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Lucio Albuquerque

Rachid, um dos heróis da construção da BR-364 morreu 3ª feira em Cuiabá



Lúcio Albuquerque, repórter

1960. Fevereiro. O governador Paulo Nunes Leal desafia o presidente JK dizendo que abrir uma estrada ligando Brasília a Porto Velho era “Coisa de macho”. E JK, “O Artista do Impossível” (*), topou o desafio e quatro meses depois derrubava a última árvore que separava as turmas de trabalhadores, uma saindo de Cuiabá e outra de Porto Velho, se encontraram em Vilhena e abriram a rodovia.

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Dentre as centenas de trabalhadores que atenderam ao apelo de JK e vieram para abrir uma estrada ligando a “Capital da Esperança” ao “Inferno Verde”, estava um jovem que pouco tempo antes havia recebido seu diploma de médico das mãos do próprio “Artista do Impossível”, o mato-grossense Leônidas Rachid Jaudy.

E neste 29 de julho, o Doutor Rachid, que havia retornado a residir em Cuiabá foi chamado para trabalhar na abertura de outra estrada, no Valhalla, onde certamente deve ter encontrado outros que com ele conviveram como Paulo Leal, Eduardo Lima e Silva e o próprio Juscelino Kubistcheck de Oliveira.


EM RONDÔNIA

Leônidas Rachid não só trabalhou na abertura da rodovia BR-364, então chamada BR-29. Ele atuou em Porto Velho no hospital que servia de atendimento aos trabalhadores da construção da estrada – prédio onde funciona atualmente a Assembleia Legislativa – e teve forte participação política, como candidato a deputado federal em 1974 pela Arena, um dos dois “partidos consentidos” no período 1967/1981.

Naquela eleição Rachid não galgou sucesso, mas na primeira disputa estadual, em 1982 ele estava entre os oito deputados federais que compuseram a primeira bancada rondoniense no Congresso Nacional, eleito agora pelo PDS.

E o Dr. Rachid participou de um fato que nas hostes políticas ficou conhecido como “Jantar dos Senadores”, título do livro que vai tratar da política em Rondônia desde 1912 até 1998, e que estou finalizando, e que conta como o governador Jorge Teixeira escolheu os quatro candidatos ao Senado pelo PDS naquela eleição de 1982. Veja, na edição de amanhã, trechos do capítulo “O Jantar dos Senadores”.

 (*) Livro de Cláudio Bojuga sobre a vida e a obra de JK

 O JANTAR DOS SENADORES

De todos os Estados da Federação só Rondônia elegeria em 1982 três senadores – nos outros apenas uma vaga estava em disputa. Isso, lógico, atiçou o interesse de muita gente, além da atenção especial da Presidência da República para que os eleitos fossem do PDS, aumentando a bancada governista no Senado. Segundo a legislação seriam eleitos os três mais votados, o primeiro com mandato de oito anos e os dois últimos só de quatro.

Cada partido poderia lançar até dois candidatos por vaga, mas Teixeirão já decidira que seria apenas uma chapa e três candidatos, até por uma questão de estratégia: caso fossem duas listas, a votação seria pulverizada com a possibilidade de que a chapa do PMDB, liderada pelo deputado federal Jerônimo Santana, elegesse os três – como aconteceria quatro anos depois na derrota de Chiquilito Erse na disputa pelo Senado.

Em Rondônia o PDS tinha oito pretendentes às três vagas. Cada um tinha seu próprio motivo e se julgava com direitos adquiridos. A maioria já estava com suas propagandas prontas: Senador Fulano de Tal. Sem acordo, Teixeirão chamou todos para um jantar em sua casa, na Vila Cujubim, onde cada um dos convivas foi chegando, certo de que seria o ungido, com discursos prontos para pedir união e respeito à decisão, claro se o orador fosse um dos escolhidos.

O médico Leônidas Rachid, o advogado Odacir Soares, o vilhenense Flávio Donin, o ex-deputado federal paulista Antonio Morimoto, o ex-superintendente do Incra Galvão Modesto, o coronel Carlos Godoy, o presidente regional do PDS Claudionor Couto Roriz e um cristão-novo na região, Antonio Pedreira.

Amigos e assessores dos candidatos já comemoravam. Na casa de Rachid, um grupo dentre os quais o bioquímico Oadmil Monteiro e o fazendeiro Dezival Ribeiro já festejavam. Dezival lembrou: “Nós estávamos soltando foguetes e tomando cerveja, tirando gosto com galinha frita. A Campanha já estava pronta, quando o Rachid chegou e disse que não seria candidato esfriou tudo.

Ao fim do jantar Teixeirão, ao seu estilo, anunciou os escolhidos: Claudionor Roriz, por ser presidente do partido; Odacir Soares, por determinação da direção nacional do PDS e Galvão Modesto, por causa da força eleitoral do Incra. (O agrônomo Assis Canuto em entrevista ao autor disse ter sido sondado por Teixeirão a disputar o Senado. Mas preferiu ser deputado federal. Foi eleito).

Os outros se entreolharam. Morimoto cobrou de Teixeirão a vaga prometida quando Morimoto era deputado federal por São Paulo e relator do projeto de criação do Estado. Para Godoy o fato de ser companheiro de Armas do governador o faria merecedor da vaga. Rachid alegava um compromisso do governador com ele.

Rachid foi para casa. “Quando o carro dele chegou próximo começamos a soltar foguetes e a festejar. Já tínhamos tomado alguns uísques, mas o efeito passou rápido quando ele desceu e disse que não fora indicado e que estava disposto a ir para o PMDB”, continuou Dezival Reis.

Já com vaga certa entre os candidatos a deputado federal, Assis Canuto disse que tão logo soube da não inclusão do amigo Rachid dentre os três procurou-o, “mas foi uma dificuldade fazê-lo aceitar a nova condição”. Rachid foi eleito deputado federal. Em 1986 não conseguiu a reeleição.

O texto é parte do Capítulo XXIII do livro Jantar dos Senadores, de autoria de Lúcio Albuquerque, com lançamento previsto para dezembro.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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