Sexta-feira, 11 de novembro de 2005 - 12h44
Dona Irlem, vizinhança fantasmagórica. 47 anos, dona Irlem mora sozinha a 4 anos num sítio na ilha de Santo Antonio, antiga prisão. Medo ela só tem de cobras. De fantasmas não. Três vezes por semana, desde que foi abandonada pelo marido, a amazonense Irlem Vale do Nascimento, 47 anos e faiscantes olhos verdes, sai de casa e vai até Porto Velho. Nascida no bairro da Praça 14, em Manaus, mãe de três filhos e avó de três netos, Irlem vive sozinha numa espécie de sítio na ilha de Santo Antonio, onde também residem em outros sítios mais adiante dois outros casais. Ela se estabeleceu na ilha – que para muitos é mal assombrada por que serviu de presídio para centenas de indivíduos entre as décadas de 1970 e 1980, local onde aconteceram muitas mortes, por violência ou por afogamento na tentativa de fugas. “Eu não tenho medo de fantasmas. Tenho medo dos vivos”, diz Irlem enquanto caminha com sua bicicleta desde o porto, onde atracou a canoa na qual veio remando da ilha, e segue para a cidade passando sobre os trilhos da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré justo no local onde foram feitas locações da mini-série Mad-Maria. “A vida na ilha é boa. Falta luz elétrica mas eu tenho duas baterias que garantem dois bicos de luz”, conta ela para em seguida citar que é muito caro trazer o sistema da Ceron até seu sítio, apesar de ter feito o pedido através da Associação do Jatuarana. Além de alguns produtos agrícolas, de uma roça que ela mantém na ilha, Irlem também trabalha como costureira o que a leva a ter de se deslocar de lá até Porto Velho três a quatro vezes por semana. A vida na ilha é sossegada, garante Irlem dizendo que apenas no verão, quando banhistas e outros elementos aproveitam a seca para atravessar a pedreira e entrar na ilha é que acontecem problemas, porque pisam no roçado e destroem a lavoura e outros instrumentos que ela e os demais moradores utilizam. Sorridente, Irlem garante nunca ter visto fantasmas nem ter medo deles. “Me falaram que existem muitos vagando, fazendo estripulias. Eu já estive várias vezes no prédio da prisão abandonada e não vi nada, apenas o abandono”, afirma. Fonte: Lúcio Albuquerque
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