Quinta-feira, 16 de janeiro de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Lucio Albuquerque

Por que rotular alguém?


Por que rotular alguém? - Gente de Opinião

Talvez porque meus pais não permitiam que seus filhos perturbassem deficientes, e sempre fizeram questão de nos chamar pelos nomes, e não pelos “inhos” comuns com que muitas crianças são tratadas pela família, eu seja contra rotular quem quer que seja, e fico intrigado quando leio ou tomo conhecimento de casos em que uma pessoa seja identificada por algo que possa parecer uma espécie de “adjetivo” que possa levar a se imaginar que fique acima das outras.

Ou que esse “rótulo” a faça imune a cometer algo errado. Até pouco tempo muita gente neste país imaginava que o PT era “sinônimo de ética”. Ainda há alguns anos houve aquele slogan quando se falou em enquadrar o senhor Luiz Inácio como “mensaleiro”. Lembram do “mexeu com o Lula mexeu comigo”?. A história tem provado que não é assim.

Na minha vida profissional tive embates com alguns colegas porque inseriam na notícia que a pessoa acusada de um delito era parente de outra – que nada tinha a ver com o fato. Ora, será que para dar credibilidade à notícia é preciso rotular alguém?

Um exemplo comum é a citação de que “fulano” é maçom. Ainda esses dias discuti o tema com um amigo, professor da Unir, com relação à libertação dos escravos no Amazonas. Ao mandar a citação histórica, ele fez questão de destacar o fato de que o governador que assinou a Lei era “maçom”. Nada tenho contra a maçonaria, tenho bons amigos, e até familiares, maçons, nunca ingressei na Ordem porque não quis, mas entendo que usar o fato de alguém, por dever legal, ter feito alguma coisa e querer fazer imaginar que só cumpriu seu dever por ser maçom, é demais, em meu entendimento.

Há uns quatro anos discuti essa questão com o editor de um site, quando da apreensão de um veículo da frota de órgão público em lugar e horário não condizente com a finalidade do trabalho para o qual o carro fora designado. Entendo, e disse isso, que a orientação dada ao condutor para o uso na finalidade do que fora designado não foi a que ele deveria levar o veículo para, em hora inapropriada, ser flagrado pela Polícia Militar num bordel, como foi a questão.

Recentemente vi no facebook o texto de um jornalista, que admiro pela sua competência, elogiando uma apresentadora de TV e citando – quase que como um adjetivo qualificativo – ser ela evangélica, como se isso possa ser considerado fato positivo na carreira da moça e diferencial na sociedade.

Um fato comum inclusive no dia a dia é alguém descrever outra pessoa e inserir lá o rótulo de que “...ele é evangélico”. Ora, por que o rótulo?

Tenho convivido profissionalmente com pessoas das mais variadas denominações religiosas,  além de algumas agnósticas ou não crentes em qualquer religião, pessoas que não colocavam o rótulo para tentar ganhar pontos ou parecer, com raríssimas exceções, beneficiadas por isso.

Convenhamos: para que inserir no texto citação de que a pessoa elogiada pratica essa ou aquela denominação religiosa? Ou destacar a opção sexual do sujeito do fato? Este fato acontece comumente no noticiário por aqui e alhures. Ora, o que tem a ver a opção religiosa ou sexual do camarada com o fato? Será que é para chamar a atenção do leitor, na tentativa de mostrar que se trata de alguém que esteja acima dos outros?

Talvez por ter tido a oportunidade de conviver com profissionais de vários estados, aprendi a não adjetivar qualitativamente. Os mestres com os quais trabalhei ensinavam que se deve deixar ao leitor escolher o nível de admiração que o texto gere, e não induzir através de adjetivos elogiosos.

Felizmente os tive, pratico o que ensinaram e nas conversas constantes com estudantes de Comunicação sempre transmito a mensagem.

Inté outro dia, se Deus quiser

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoQuinta-feira, 16 de janeiro de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Há 30 anos morria o homem-lenda da Amazônia (III)

Há 30 anos morria o homem-lenda da Amazônia (III)

Coloque-se em minha situação: há um grande projeto de alto interesse de seu Estado em tramitação final na Câmara dos Deputados, você trabalha com um g

Há 37 anos morria o homem-lenda da Amazônia (II)

Há 37 anos morria o homem-lenda da Amazônia (II)

Conheci o Teixeirão (de 1979 a 2005 governador de Rondônia) no final da década de 1960, em Manaus. Nunca fomos o que se pode chamar de amigos. Quando

Há 37 anos morria o homem-lenda da Amazônia (I)

Há 37 anos morria o homem-lenda da Amazônia (I)

A 28 de fevereiro de 1987 o homem que virou lenda na Amazônia foi para o Valhalla. Se Getúlio Vargas escreveu que saía da vida para entrar na históri

Já deu na imprensa, mas... (É bom ver de novo)

Já deu na imprensa, mas... (É bom ver de novo)

O desabamento de fachadas de prédios no domingo, em Porto Velho, pode ser um aviso para possibilidades de eventos similares ocorrerem na “cidade vel

Gente de Opinião Quinta-feira, 16 de janeiro de 2025 | Porto Velho (RO)