Sábado, 20 de fevereiro de 2021 - 10h07
Irrequieta, Tereza Merino Chamma, foi para o Valhalla, ela, a mais guajaramirense de todos os bolivianos que um dia passaram para o lado de cá do Rio Mamoré, um rio a respeito do qual o acadêmico Paulo Saldanha diz “mais une do que separa Brasil e Bolívia”. Ela pegou o “expresso da meia noite” e chegou ao Valhalla, onde só os melhores e mais nobres guerreiros são selecionados para ficar, como recompensa do muito que tenham feito quando de suas passagens terrenas. Na chegada ela foi recebida na porta do céu pelo violão e a excelente voz de um dos maiores boêmios que Rondônia já produziu, ninguém menos que Walter Bártolo, e seu violão.
Mas Bártolo não estava só, porque também um grupo de guajaramirenses, alguns por adoção, como ela, mas todos amantes e vibradores com a terra onde tradição e cultura se mantém, apesar de tudo, valorizando a saga daqueles que abriram caminho e cujas memórias são sempre lembradas pelos descendentes, mostrando o orgulho de uma gente muitas vezes esquecida, sentimento que pode ser resumido numa frase dita a mim e aos jornalistas José Carlos Sá e Montezuma Cruz, pelo ex-governador Humberto Guedes. Ao referir a Guajará-Mirim disse o governador que muito fez para o surgimento do Estado. “Lamento que não fiz tanto por Guajará-Mirim, preocupado com a chegada de tanta gente pelo sul do Território”.
Na porta do céu estava, além de Bártolo, com seu violão e voz, outro músico guajaramirense, Márcio Paz Menacho, chegado ao Valhalla um tempo antes. “Tempo”? Que tal Platão falar do assunto? “Existe o mito do eterno retorno, onde o tempo era um movimento cíclico e assim tudo aquilo que acontecia no passado era repetido e retornava novamente”, disse o filósofo.
Mas também lá se encontravam mais alguns ilustres guerreiros, um deles, guajaramirense por amor à Pérola, o professor e criador da Academia de Letras de Rondônia - ACLER, , Abnael Machado de Lima que, várias vezes, elogiou a energia com que Tereza se dedicava a tudo que fazia. Abnael tinha ao lado outro membro fundador da Acler, o historiador Esron Penha de Menezes e, enquanto esperavam, como sempre quando se encontravam, as conversas iam para a discussão da luta política entre cutubas (Esron) e peles-curtas (Abnael), assistida com várias incursões, naquele vozeirão audível a centenas de metros, de Isaac Bennesby, para muitos o melhor prefeito que a “Pérola” já teve.
Nas proximidades, outros nomes importantes, alguns que nem conheciam “essa menina”, como disse o grande pioneiro coronel Paulo da Cruz Saldanha, ao lado de um circunspecto personagem da história de Guajará, Boucinhas de Menezes, primeiro prefeito do município. E por que estão aqui?, quis saber um conhecido com muitas histórias para contar, o jornalista Euro Tourinho, membro da Acler, que discutia com o também membro fundador da Acler o professor Amizael Gomes da Silva, a respeito da figura do coronel Paulo Saldanha. Boucinhas respondeu e o coronel Saldanha balançou a cabeça: “Porque já ouvi falar muito de como ela ama nossa terra”.
Mais adiante outros senhores conversavam. Ambos conheceram Tereza, sendo, como ela e outros, também personagens importantes da história daquela região, dom Francisco Xavier Rey, chamado por antigos moradores como o “Santo do Guaporé”. A seu lado outro nome importante para a região, Dom Geraldo Verdier. Com os dois outro, nem tanto santo, mas certamente muito respeitado e honrado, o capitão Alípio, e pelo muito que fez para honrar aquela gente da fronteira também teve lugar no Valhalla.
Bem ao seu modo, Tereza já veio organizando a fila, conversando com os demais, fazendo amizades novas, o que deve ter atrasado um pouco sua chegada à recepção, onde o atendente informou que havia um grupo esperando do outro lado do portão, e quando ela surgiu quebraram as barreiras de segurança e os abraços foram muitos.
E ali mesmo Tereza Chamma fez uma convocação: fundar uma entidade voltada à cultura e às letras, se dispondo a organizar a papelada, lembrando estar “quentinha” com o que tinha manuseado há bem pouco tempo na Academia Guajaramirense de Letras da qual era presidente, fazendo ali mesmo uma convocatória a outros acadêmicos chegados antes dela para formar a Academia de Letras do Valhalla.
(*) Minha maneira de homenagear quem Deus já chamou é lembrar de forma positiva deles, chegando ao Valhalla, que para os vikings era o céu dos grandes e nobres guerreiros. E o “expresso da meia-noite” o transporte usado para a outra dimensão.
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