Quarta-feira, 7 de maio de 2014 - 05h02
Lúcio Albuquerque
Resumo: No dia 29 de julho de 1945 o tenente engenheiro do Exército Fernando Gomes de Oliveira desapareceu nas selvas da região de São Pedro (onde está instalada atualmente a hidrelétrica de Samuel), logo depois de sair para caçar um inambu em companhia de dois outros militares que se encontravam no acampamento. O tenente Fernando nunca mais foi visto, apesar de todas as buscas. O sumiço gerou uma série imensa de pistas e versões, mas sem qualquer resultado final. O uso político do desaparecimento é uma questão que ainda levanta paixões, 70 anos depois
Uma das versões mais citadas a respeito do desaparecimento do tenente Fernando é a de que isso decorreu em razão do oficial, numa noite à frente de uma patrulha mista (soldados da 3ª Companhia de Fronteira (atual 17ª Brigada de Infantaria de Selva) e da Guarda Territorial (atual Polícia Militar) ter invadido o terreiro de Santa Bárbara, localizado no bairro do mesmo nome, e promovido um quebra-quebra de tambores e lugares sagrados, além de ameaçar a mãe-de-santo Esperança Rita.
O rufar dos tambores, conforme o jornalista Euro Tourinho, diretor do jornal ALTO MADEIRA, sempre atraía para o Santa Bárbara pessoas que não tinham ligação com o terreiro, “apenas iam ali para conversar, às vezes namorar, enquanto outros iam cumprir suas obrigações”.
O jornalista Euro Tourinho é um dos poucos que moravam em Porto Velho em 1945 e que acompanhou todo o acontecimento. “A cidade era pequena. Um fato como esse, ainda mais com a repercussão que teve, com a vinda de equipes de buscas do Exército e a presença de jornalistas dos mais renomados aqui, claro que todos nós sabíamos do que acontecia”, lembrou, em entrevista em 2006.
Naquela entrevista Euro levantou uma questão que contrapõe à versão do desaparecimento em razão de castigo espiritual. . “Isso é invenção”, garantiu o jornalista Euro Tourinho, o que reafirmou ainda na última segunda-feira na redação do AM.
Recentemente o autor tomou conhecimento de que durante uma sessão o espírito do tenente Fernando teria baixado e pedido desculpas, alegando que fizera tudo por causa da educação que recebera de seus pais.
Sobre a versão da invasão e da punição, sustentada por algumas pessoas, além desse pedido de desculpas, o autor procurou se informar. Ouviu a senhora Marlene Sousa Monteiro, nome civil, conhecida entre os fiéis pelo nome religioso: Sacerdotisa Yakolecy. Ela não tem qualquer dúvida de que o tenente realmente invadiu o terreiro. E garante isso com base no depoimento narrado pelo seu pai, o sargento GT Luiz Hugo.
E que pagou um alto preço por isso, mas negou conhecer qualquer fato relacionado ao pedido de desculpas.
MEU PAI FOI TORTURADO
“Meu pai era sargento da Guarda Territorial (*) e estava na patrulha quando o tenente Fernando invadiu o terreiro de Santa Bárbara destruindo os tambores e outros instrumentos, desrespeitando aquele local sagrado e agredindo os praticantes da fé, inclusive a Mãe Esperança Rita”.
A narrativa é da funcionária pública aposentada, senhora Marlene Sousa Monteiro, nome civil, conhecida por muitos pelo nome religioso: Sacerdotisa Yakolecy.
Dias depois da invasão do terreiro, o pai dela, o sargento GT Luiz Hugo Ximenes Monteiro, se encontrava no acampamento da 2ª Companhia Rodoviária Independente, quando o tenente Fernando saiu para caçar uma inambu e desapareceu.
Ela conta o que seu pai, , disse que a própria senhora Esperança Rita não teria permitido que, mesmo agredida pelo oficial, os membros da irmandade reagissem. A única reação de Mãe Esperança, segundo a sacerdotisa, foi dizer ao tenente Fernando que ele iria se arrepender do que fizera àquele local sagrado. Ela continua:
“A patrulha naquele tempo era mista, de soldados da 3ª Companhia de Fronteira e da Guarda Territorial. Quando chegaram ao local o tenente desceu do carro e disse que assumia toda a responsabilidade pelo que iriam fazer. Meu pai discutiu com ele e disse que não acataria a ordem de invadir aquele local que ele sabia ser sagrado”.
No dia seguinte o sargento GT Luiz Hugo seguiu para o acampamento da 2ª Rodoviária. “Meu pai contou que o tenente Fernando saiu sozinho, ninguém foi com ele”.
Logo depois do desaparecimento o pai da Sacerdotisa Yakolecy foi preso e torturado. “Arrancaram as unhas dele, ele sofreu muito e logo depois que foi liberado fugiu para as matas onde ficou trabalhando como seringueiro durante muito tempo”.
Sobre as várias versões do desaparecimento do tenente Fernando a Sacerdotisa Yakolecy só acredita em uma, a gerada pela frase de Mãe Esperança Rita. “Ele pagou para os encantados da mata. Ninguém brinca com eles e fica impune”.
Sobre a citação de que o espírito do tenente Fernando teria aparecido numa sessão de um terreiro, pedindo desculpas, alegando que seu erro foi devido à educação que recebera de seus pais, a Sacerdotisa Yakolecy disse desconhecer inteiramente.
(*) Guarda Territorial – Constituída em 1944 pelo governador Aluízio Pinheiro Ferreira, foi o órgão precursor da Polícia Militar de Rondônia, instituída em 1975.
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