Sábado, 4 de novembro de 2017 - 15h45
Lúcio Albuquerque, repórter
A decisão da ministra Cármen Lúcia, contra o recurso do MEC que pretendia zerar redação de quem, na prova do Enem deste domingo, não concordar com a política do “pensamento único” imposto pelos adeptos do “politicamente correto”, pode ser apenas um degrau na caminhada que este país precisa fazer para acabar com o cerceamento da liberdade de expressão.
Com uma canetada a ministra, que ultimamente vinha sendo criticada, mandou para as calendas o regulamento do Enem que manda dar nota zero a quem, na redação, “desrespeitar os direitos humanos”, um ente que em nosso país faz tempo que só é usado a favor de segmentos que atentem contra a Lei – vide caso agora de um casal de presos no Paraná que ganharam direito a “visita íntima”, o que para acontecer vai ter de mobilizar um esquema para garantir que o parceiro visitante possa ir lá no xadrez de outra penitenciária para, como diz o vulgo, “tirar o atraso”.
O direito à liberdade de expressão faz parte da legislação nacional, mas ultimamente em nosso país isso vem sendo mais uma letra morta, onde o cidadão não pode se expressar como pensa, mas, sim, como determinarem que ele pense, numa autêntica ditadura que, semana passada, neste espaço, já me referi.
Ora, se ao aluno do Enem será cobrada uma redação, não é justo que ele tenha atrelado de imediato ao seu pretenso texto a determinação de que deva responder não conforme sua consciência, mas, sim, como querem os responsáveis pelo exame que já provou há muito tempo precisar ser reformulado.
Determinar uma redação tenha apenas uma linha de pensamento é descaracterizar a própria redação onde o objeto principal é julgar itens como o conhecimento da gramática, a ordenação dos pensamentos, a fidelidade ao tema – o que não quer dizer que se deva escrever apenas conforme o “politicamente correto”, porque isso vai representar um texto como se tivesse que ser um release.
Há quem diga que exigências como tais são uma amostra clara do sistema marxista leninista que hoje comanda setores importantes desta República, especialmente na Educação e na Cultura. No caso da redação do Enem, se não fosse a decisiva participação da ministra, teríamos consagrada a prática da proibição ao direito de pensar, ainda que o texto esteja, do ponto de vista técnico, perfeito conforme a gramática e outros itens cobrados para qualquer redação escolar.
O perigo é que ao corrigir o texto o que estiver fazendo isso deixe de lado todas as regras e, de moto próprio, dê nota zero ou mínima a partir disso, apenas porque o autor expresse aquilo que está na hora da sociedade começar realmente a dizer com relação a coisas tais como os direitos humanos são tratados neste país.
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