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Lucio Albuquerque

Um chapéu. Um vestido de noiva. Um mandato


 

Lúcio Albuquerque (*)

Coisa de todas as eleições. Tem até aquela música, mais ou menos assim: “Seu doutor, eu voto, voto no senhor, seu doutor eu voto, eu sou eleitor; quero roupa, quero sapato, paletó lascado atrás....”, o que demonstra que o sistema eleitoral que nos rege acaba virando música-denúncia nas mãos do poeta popular.

O fato se repete agora, quando estamos em vias de segundo turno da eleição para governador e presidente da República: denúncias diversas, acusações de mobilizações de funcionários para buscar voto a seu candidato e, assim, cumprirem sua parte na promessa recebida de manterem o emprego. Quem garante que manterão?

Fala-se muito em “cidadania”, palavra bonita, substantivo feminino que, conforme o Dicionário Aurélio, representa “qualidade ou estado de cidadão”. E, na época eleitoral, lá vem o Tribunal Superior Eleitoral apregoando a necessidade que o cidadão inscrito como eleitor “exerça a sua cidadania”. Ocorre que o exercício da cidadania não deve acontecer apenas no fato de apertar um botão e dar por encerrada sua participação cidadã. Há muito mais por detrás disso, até porque, para melhor entendimento, é bom que o eleitor saiba que ao votar ele está delegando uma representação sua ao candidato, cujos reflexos, inicialmente, vão perdurar por mais quatro anos. Um cheque em branco para alguém gastar durante 48 meses, ao fim dos quais, com raríssimas exceções, o candidato vem lhe procurar em busca de novo cheque em branco.

Em minhas muitas andanças de campanhas, e já passado dos 60 anos, já ouvi, li e tive conhecimento de muitas promessas de candidatos e de pessoas que, depois, se disseram arrependidas de terem botado fé na figura. Agora não dá mais para retomar a procuração que você assinou ao apertar o botão da urna eletrônica.

Lembro especialmente de um caso desses, do descompromisso total do candidato que, após eleito, mandou os eleitores, literalmente, ao inferno, isso para que eu possa ser, pelo menos, mais elegante no tratar.

Em 1981 o empresário Múcio Athayde foi um dos muitos “paraquedistas políticos” que pousaram aqui pretendendo uma cadeira federal, de deputado ou de senador. Tanto o PDS, capitaneado pelo governador Jorge Teixeira, quanto o PMDB, à frente o então deputado federal Jerônimo Santana, postulante ao Senado, trouxeram essas feras.

Um deles foi o mineiro, empresário, Múcio Athayde, que acabou eleito deputado federal mais votado na primeira vez que o rondoniense, como eleitor de um Estado, escolheu sua representação em forma de bancada, para deputado federal.

Múcio chegou, assumiu logo a secretaria geral do PMDB, o que acabou de rachar o partido porque ele tomou o lugar do “histórico” Enjolras Araújo, e logo partiu ao ataque, em busca de apoio para seu projeto de retornar à Câmara Federal, de onde fora deputado pela bancada mineira.

Segundo pessoas que conversaram com ele, Múcio não escondia a ninguém a maneira como conseguira mais de 26 mil votos naquela campanha, tornando-se campeão dos votos na primeira disputa realizada em Rondônia na condição de Estado

Na campanha em Rondônia, virou um autêntico mecenas, pelo menos nas promessas, conforme ouvi de vários peemedebistas. Distribuía chapéus – daí ter assimilado o apelido de “O Homem do Chapéu”, vestidos de noivas e outros penduricalhos e conseguiu seu mandato. Seis meses depois de empossado, vou a Brasília e lá encontro Múcio, num dos corredores da Câmara Federal.

Aqui era estranho que depois de empossados, o único dos deputados federais que não tinha retornado a Porto Velho era justamente o senhor Múcio Athayde e, lógico, perguntei por qual motivo não havia retornado ao estado que lhe dera o mandato.

“Ninguém ali me deu nada. Eu não devo nada a ninguém. Todos os votos que tive ali, eu comprei. Não tenhom motivos para ir ali”.

E foi embora, sem dar maiores satisfações.

(*) – Este material fará parte do livro “O Telefone de Deus”, de autoria de Lúcio Albuquerque, nas livrarias até março de 2011.
 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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