Sexta-feira, 17 de janeiro de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Lucio Albuquerque

Tereza já articula a criação da Academia de Letras no céu


Tereza já articula a criação da Academia de Letras no céu - Gente de Opinião

Irrequieta, Tereza Merino Chamma, foi para o Valhalla, ela, a mais guajaramirense de todos os bolivianos que um dia passaram para o lado de cá do Rio Mamoré, um rio a respeito do qual o acadêmico Paulo Saldanha diz “mais une do que separa Brasil e Bolívia”. Ela  pegou o “expresso da meia noite” e chegou ao Valhalla, onde só os melhores e mais nobres guerreiros são selecionados para ficar, como recompensa do muito que tenham feito quando de suas passagens terrenas. Na chegada ela foi recebida na porta do céu pelo violão e a excelente voz de um dos maiores boêmios que Rondônia já produziu, ninguém menos que Walter Bártolo, e seu violão.

Mas Bártolo não estava só, porque também um grupo de guajaramirenses, alguns por adoção, como ela, mas todos amantes e vibradores com a terra onde tradição e cultura se mantém, apesar de tudo, valorizando a saga daqueles que abriram caminho e cujas memórias são sempre lembradas pelos descendentes, mostrando  o orgulho de uma gente muitas vezes esquecida, sentimento que pode ser resumido numa frase dita a mim e aos jornalistas José Carlos Sá e Montezuma Cruz, pelo ex-governador Humberto Guedes. Ao referir a Guajará-Mirim disse o governador que muito fez para o surgimento do Estado. “Lamento que não fiz tanto por Guajará-Mirim, preocupado com a chegada de tanta gente pelo sul do Território”.

Na porta do céu estava, além de Bártolo, com seu violão e voz, outro músico guajaramirense, Márcio Paz Menacho, chegado ao Valhalla um tempo antes. “Tempo”? Que tal Platão falar do assunto? “Existe o mito do eterno retorno, onde o tempo era um movimento cíclico e assim tudo aquilo que acontecia no passado era repetido e retornava novamente”, disse o filósofo. 

Mas também lá se encontravam mais alguns ilustres guerreiros, um deles,  guajaramirense por amor à Pérola, o professor e criador da Academia de Letras de Rondônia - ACLER, ,  Abnael Machado de Lima  que, várias vezes, elogiou a energia com que Tereza se dedicava a tudo que fazia. Abnael tinha ao lado outro membro fundador da Acler, o historiador Esron Penha de Menezes e, enquanto esperavam, como sempre quando se encontravam, as conversas iam para a discussão da luta política entre cutubas (Esron) e peles-curtas (Abnael), assistida com várias incursões, naquele vozeirão audível a centenas de metros, de Isaac Bennesby, para muitos o melhor prefeito que a “Pérola” já teve. 

Nas proximidades, outros nomes importantes, alguns que nem conheciam “essa menina”, como disse o grande pioneiro coronel Paulo da Cruz Saldanha, ao lado de um circunspecto  personagem da história de Guajará, Boucinhas de Menezes, primeiro prefeito do município. E por que estão aqui?, quis saber um conhecido com muitas histórias para contar, o jornalista Euro Tourinho, membro da Acler, que discutia com o também membro fundador da Acler o professor Amizael Gomes da Silva, a respeito da figura do coronel Paulo Saldanha. Boucinhas respondeu e o coronel Saldanha balançou a cabeça: “Porque já ouvi falar muito de como ela ama nossa terra”.

Mais adiante outros senhores conversavam. Ambos conheceram Tereza, sendo, como ela e outros, também personagens importantes da história daquela região, dom Francisco Xavier Rey, chamado por antigos moradores como o “Santo do Guaporé”. A seu lado outro nome importante para a região, Dom Geraldo Verdier. Com os dois outro, nem tanto santo, mas certamente muito respeitado e honrado, o capitão Alípio, e pelo muito que fez para honrar aquela gente da fronteira também teve lugar no Valhalla.

Bem ao seu modo, Tereza já veio organizando a fila, conversando com os demais, fazendo amizades novas, o que deve ter atrasado um pouco sua chegada à recepção, onde o atendente informou que havia um grupo esperando do outro lado do portão, e quando ela surgiu quebraram as barreiras de segurança e os abraços foram muitos.

E ali mesmo Tereza Chamma fez uma convocação: fundar uma entidade voltada à cultura e às letras, se dispondo a organizar a papelada, lembrando estar “quentinha” com o que tinha manuseado há bem pouco tempo na Academia Guajaramirense de Letras da qual era presidente, fazendo ali mesmo uma convocatória a outros acadêmicos chegados antes dela para formar a Academia de Letras do Valhalla. 

(*) Minha maneira de homenagear quem Deus já chamou é lembrar de forma positiva deles, chegando ao Valhalla, que para os vikings era o céu dos grandes e nobres guerreiros. E o “expresso da meia-noite” o transporte usado para a outra dimensão.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoSexta-feira, 17 de janeiro de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Há 30 anos morria o homem-lenda da Amazônia (III)

Há 30 anos morria o homem-lenda da Amazônia (III)

Coloque-se em minha situação: há um grande projeto de alto interesse de seu Estado em tramitação final na Câmara dos Deputados, você trabalha com um g

Há 37 anos morria o homem-lenda da Amazônia (II)

Há 37 anos morria o homem-lenda da Amazônia (II)

Conheci o Teixeirão (de 1979 a 2005 governador de Rondônia) no final da década de 1960, em Manaus. Nunca fomos o que se pode chamar de amigos. Quando

Há 37 anos morria o homem-lenda da Amazônia (I)

Há 37 anos morria o homem-lenda da Amazônia (I)

A 28 de fevereiro de 1987 o homem que virou lenda na Amazônia foi para o Valhalla. Se Getúlio Vargas escreveu que saía da vida para entrar na históri

Já deu na imprensa, mas... (É bom ver de novo)

Já deu na imprensa, mas... (É bom ver de novo)

O desabamento de fachadas de prédios no domingo, em Porto Velho, pode ser um aviso para possibilidades de eventos similares ocorrerem na “cidade vel

Gente de Opinião Sexta-feira, 17 de janeiro de 2025 | Porto Velho (RO)