Segunda-feira, 18 de setembro de 2017 - 05h15
Lúcio Albuquerque, repórter
Em entrevista divulgada em apenas um trecho dela no site do Senado, o senador paraibano Cássio Cunha Lima deixou claro – talvez não para o feudo que sua família mantém naquele Estado – que parece viver em outra realidade o que, sinceramente, não é novidade em se tratando de falas feitas por membros do nosso Congresso Nacional.
Cássio disse que a recente aprovação pelo Senado da criação das polícias penais estaduais, distrital e federal, é uma forma “de liberar policiais militares e civis para o seu trabalho primordial que é garantir a segurança das ruas e da sociedade”.
O senador, talvez querendo valorizar o projeto de sua autoria, disse isso mas, olhando sem paixão, esqueceu de admitir que a segurança pública não depende apenas de ter mais ou menos policiais nas ruas. Claro: os PMs e o PCs deixando de lado uma atribuição que não é deles, a guarda de presídios, poderão aumentar os efetivos nas ruas. Até aí não temos dúvida. Mas daí a querer que isso vai melhorar a segurança pública, é, sem qualquer dúvida, um passo muito mais largo do que a realidade que o cidadão comum encontra todos os dias.
Cássio Cunha Lima tem todo um esquema de segurança à sua volta, e para sua família. Anda em carros com seguranças, sabe que tem toda a Polícia do Senado para lhe dar cobertura, mas quem paga a conta dessas benesses está muito longe de acreditar que também tenha segurança. Pelo contrário: há uma sensação cada vez maior de que o que paga a conta é que está condenado a ficar preso em casa, à mercê daqueles que, cada vez mais, estão mais livres praticando atentados à Lei.
O senador paraibano esqueceu uma coisa importante: a criminalidade no Brasil aumenta muito por vários motivos, e um deles é gerado pela leniência do poder do qual Cássio faz parte, em aprovar leis seguidas que, no fundo, beneficiam o crime – leis como as que entravam o andamento de processos que envolvam membros do próprio Congresso Nacional e outros Poderes da República.
A “voz rouca das ruas” com certeza não concorda com a assertiva de que “mais policiais mais segurança”. Até porque os próprios policiais já nem conseguem, em muitos estados, garantir suas próprias seguranças haja vista o que acontece em metrópoles como Brasília, Rio são Paulo e algumas capitais nordestinas. Com a experiência política que tem, Cássio poderia ter pensado antes de fazer tal afirmação porque demonstra que ignora o que seus eleitores estão passando ou, então, confirma que no mundo em que vive, a “voz rouca das ruas” não chega.
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