Sábado, 9 de março de 2019 - 10h26
Que o presidente Jair Bolsonaro precisa levar uma espécie de “puxão de orelha” em relação a falas fora de tempo, ou permitir que seus filhos interfiram e acabem complicando sua ação presidencial - já fiz referência a isso em comentário passado – eu também não tenho qualquer dúvida. Que essas coisas acabam dando espaço a pronunciamentos até de quem não tem muito respeito público, alguns deles ressentidos por decisões que estão sendo tomadas, e que precisam ser tomadas, disso também não tenho dúvida.
Sem bandeiras coerentes, ou capazes de, com elas, mostrarem estar falando sério, ainda mais pelos desgastes sofridos em razão do apoio dado nos últimos 20 anos a governantes que deixaram o país numa situação difícil, interna e eternamente, os que se dizem opositores e segmentos importantes da mídia, têm feito de cada fala presidencial suas pautas – no caso da Imprensa certamente porque há interesses que possam estar sendo feridos, e aí aplica-se aquele ditado tão comum nas minhas origens o de que “a parte do corpo humano que dói mais é o bolso”.
A recente fala presidencial durante as comemorações do dia do Fuzileiro Naval, acendeu aqueles que não sabem ler além do que ouvem, incapazes, pelo menos, a fazer um contexto histórico.
Vamos à frase e à história: Bolsonaro, em síntese, afirmou que Democracia só existe quando os militares querem, ou coisa parecida. Ora, basta nós irmos buscar na História da República brasileira para vermos que há muito de verdade naquilo que ele deixou sair na formatura da Marinha. Senão, vejamos:
1889 – Na proclamação da República foi fundamental a participação de militares. Daí veio todo o processo que levou ao novo regime.
1930 – Os militares intervém através da revolução que guindou Vargas no Catete.
1945 – Depois de 15 anos de varguismo, os militares pressionaram e tivemos um presidente eleito – era militar, mas foi eleito.
1956 – Foi a ação de um militar, o Marechal Lott, que permitiu à vontade popular expressa nas urnas, ser obedecida e tivemos o Governo JK, o que prometeu, e cumpriu fazer “Cinquenta anos em cinco”.
1964 – Militares tomam o governo e acaba a Democracia.
1985 – Outra vez saem os militares e voltam os civis.
2013 – Manifestações em todo o país repetem pedido de 1964, mas os miliares, ainda que tivessem alguma interesse em ouvir e fazer valer “a voz das ruas”, ficam nos quartéis, ainda que líderes (lembram daquele líder que queria botar o “exército de Stédile na rua”?) e segmentos ligados aos então “donos do poder” fizeram muito para tentar que o quartel deixasse a caserna e agisse, na esperança de que, outra vez, aparecerem como vítimas.
2018 – Pelo voto, sem outras questões, um ex-militar foi eleito presidente com uma campanha totalmente diferente de todas as outras. De qualquer forma, sendo capitão da reserva, o presidente eleito está na vida civil há mais de 30 anos.
O que incomoda muita gente é forma de governar. E o que incomoda muitos mais é que neste país, pela primeira vez, um candidato falou direto a cada um de nós, sem firulas, sem os rodeios comuns.
Claro, há os que independente do que Bolsonaro disser, ou seu governo fizer, há o que se declarem progressistas, “políticamente corretos” e outros auto epitetados, incapazes de admitir que Brasil não pode continuar como se comportou nos últimos 20 anos e que, na maioria das vezes, um tratamento de choque pode ser o remédio necessário, até porque esse tratamento de choque atinge não só perda ´política, mas outras que, como o velho e sábio ditado, tende a derrubar “santos com pés de barro”
O que acho interessante é que pessoas que têm conhecimento da história, preferem fingir que tudo que aconteceu desde a República não teve participação de militares, ou, pior, não admitirem que eles são uma parte da sociedade. Uma parte, como todas as outras, deve ter oportunidade de participar e, claro, de dar sua parcela de contribuição e que, muitas vezes, como outra qualquer categoria profissional, também não quer sejam mexidos naquilo que tenham conquistado, mas que devem ser cobrados também no dever de ajudar, e por isso mudar.
Considere-se dito!
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