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Lucio Albuquerque

O QUE UNIFICOU 1968?



Via-de-regra estudantes de cursos diversos me procuram para saber sobre um ou outro assunto. Via-de-regra quando eu entendo do assunto ou, mesmo não entendendo, mas estando em área da qual eu tenha algum conhecimento procuro me inteirar mais ainda para, depois, responder.

Quando a questão é ligada à história local, minhas fontes de consulta são os historiadores Matias Mendes, Yeda Borzacov, Francisco Matias e Abnael Machado de Lima; os jornalistas Euro Tourinho e Ciro Pinheiro – até 2008 na lista estava, e com destaque,o mestre Esron Penha de Menezes que desde 17 de janeiro deste ano passou para o outro lado do balcão.

Às vezes, mesmo o pessoal da TV, ligam para entrevistar sobre um assunto que não domino plenamente e aí indico outra pessoa para falar, como o historiadorr Emmanoel Gomes da Silva. Mas à pergunta feita pela internet, por dois universitários, sobre asunto ligado à minha geração, essa eu tentei responder, mas acabei não me satisfazendo.

“O que unificou os movimentos de maio de 1968, aquele ano “que não acabou”? perguntaram.

Citavam que em diversas partes do mundo, numa época em que não havia internet e a comunicação telefônica era difícil, de repente a coisa explodiu praticamente ao mesmo tempo, como se houvesse uma conjuração.

“Foi o ouro de Moscou”? pergunta um dos estudantes. “Ouro de Moscou”, para os não iniciados, era como chamavam movimentos supostamente patrocinados pela União soviética, aquele conglomerado de países que viviam sob a égide do “paraíso dos trabalhadores” e que foi implodido da década de 1980 em diante.

Tenho certeza que possa mesmo ter havido algum apoio da “Cortina de Ferro”, como chamavam o bloco de países liderados pela União Soviética, e não descarto esse apoio, porque, de outro lado, também havia a suspeita de que vinha o “ouro de Wasshington”, e não precisa explicar o que representa Washington,

Ora, é preciso entender o que houve em 1968, ano da “Primavera de Praga” – o movimento que enfrentou a URSS na cidade de Praga, capital da então Tchecoslováquia, e o que aconteceu em Paris, quando a proibição de que rapazes visitassem o alojamento das moças, na Universidade de Nanterre, isso em março, acabou desaguando, em maio, numa autêntica ação de guerrilha urbana que se espraiou para outras cidades.

No Brasil vivia-se o quarto ano do regime implantado em 1964 e que, seguindo a linha de gozação do semanário “Pasquim”, prefiro chamar sempre aquilo de “redentora”. De repente, outro motivo fútil, como em Nanterre, o protesto de estudantes contra o aumento do preço do bandejão no restaurante “Calabouço” gerou um choque com policiais e a morte do estudante Edson Luiz.

Na sequência aconteceu de tudo um pouco, com o acirramento da guerrilha urbana, a repressão braba, até que a 13 de dezembro de 1968 a voz solene de Eron Domingues, locutor que apresentava o “Repórter Esso”, comunicou ao Brasil que o general-presidente Costa e Silva havia assinado o Ato Institucional nº 5 (mais ou menos a mesma coisa que hoje é uma Medida Provisória, com a diferença que o AI não tinha de passar pelo Congresso, até porque o AI-5 fechou o Congresso. Mas se considerarmos que as MP atuais em grande maioria acabam aprovadas pelo Congresso, então a parecença pode ser grande).

A chamada “geração de 1968”, aquele grupo de jovens entre os 15 e os 25 anos, e que hoje está entre os 60 e os 70, era oriunda das mudanças havidas a partir da II Guerra Mundial. Ainda na década de 1950, Mary Quant levantou a saia até acima do joelho, mas ela garante que não foi idéia dela, apenas estilizou a moda que já circulava nas ruas.

Essa geração é partícipe dos grandes movimentos que mudaram o mundo. Escrever sobre o assunto daria muito espaço e de um artigo só cansaria o leitor. Daí que eu volto à “vaca fria”: “O que unificou aqueles movimentos?”. Ora, se não havia internet e a televisão estava engatinhando, então como explicar. Sinceramente eu acho difícil e apelo a algum cientista social (eu não conheço qualquer deles) que me socorra.

O certo é que, como se um vento tivesse soprado de um a outro ponto do Planeta, no mesmo tempo, aconteceu. Foi a época do “é proibido proibir”, do desconfiar de quem tivesse mais de 30 anos, ou de “trinta dinheiros”, como dizia a música. Uma época em que se lia muito, apesar de todas as proibições, época em que aluno só passava se soubesse mesmo, época em que ninguém chamava de “nossos heróis” um bando de pessoas que ficassem confinadas, de olho num prêmio 1 milhão, ou de contratos futuros, e tendo seus movimentos monitorados pela televisão .

Uma época que, infelizmente, colocou no primeiro plano personalidades de então que, hoje, são os donos do poder neste país e cujas ações não retratam, nem de longe, o movimento que as gerou, em 1968.

Inté outro dia, se Deus quiser!

Datas de Rondônia

(de 19 a 27 de dezembro)

Dia 19 – 1980 – Morre, no Rio de Janeiro, o coronel Aluízio Pinheiro Ferreira, primeiro superintendente da Madeira-Mamoré, primeiro governador do Território e primeiro deputado federal do Território. (Vitor Hugo, Cinquenta anos do Território Federal do Guaporé)

Dia 22 – 1981 – O presidente João Figueiredo promulga a Lei Complementar número 41 que extingue o Território Federal e cria o Estado de Rondônia. (Lúcio Albuquerque, A Marca da Nossa História (20 anos da ALE-RO))

Dia 22 – 1980 – A antiga estação terminal da EFMM de Guajará-Mirim passa a ser o Museu Histórico Municipal (Professora Tereza Chamma, Calendário de Guajará-Mirim)

Dia 24 – 1914 – O major Fernando Guapindaia de Souza Brejense é nomeado superintendente (prefeito) do município de Porto Velho. Mesmo ato, assinado pelo governador do Amazonas Jonathas Pedroza, nomeia os intendentes (vereadores) (Francisco Matias – Pioneiros – Ocupação Humana e Trajetória Política de Rondônia)

Dia 25 – 1909 – Cândido Rondon, à frente da equipe instaladora da Linha Telegráfica Estratégica iniciada em Cuiabá, chega a Santo Antonio. (Roquete Pinto, Rondônia, Anthropologia – Ethnographia)

Dia 27 – 1914 – Nasce em Humaitá (AM) o historiador Esron Penha de Menezes

Dia 27 – 1995 – Por Lei estadual são criados os municípios de Chupinguaia, São Francisco do Guaporé, Pimenteiras do Oeste e Buritis (Lúcio Albuquerque, A Marca da Nossa História (20 anos da ALE-RO) 

Lúcio Albuquerque
jlucioalbuquerque@gmail.com
 

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