Quinta-feira, 22 de novembro de 2012 - 18h48
Lúcio Albuquerque
A notícia logo se espalhou no enclave rondoniense no Valhalla: “O Bártolo ‘tá chegando”. A “rádio cipó” fez o resto do trabalho e a turma se aglomerou ali na porta de entrada enquanto os novos moradores apresentavam seus passaportes ao pessoal da recepção. Mas nada do Bártolo chegar. Alguns já diziam que era rebate falso, enquanto outros garantiam que ele antes estava preparando uma nova composição. Até que o historiador Esron Menezes disse: “Estou ouvindo o som de um violão”.
Todos apuraram os ouvidos, mas era bem baixinho, mas aos poucos, além do excelente violão, também a voz inconfundível do melhor dos seresteiros que Rondônia já produziu, foi tomando o espaço e as atenções.
A comissão de recepção era enorme, alguns com seus instrumentos musicais prontos para começar a festa ali mesmo, mas a turma estava circunspecta porque bem à frente estavam alguns dos grandes amigos do recém-chegado, os bispos dom Francisco Xavier Rey e dom João Batista Costa, este tendo ao lado o “Beleza” que foi durante mais de 45 anos uma espécie de faz-tudo na catedral de Porto Velho. Havia também a representação da “colônia” guajaramirense: o coronel Paulo Saldanha e o Capitão Alípio. Além deles os ex-governadores Paulo Nunes Leal e Jorge Teixeira, a professora Marise Castiel, o ex-prefeito Chiquilito Erse, os ex-deputados Amizael Silva e Walderedo Paiva, todos grandes amigos de Bártolo.
Na fila de abraços estavam também os seresteiros Esron Menezes, Jorge Andrade, Capote, Cotia, Ubiratan Sampaio, Sérgio Valente e Vinícius Danin, o Dabi Asthe, o Câmara Leme, o sambista Bola Sete, a maioria do grupo de músicos que durante muitas noites saíam pelas ruas, quando a lua aparecia, cantando. Com eles, o chapelão imenso metido na cabeça, o vozeirão sempre bom e cobrando que queria os acordes do Bártolo para acompanhá-lo como fizera nas vezes em que se apresentou em Porto Velho, ninguém menos do que um dos reis da boemia brasileira, Valdik Soriano.
Bártolo passou da linha de chegada e já foi sendo questionado pela comissão de recepção: “Por que você demorou tanto para chegar?”. E o recém-chegado, com aquela voz de sempre e um sorriso maroto explicou: “É que eu vinha tocando violão e aí os da fila começaram a pedir mais músicas”.
Mal passou da recepção os ex-governadores Paulo Leal e Jorge Teixeira puxaram Bártolo para um lado e disseram: “Festeja mas não esqueça que já temos uma missão para você”. Quando as autoridades foram embora, a festa começou. Mas ele pediu que primeiro cantaria uma música em homenagem a uma mulher que estava mais adiante e nem fora notada pelos que o foram recepcionar.
E cantou “Mãe sofredora”, homenagem à senhora Amatilde Oliveira, mãe do tenente Fernando, desaparecido na região onde hoje fica a hidrelétrica de Samuel em 1945, um episódio nunca realmente esclarecido.
Daí em diante a noite começou a se desenhar e certamente pronta para ser uma longa no céu. O grupo se arrumou e a seresta foi em frente, com o séquito circulando pelos muitos locais do Valhalla.
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