Terça-feira, 14 de julho de 2020 - 11h19
Talvez porque meus pais não permitiam que seus filhos perturbassem deficientes, e sempre fizeram questão de nos chamar pelos nomes, e não pelos “inhos” comuns com que muitas crianças são tratadas pela família, eu seja contra rotular quem quer que seja, e fico intrigado quando leio ou tomo conhecimento de casos em que uma pessoa seja identificada por algo que possa parecer uma espécie de “adjetivo” que possa levar a se imaginar que fique acima das outras.
Ou que esse “rótulo” a faça imune a cometer algo errado. Até pouco tempo muita gente neste país imaginava que o PT era “sinônimo de ética”. Ainda há alguns anos houve aquele slogan quando se falou em enquadrar o senhor Luiz Inácio como “mensaleiro”. Lembram do “mexeu com o Lula mexeu comigo”?. A história tem provado que não é assim.
Na minha vida profissional tive embates com alguns colegas porque inseriam na notícia que a pessoa acusada de um delito era parente de outra – que nada tinha a ver com o fato. Ora, será que para dar credibilidade à notícia é preciso rotular alguém?
Um exemplo comum é a citação de que “fulano” é maçom. Ainda esses dias discuti o tema com um amigo, professor da Unir, com relação à libertação dos escravos no Amazonas. Ao mandar a citação histórica, ele fez questão de destacar o fato de que o governador que assinou a Lei era “maçom”. Nada tenho contra a maçonaria, tenho bons amigos, e até familiares, maçons, nunca ingressei na Ordem porque não quis, mas entendo que usar o fato de alguém, por dever legal, ter feito alguma coisa e querer fazer imaginar que só cumpriu seu dever por ser maçom, é demais, em meu entendimento.
Há uns quatro anos discuti essa questão com o editor de um site, quando da apreensão de um veículo da frota de órgão público em lugar e horário não condizente com a finalidade do trabalho para o qual o carro fora designado. Entendo, e disse isso, que a orientação dada ao condutor para o uso na finalidade do que fora designado não foi a que ele deveria levar o veículo para, em hora inapropriada, ser flagrado pela Polícia Militar num bordel, como foi a questão.
Recentemente vi no facebook o texto de um jornalista, que admiro pela sua competência, elogiando uma apresentadora de TV e citando – quase que como um adjetivo qualificativo – ser ela evangélica, como se isso possa ser considerado fato positivo na carreira da moça e diferencial na sociedade.
Um fato comum inclusive no dia a dia é alguém descrever outra pessoa e inserir lá o rótulo de que “...ele é evangélico”. Ora, por que o rótulo?
Tenho convivido profissionalmente com pessoas das mais variadas denominações religiosas, além de algumas agnósticas ou não crentes em qualquer religião, pessoas que não colocavam o rótulo para tentar ganhar pontos ou parecer, com raríssimas exceções, beneficiadas por isso.
Convenhamos: para que inserir no texto citação de que a pessoa elogiada pratica essa ou aquela denominação religiosa? Ou destacar a opção sexual do sujeito do fato? Este fato acontece comumente no noticiário por aqui e alhures. Ora, o que tem a ver a opção religiosa ou sexual do camarada com o fato? Será que é para chamar a atenção do leitor, na tentativa de mostrar que se trata de alguém que esteja acima dos outros?
Talvez por ter tido a oportunidade de conviver com profissionais de vários estados, aprendi a não adjetivar qualitativamente. Os mestres com os quais trabalhei ensinavam que se deve deixar ao leitor escolher o nível de admiração que o texto gere, e não induzir através de adjetivos elogiosos.
Felizmente os tive, pratico o que ensinaram e nas conversas constantes com estudantes de Comunicação sempre transmito a mensagem.
Inté outro dia, se Deus quiser
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