Quarta-feira, 20 de março de 2019 - 10h35
Dizem que segredo é uma coisa tão séria que só o fato de você dizer seu segredo a outra pessoa já o expõe a ser multiplicado. Sou contra, por exemplo, quando um policial ou um agente público que trate de assunto de segurança deixe vazar, muitas vezes, talvez pelos 15 segundos de fama, ele próprio explicando com detalhes aquilo que, sem dúvida, não deveria ser explicado – por exemplo: para que mostrar como funciona internamente um presídio de segurança máxima?
Já comentei antes que um importante delegado federal chegou a anunciar, quase um mês antes, em Manaus, numa coletiva, que a PF faria uma grande ação de combate ao tráfico a acontecer em Rondônia. Na ocasião um repórter perguntou a ele se conhecia o ditado popular de que “quando se quer pegar a galinha não se grita “chô!” (É, porque se gritar não fica uma perto}. E foi o que aconteceu: a dica foi bem ouvida por quem tinha interesse de ouvir e a operação não alcançou o que se pretendia.
Nos EUA o presidente Bolsonaro cumpriu uma agenda de quase três dias e, como é do protocolo, ao final, junto com o presidente anfitrião, deu uma coletiva. Perguntado sobre o comportamento brasileiro no caso da Venezuela (nas entrelinhas a questão talvez seria essa: “No caso de uma intervenção militar americana, o Brasil vai apoiar”?). Ele respondeu.
Corte e aparece uma jornalista – que pelo visto é da rede Globo – no “Bom dia Brasil”, comenta, deixando claro que a resposta não atendeu ao que (a empresa?) ela queria ouvir. Ela comenta dizendo que Bolsonaro “desconversou”. Logo a seguir, a jornalista Míriam Leitão fez a mesma colocação, e com certeza, colunistas, comentaristas e alguns “especialistas” no noticiário internético ou de outras formas deverão ir pela mesma linha. A de que Bolsonaro “desconversou”.
Ora, desconversou ou não respondeu efetivamente o que pretendiam ouvir? – e aí, não tenho dúvida, fazer um “carnaval” imenso acusando o presidente brasileiro de subserviência, de expor o país a uma situação que ninguém quer, de querer gastar dinheiro com uma operação militar, etc e etc.
Ora, quem prestou atenção à resposta do presidente brasileiro teve a mesma sensação que eu com relação ao “desconversou”. De seu modo “Tramontina”, Bolsonaro deixou claro que conversa secreta não se divulga. Como ele próprio disse a seguir, estavam na sala só ele, Trump e os dois intérpretes.
Eu não fiz faculdade de Jornalismo. Aliás, eu e muitos da minha geração tivemos a melhor oportunidade de fazer uma “faculdade” em redações onde os mais antigos, a maioria imensa, também não fizeram mas adquiriram tamanhas bagagens muito acima da maioria dos que ficaram quatro anos em banco de escola.
(Observo: não sou contra ninguém que tenha curso superior de Jornalismo, e também já disse e publiquei isso, mas considero a “minha escola”, pelo que venho observando, melhor que muitas de hoje).
E um dos pecados que medalhões e candidatos a tal da Imprensa cometem é justamente deixar de lado o interesse público para atender interesses outros. Talvez alguns estejam passando pelo que eu e outros da minha geração passamos, e então o melhor caminho, o que já tomei algumas vezes, é pedir para sair e não deixar que o sentido ético seja colocado de lado para atender interesses terceiros.
Ou no caso da primeira que perguntou talvez valesse a tentativa de reperguntar, dizendo, como se permite, “Eu não entendi, o senhor poderia explicar novamente?”. Já fiz isso não sei quantas vezes. Agora, como foi o caso das duas colocações posteriores, mudar o sentido da resposta para macular o que disse o entrevistado, aí eu não concordo.
O problema é que muita gente na Imprensa ainda está naquele tempo em que o entrevistado, talvez para ganhar afagos do entrevistador, dava voltas imensas para responder ou, então, respondia o que o autor queria ouvir. Ainda não entenderam o “efeito Tramontina”
Inté outro dia se Deus quiser!
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