Domingo, 15 de setembro de 2019 - 06h43
Com o falecimento, nesta semana, do advogado e
ex-senador Odacir Soares Rodrigues ficou muito menor o universo dos que atuaram
na política rondoniense no período do Território, especialmente os que a seguir
tiveram influência durante o período inicial do Estado.
Conheci o Odacir quando cheguei aqui, apresentado
ao então presidente regional da ARENA em seu escritório que funcionava nos
altos de um prédio na Presidente Prudente bem próximo ao restaurante Almanara,
onde ele disse que era jornalista e advogado.
Isso aí era 1975 e aos poucos eu fui conhecendo
pessoas que falavam sobre o Odacir, e muitas reclamavam de ter sido ele, como
prefeito, quem madara derrubar as árvores na Sete de Setembro, o que teria
levado ao fim dos “cliperes”, pequenos bares que funcionavam naquela via.
Prefeito duas vezes de Porto Velho, Odacir sempre
falava ter sido em sua gestão (a primeira, em 1971) que o município adquirira
uma usina de beneficiamento de asfalto, até pouco tempo instalada numa área na
esquina das avenidas Tiradentes com Rio Madeir
Outra obra surgida, já em sua segunda gestão, em
1975, foi a criação da Fundacentro, substituída depois pela UNIR, e sempre ele
falava disso.
Duas boas ações, mas até ser louvado, como andei
vendo em alguns sites, na condição de “mito”, isso é um pouco demais.
Naquele ano de 1975 Odacir também deixava de ser o
prefeito de Porto Velho, município que então ia da Ponta do Abunã até Vilhena,
na divisa de Rondônia com Mato Grosso. Quem me narrou como foi sua exoneração –
o prefeito era nomeado – foi quem o exonerou, numa entrevista concedida a mim e
aos jornalistas Montezuma Cruz e José Carlos Sá, em Brasília, foi o então
governador Humberto da Silva Guedes.
Guedes narrou que quando foi comunicado que seria
governador de Rondônia, a única ordem recebida foi exonerar o prefeito de Porto
Velho. E logo na tarde do primeiro dia de expediente, no Palácio Presidente
Vargas, Odacir foi anunciado. Quando entrou no gabinete Guedes comunicou-o da
exoneração.
Na mesma entrevista o governador, que criou as
condições para que o Território fosse substituído pelo Estado, reconheceu que
em seu início de governo teve problemas com segmentos importantes em Porto
Velho, e, apesar de não falar, deixou quase às claras que uma das razões teria
sido o fato de Odacir ser casado com uma jovem, filha de uma família
tradicional da capital.
A partir de sua exoneração Odacir sempre foi citado
como adversário político de Guedes, apesar do então governador sempre ter-se
colocado à distância de questões político-partidárias. Mas isso mudaria três
anos depois, em 1978.
Naquele ano, pela única vez desde 1946 quando o
Território pode eleger uma representação política, ao invés de um deputado
federal seriam eleitos dois. Odacir era presidente da ARENA e, sem dúvida, uma
grande figura do então restrito mundo político local.
Os dois partidos, a governista ARENA e a oposição
consentida MDB, poderiam lançar quatro candidatos. Odacir selecionou ele e mais
três nomes, completando a lista com um obscuro advogado e funcionário do Banco
do Brasil em Guajará-Mirim Isaac Newton. O governador, apesar de pressionado
pelos adversários arenistas de Odacir, não se pronunciava, até que faltando
três semanas para a votação, e supostamente por pressões de Brasília onde,
dizia-se, Odacir já era tratado como “deputado”, Humberto Guedes anuncia que
vai apoiar Isaac que, além de desconhecido fora de Guajará, também tinha
problemas de gagueira. E foi para a luta.
Fim da contagem de votos: Jerônimo Santana, que
também “armou” para se eleger sozinho pelo MDB em 1º lugar e Isaac Newton em
2º. Odacir teve de se contentar com uma suplência. E aqui entra uma diferença
daquilo que andou sendo noticiado em sites diversos: (Odacir) “Assumiu o
mandato de Deputado Federal pelo Território de Rondônia em 1980, com o
afastamento do Deputado Isaac Newton”. Afastamento é bem diferente do que
aconteceu. Ele assumiu porque o titular Isaac Newton licenciou-se, retornando
um ano e pouco mais tarde.
Em 1982 Odacir sai candidato ao Senado pelo PDS e
ganha seu primeiro mandato de oito anos; em 1990 o segundo. Na primeira vez com
o forte apoio, ainda que meio a contragosto, do governador Jorge Teixeira. Na
2ª vez com apoio do candidato a governador Osvaldo Piana.
Em 1983 ele agiu para derrotar a tentativa de
reeleição do seu colega de partido e presidente regional do PDS, o senador
Claudionor Roriz que postulava o cargo, numa disputa em que o candidato do
grupo dissidente, Dezival Reis, foi eleito por um voto e poucos duvidavam então
que se o governador Jorge Teixeira tivesse ido à convenção o resultado teria
sido a reeleição de Claudionor.
Em 1986 o Estado realizou sua primeira eleição a
governador, e Odacir se lançou ao cargo, mas perdeu.
Com Odacir tive apenas um atrito. Numa manhã fui
chamado ao gabinete do diretor do Alto Madeira, Euro Tourinho, onde Odacir
estava, reclamando de matéria feita pelo jornalista Paulinho Correia. Alegava
que algumas colocações do texto ele falara mas não eram para serem publicadas,
admitindo, no entanto, que haviam sido feitas por ele. Tivemos uma rápida
discussão onde eu lembrei a ele, que sempre dizia ter atuado em grandes
veículos de comunicação, haver uma máxima fundamental numa entrevista. Se o
entrevistado não quiser ver publicado, não fale. Se fala é que quer ver
divulgado.
POST SCRIPTUM
Durante vários anos, e por várias vezes
pessoalmente, e duas outras com a companhia do jornalista Montezuma Cruz,
tentei entrevistar Odacir em seu escritório na Rádio FM-93. Ainda que ele
próprio mandasse alguém ligar para ir lá, sempre alegava que mandaria vir de
seu escritório em Brasília pastas de documentos que, dizia, seriam importantes
para o material que estávamos querendo fazer. E todas as vezes adiava para
outra ocasião.
Desde a última vez, creio que em 2018, comecei a pensar que Odacir, como fazem muitos políticos, preferiu evitar uma entrevista onde, tinha a certeza, não seriam tratados só assuntos que ele queria falar mas que sabia estarem na pauta do entrevistador.
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