uma medicação que não sei dizer qual, à que atribuo nunca mais eu ter tido malária, apesar de em minha vida profissional ter pernoitado não sei em quantos locais onde carapanã era a companhia constante.

Nas muitas conversas que tive com ele, nas mais variadas situações, não havia qualquer dúvida sobre suas paixões, além da família: a Medicina e Rondônia. Aos poucos fui juntando seu percurso na nossa história – citação inclusive de ter sido o primeiro natural daqui a ser diplomado médico, e retornado a trabalhar aqui.

Ele lembrou que quando prefeito de Porto Velho (*) uma de suas obras foi muito criticada: a construção do colégio John Kennedy (Bairro de São Cristóvão). E os críticos alegavam que ele estava jogando dinheiro fora, porque a cidade que àquela altura chegava, quando muito, onde está  a Feira do UM, nunca iria até à região muito distante então. Pelo visto ele provou que os críticos é que não tinham visão de futuro.

Em 1978, ou algo por aí, ele nos tirou – a mim e ao jornalista Montezuma Cruz – de uma espécie de “cárcere privado” a que alguns secretários do governo nos submeteram, naquela base do “não estão detidos, mas não podem sair daqui” (**).

SAIBA MAIS


Entrevista do Dr. Jacob Atallah ao Dr. Viriato Moura no programa Viva Porto Velho, em julho de 2012

Candidato a deputado estadual, Jacob Atallah foi eleito pela Arena, e foi um dos signatários da primeira Constituição estadual,  exercendo durante algum tempo a liderança do governador Jorge Teixeira.

Em 1976 disputou o governo do Estado, numa campanha altamente desigual em que o vencedor, Jerônimo Santana, contava com todo o apoio do governador Ângelo Angelin.

Através do doutor Jacob, conheci sua mãe, dona Elza Freitas e o pai, Abdon Jacob Atallah. O filho, médico e ocupando importantes funções no Governo, “batia ponto” diariamente para um café na sala localizada nos fundos da loja da família, na esquina da Barão do Rio Branco com a José de Alencar. Eu sempre aparecia lá justo na hora do café e dona Elza vinha com uma tapioca e o cafezinho quente.

Depois, antes de ir embora, era ouvir as histórias do “seu” Abdon contando como era a vida quando aqui aportou vindo de sua terra natal, o Líbano, em 1912 para Santo Antonio e, em 1914 (***), para Porto Velho.

E foi numa dessas conversas com “seu” Abdon quando perguntei, por ele ter estado na cerimônia de instalação do município de Porto Velho, em 1915, a razão de nenhum nome feminino ter aparecido na lista dos que assinaram a ata, sua resposta, ao contrário do que possam pensar hoje os que não fazem a contextualização histoóica dos fatos, fez-me entender bem aquela época.

“Seu” Abdon, por que nenhuma mulher assinou a ata?

Sua resposta foi simples: “Meu filho, naquele tempo a mulher era para cuidar da casa, da família e rezar na igreja”.

Foi aí que nasceu a ideia do livro “A Mulher em Rondônia”, que publiquei em 2005.

Finalizo enviando os meus, de da minha família, respeitos aos familiares do rondoniense Jacob de Freitas Atallah, por quem sempre terei respeito e lamentar, que vistos os exemplos, seja ele mais um nome que, seguida a regra comum, será outro para a História rondoniense aos poucos esquecer.
 

(*) 1972/1974, conforme Abnael Machado de Lima em “Porto Velho: de Guapindaia a Roberto Sobrinho – 1914/2009

(**) (http://www.gentedeopiniao.com.br/noticia/historias-da-pressao-contra-jornalistas-em-rondonia-por-lucio-albuquerque/172860)

(***) Esron Penha de Menezes em “Retalhos para a História de Rondônia”

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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