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Gente de Opinião

Lucio Albuquerque

Madeira-Mamoré – falseando a verdade


 
De tanto se repetir uma mentira,

ela acaba se transformando em verdade.

(Josef Goebbles, ministro de Adolf Hitler)


Reconheço: não sou expert sobre o principal patrimônio histórico de nosso Estado, a ferrovia Madeira-Mamoré. Tenho, quando me convidam a falar sobre o tema, preferido dizer que será melhor ouvirem outras pessoas que, sei e reconheço isso, conhecem muito mais do assunto e chego mesmo a intermediar para que outro, repito, que conheça muito mais o tema, vá lá e conte a história.

Mas alguns fatos relativos à Madeira-Mamoré sempre chamaram a minha atenção e um deles acabou merecendo minha consideração na manhã deste sábado, quando assisti à entrevista num programa da Rede Amazônica, de uma senhora identificada como Ana, turismóloga, e que disse ser professora universitária.

Convidada a palpitar (aqui no sentido de dar palpite), a citada dona Ana repetiu para o infinito de audiência ouvir, a balela de sempre, dita por algumas cabeças por aqui e que é uma tremenda inverdade: que cada dormente representa um trabalhador morto na construção.Ora, consideremos isso como uma verdade verdadeira.

Aqui reporto-me ao professor e historiador Antonio Candido em seu “Enganos da nossa História”: ali ele demonstra que em cada um dos 366 quilômetros, a distância percorrida pela ferrovia, foram usados 1.500 dormentes. Multipliquemos agora 1.500 vezes 366 e teremos a fantástica soma de 549 mil dormentes. Francamente, dá para acreditar que cada dormente represente um homem morto na construção?

Não há como acreditar na estupidez da declaração do senador João Palmério dos Reis que no período da construção disse esse absurdo, e outro, que “a ferrovia era construída em trilhos de ouro, tal o seu custo”. Mas, lamentavelmente, muitas vezes por pura ignorância e outras tantas no intuito de fazer com que uma mentira, como apregoava Goebbles, se transforme em realidade, há os que quando chamados a falar do assunto Madeira-Mamoré, repitam o que disse aquele senador.

Outro que contrapõe ao absurdo da lenda que muitos assumiram como realidade, é um dos maiores, se não o maior cientista que a Amazônia já produzir: o professor Samuel Benchimol que aborda o fato em seus livros.

Fico com os dois, até porque não poderia em sã consciência concordar com números tão absurdos quanto os que crêem e, associando-se a Goebbles multiplicam uma frase mentirosa, apregoam, quando falam da Madeira-Mamoré, irrealidades sem nexo e sem qualquer possibilidade de comprovação.

Ora, e aqui recorro-me novamente ao professor Antonio Candido e sua obra “Enganos da nossa História”, se em cada acampamento havia um médico, e eles faziam registro diário de tudo que acontecia em sua área de atuação, o número dos que morreram para que a estrada fosse erguida em seu roteiro, fica mesmo entre 5 e 6 mil. Mais que isso é acreditar em mula-sem-cabeça-que-bota-fogo-pela-venta e outras coisas, só que essas “outras coisas” são folclore e não mentiras que atentam contra a História.

Inté outro dia, se Deus quiser........

 
 

DATAS DE RONDÔNIA

( 13 a 19 de abril)

Dia 13 – Em 1960 – O navio Rio Tubarão ancora em Porto Velho trazendo equipamentos pesados e uma turma de operários para abrir a BR-29, atual BR-364 (Paulo Nunes Leal, O Outro Braço da Cruz).

Dia 15 – Em 1917 – O jornal O Município, primeiro do gênero a ser impresso em português em Porto Velho, deixa de circular e em seu lugar é editado o jornal Alto Madeira (Lúcio Albuquerque, Da Caixa Francesa à Internet, Um século da Imprensa em Rondônia)

Dia 15 – Em 1970 – Portaria assinada pelo ministro das Minas e Energia Dias Leite proíbe a continuação da garimpagem manual de cassiterita em Rondônia e autoriza só a retirada mecanizada (JornalO Guaporé).

Dia 17 – Em 1943 – Instalada a agência do Banco da Borracha (atual Banco da Amazônia, Basa), tendo como gerente o sr. Raimundo Cantuária (Antonio Cantanhede, Achegas para a História de Porto Velho)

Dia 17 – Em 1945 – A vila de Urupá passa a se chamar Distrito de Vila Rondônia (atual município de Ji-Paraná) conforme o Decreto Lei 7.470, assinado pelo presidente Getúlio Vargas (Vitor Hugo, Cinquenta anos do Território Federal do Guaporé).

Dia 17 – Em 1945 – Pelo decreto-lei 7.420 o município de Santo Antonio deixa de existir e suas terras são incorporadas a Porto Velho (Ovídio Amélio, História e Colonização do Estado de Rondônia).

Dia 17 – Em 1989 – Começa a funcionar a Associação Vilhenense de Educação e Cultura – Faculdade Avec (Pedro Brasil, Vilhena Conta sua História).

Dia 19 – Em 1907 – A empresa May, Jeckyll & Randolph, construtora da Madeira-Mamoré, se instala no local conhecido como Porto Velho dos Militares, mais tarde Porto Velho (Francisco Matias – Pioneiros – Ocupação Humana e Trajetória Política de Rondônia).

Dia 19 – Em 1944 – Fundada a cooperativa central dos Seringalistas do Guaporé LTDA., tendo como presidente o associado Homero de Castro Tourinho (Antonio Cantanhede, Achegas para a História de Porto Velho).

Dia 19 – Em 1944 - O governador Aluízio Ferreira assina o Decreto 14, criando o Serviço de Navegação do Madeira (Antonio Cantanhede, Achegas para a História de Porto Velho).

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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