Domingo, 10 de outubro de 2010 - 10h58
“O empolgante movimento de reconstrução nacional consubstanciado no advento do regime de 10 de novembro (de 1937) não podia esquecer-vos, porque sois a terra do futuro, o vale da promissão na vida do Brasil de amanhã. O vosso ingresso definitivo no corpo econômico da nação, como fator de prosperidade e de energia criadora, vai ser feito sem demora. Vim para ver e observar, de perto, as condições de realização do plano de reerguimento da Amazônia. Todo o Brasil tem os olhos voltados para o Norte, com o desejo patriótico de auxiliar o surto de seu desenvolvimento. E não somente os brasileiros; também estrangeiros, técnicos e homens de negócio, virão colaborar nessa obra, aplicando-lhe a sua experiência e os seus capitais, com o objetivo de aumentar o comércio e as indústrias e não, como acontecia antes, visando formar latifúndios e absorver a posse da terra, que legitimamente pertence ao caboclo brasileiro” (trecho do “Discurso do Rio Amazonas” pronunciado a 10 de outubro de 1940, em Manaus, pelo presidente Getúlio Vargas).
Essa é uma data, na realidade um período, pequeno do ponto de vista de um século, mas enorme pela repercussão que a Amazônia teve a partir de então, quando da visita, de 6 a 14 de outubro de 1940, pelo presidente Getúlio Vargas a Belém e Manaus – e daí até Porto Velho, então município amazonense.
Se para a Amazônia não dá para esquecer, por ter sido o primeiro pronunciamento de compromisso real com a região feito, nela mesma, por um chefe da Nação, muito mais não dá para esquecer os acontecimentos que se seguiram e que se geraram quando Getúlio viu, in-loco, em Porto Velho numa visita programada para três horas mas que acabou durando quase 72 horas, a necessidade de criar uma entidade diferenciada para atender ao seu projeto de ocupar o solo do oeste brasileiro.
Getúlio chegou a Porto Velho a convite do superintendente da Madeira-Mamoré, Aluízio Pinheiro Ferreira, apenas para uma atividade simbólica: a inauguração de uma usina de geração de energia, localizada na região do bairro do Triângulo mas, talvez pela amizade entre os dois, talvez porque o presidente quisesse descansar, talvez por outro motivo qualquer, o que seria uma espécie de “visita de médico”, acabou se transformando numa estada mais prolongada.
Estada cujos efeitos se tornaram fundamentais para o surgimento, 41 anos depois, do Estado de Rondônia. Dia 6 Getúlio chegou a Belém, dia 10 a Manaus e dia 11 a Porto Velho, sendo envolvido por uma programação diversificada, em meio à discussão sobre a criação dos Territórios Federais, o que a Constituição em vigor já preconizava.
Dia 13 de outubro de 1940, o presidente Getúlio Vargas se despede de Porto Velho, retornando a capital federal. Fonte: Abnael Machado de Lima - Foto cedida por Luiz Brito |
Na época, Porto Velho, onde ficava a sede da ferrovia, era município amazonense, enquanto que Guajará-Mirim era mato-grossense, como também o de Santo Antonio. Reunido com lideranças locais a questão da criação do Território veio á baila e praticamente quem parece ter colocado a “pá de cal” foi o governador do Território do Acre, Epaminondas de Oliveira Martins(15.3.1937 a 30.8.1941) que, conformem o historiador Esron Penha de Menezes, em conversa com o autor deste texto, teria dito, durante a discussão que o presidente tinha de atender aos apelos das lideranças locais, “porque isso aqui já é um Território”, talvez numa análise feita em relação ao que viu em Porto Velho e o que seria àquela altura acidade de Rio Branco.
Dois anos e onze meses depois de despedir-se de Porto Velho, Getúlio Vargas criou os Territórios, dentre os quais o do Guaporé, que poderia ter-se chamado Rondônia, desde então, honraria que, àquela altura, o próprio homenageado proposto, Candido Rondon, não teria aceito.
Para Rondônia, a visita de Vargas, de 11 a 13 de outubro de 1940, portanto há 70 anos, foi decisiva para o desenvolvimento regional. Para a Amazônia porque a partir daí inicia-se um novo período de conhecimento do Brasil pela região. E para o Brasil, porque é a partir daquele período que realmente começa a tomar ciência de que o “inferno verde”, como um ministro chegou a classificar a Amazônia brasileira, não poderia continuar inteiramente abandonado, apesar do enorme potencial que representaria para o país.
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Fonte: Lúcio Albuquerque - jlucioalbuquerque@gmail.com
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