Sábado, 12 de julho de 2014 - 16h22
Em 1982 ainda vivíamos o período dos últimos estertores da “ditadura”, e o Brasil “viveu” o que passaram a chamar de “tragédia do Sarriá”. Em 1986, praticamente com o mesmo grupo de jogadores e a comissão técnica, tivemos a “tragédia do Jalisco” quando perdemos nos pênaltis para a França. Nem é bom lembrar da decisão de 1998 quando, novamente,a França levou, e o que é pior, ficou no ar aquele cheirinho terrível de coisa mal explicada.
Neste país, onde estamos nos acostumando a alguém classificar de “tragédia” a derrota de um time de futebol, e onde um apresentador de TV já chamou de “nossos heróis” a um grupo de pessoas confinadas em um programa de baixo nível moral, é notório que os valores que algumas gerações nos passaram estão a cada vez mais atirados para baixo de um tapete enquanto se louva o que não deve ser louvado.
Convenhamos: quem perdeu naqueles casos foi o país Brasil ou foi um time de futebol que nem leva a bandeira nacional em seu uniforme?. E, francamente – estou escrevendo antes do jogo pelo terceiro lugar – alguém imagina que o mundo acabou para jogadores, comissão técnica, CBF e a chamada “imprensa especializada”?.
Cada um vai levar sua vida, não duvidem, ainda mais porque teremos de volta os campeonatos brasileiros com seus baixos níveis técnicos, mas novamente vamos ter nossos especializados jornalistas movidos, sabe lá a que, apontando um ou outro cabeça-de-bagre como novo craque nacional, “inigualável”.
Tragédia? Tragédia é ver a situação em que o Brasil se encontra, nos níveis mais baixos em relação a muitos outros países, alguns com muito menor porte que aquele que chamam de “a pátria de chuteiras” no que diz respeito à segurança, educação, meritocracia, segurança, infra-estrutura etc.
Tragédia é uma criança necessitando de uma operação múltipla, só feita nos Estados Unidos, e para a qual alguns agentes do governo negaram o direito de lutar pela vida. Tragédia é uma mãe entrar com representação judicial para processar um professor que tomou do filho dela, durante uma aula, o celular que o garoto usava. Felizmente a decisão de um juiz ameaçando prender o próprio ministro (que Deus nos perdoe) da Saúde resolveu o problema do doente, e a firme decisão de outro juiz, este no interior sergipano, mandou cessar a ação contra o professor.
Tragédia é ver o quanto se paga para um professor ou o que é pago a servidores da área de saúde que todos os dias têm de lutar não só contra o baixo salário, mas, principalmente, com as péssimas condições a eles oferecidas para poderem lutar pela vida dos pacientes. Tragédia me saber que temos mais mortes violentas no país do que na conflagrada região do Iraque.
Já li afirmações que no tempo do Pelé eles jogavam com um coco ao invés de com uma bola. Eu vi o Pelé – o Garrincha e grande parte das seleções brasileiras de 1958 a 1970 jogar (ainda em 1969 eu estava no Maracanã no dia em que o Brasil enfiou 6x2 na Colômbia na eliminatória para a Copa do México, quando o Moto Clube rondoniense fez a preliminar). Admito: naquele tempo os jogadores não ganhavam tanto – imaginem o valor de um Pelé, de um Garrincha ou de um Rivelino no mercado da bola atual. Mas seus resultados eram muito superiores ao que vemos hoje.
Como disse um amigo meu recentemente num email sobre presidentes e copas: “Ganhamos com o JK em 1958, com o Jango em 1962, com o Médici em 1970, com o Itamar em 1994 e com o Fernando Henrique em 2002. E o Brasil perdeu com os petistas em 2006, 2010 e 2012. Eles igualaram o título que só Pelé tem, de tricampeão mundial”.
Ah! Mas ganhamos no item “arenas de futebol”. E, claro, em corrupção.
Inté outro dia, se Deus quiser!
Lúcio Albuquerque
jlucioalbuquerque@gmail.com
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