Terça-feira, 4 de julho de 2017 - 12h45
Lúcio Albuquerque, repórter
Em minha vida profissional tenho participado de “n” eventos cobrindo desde matérias policiais mais que pesadas, a reuniões com personagens (que muitas vezes acabam nas páginas policiais, como políticos) e poucas vezes alguma coisa que vi ficaram impregnadas em minha memória, de tal forma que quando eu via o personagem associava imediatamente àquilo que ficou fixado e do que não esqueci, e não pretendo esquecer.
Três gestos, ambos ligados ao ex-governador Angelo Angelin, ontem falecido em Cuiabá, marcaram minha memória, tanto que foram assuntos da entrevista que fiz com ele em 2009, em sua residência em Vilhena – dedico um capítulo em meu próximo livro “Jantar dos Senadores”, quando recordou sua passagem política. Dois deles mostram a grandeza humana. O outro, a face cruel da vergonha humana.
A primeira vez que tive conhecimento de Angelin ele era um professor, se não me engano secretário de Educação, não lembro se de Colorado ou Vilhena, ainda à época do Território. Calmo, voz pausada, do tipo de pessoa que pensa antes de falar e mede as palavras para evitar ferir as pessoas ou dizer o que não deve ser dito.
Em 1982 ele foi o último dos 24 deputados eleitos na primeira eleição para o Poder Legislativo rondoniense, tendo poucos mais de 2.500 votos. Era da bancada do PMDB e foi eleito 2º secretário da Mesa Diretora, atuando também em comissões técnicas na elaboração da primeira Constituição Estadual, de 1983.
E dois anos mais tarde era governador do Estado, resultado da composição da Aliança Democrática, formada pelos deputados. Ele não era o primeiro da lista. Dois nomes disputava a preferência, os também deputados Amizael Silva (já falecido), PDS, e Amir Lando, PMDB, mas acabou escolhido porque prevaleceu a indicação do “cacique” Jerônimo Santana.
O primeiro gesto de Angelin que eu nunca esqueci, e que está imortalizado numa imagem feita pelo repórter-fotográfico Rosinaldo Machado: quando o governador Jorge Teixeira discursava despedindo-se do cargo, no parlatório do Palácio Presidente Vargas, um grupo de desordeiros, comandados pela então vereadora Raquel Cândido, começou a insultar Teixeira, e Angelin começou a acenar com a mão, para que parassem. Eu estava próximo e pude ver claramente que ele ficara irritado – e pelo que depois soube isso lhe teria gerado críticas dentre os ligados a Jerônimo.
Como governador, Angelin apoiou de forma decisiva o próprio Jerônimo nas campanhas para prefeito de Porto Velho em 1985, e para governador em 1986. Quando esteve à frente do governo, de maio de 85 a março de 1987, Angelin foi responsável por muitas obras, uma parte considerável delas inauguradas por Jerônimo, como foi o caso do hospital do Cemetron – sem que em nenhum momento o nome dele fosse lembrado, sendo repetido aqui o mesmo que foi feito com o governador Humberto Guedes, pelo seu sucessor, numa tentativa de apagar sua importância da História de Rondônia.
Mas haveria outro fator de irritação para os peemedebistas: quando o governador Jorge Teixeira faleceu, em janeiro de 1987, Angelin determinou todo apoio à família no sepultamento, uma demonstração clara de respeito pela figura política de Teixeira, mas que os seus adversários no partido não engoliram.
Em 2009, quando me concedeu a entrevista que citei antes, Angelin demonstrou dois amargores a mais, além de Jerônimo Santana: a perseguição que afirmou ter sofrido de parte do Tribunal de Contas do Estado, e, na disputa de 1990 pelo Senado, quando disse ter sido abandonado pelo então candidato Osvaldo Piana.
Tenho duas preces a fazer, a primeira que Deus o tenha recebido. A segunda que sua família mantenha sempre a imagem que Angelin demonstrava.
Fonte: Lúcio Albuquerque
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