Sábado, 2 de maio de 2015 - 10h43
Lúcio Albuquerque, repórter
Em 1976, logo após cobrir minha primeira eleição em Rondônia, ainda à época do Território e quando o eleitor de Porto Velho a Vilhena escolheu os vereadores da Câmara que funcionava na capital, eu escrevi um comentário no "falecido" jornal A Tribuna abordando um fato que me chamou a atenção naquela disputa: o de que as comunidades ainda em formação ao longo da BR-364, e que só em 1977 seriam municípios mas que só elegeriam seus vereadores em 1982, terem votado, maciçamente, nos candidatos locais.
A cidade de Porto Velho concentrava mais de 75% dos votos do município que, repito, só acabava em Vilhena. Mas dos 13 vereadores àquela altura eleitos para a Câmara porto-velhense, mais da metade, sete, vieram de Vilhena, Pimenta Bueno, Cacoal, Ouro Preto e Presidente Médici (1 cada) e de Vila Rondônia (só em 1977 JI-Paraná), dois.
Àquela altura chamei o resultado de "exercício do que seria o voto distrital puro", lembrando que passando a Estado certamente isso iria acontecer com mais frequência e força. Eu não fazia exercício de futurologia, apenas estava analisando a partir de uma realidade palpável.
Em 1986 voltei à carga com relação ao voto distrital, citando que o sistema tem duas coisas boas, uma a que faz o candidato ser analisado mais de perto pelo eleitor, porque o pretendente “é meu vizinho” e a outra que reduz o custo da eleição porque, no sistema atual, mesmo candidato a vereador de cidade pequena tem de gastar dinheiro visitando locais distantes de seu domicílio, ficando pior nas disputas para deputado estadual e federal.
O voto proporcional em meu entendimento é um absurdo porque não reflete efetivamente a vontade do eleitor. Há duas ou três legislaturas um cidadão ia para a televisão e urrava: “Meu nome é Eneas”. Levou carradas de votos e elegeu deputado federal gente (em São Paulo!) que nem ficariam na suplência para vereador em Porto Velho.
O resultado daquela eleição espelhou realmente a vontade do eleitor? Não. O que houve ao final foi uma fraude. Como na eleição de 1990 para deputado federal em Rondônia, quando uma só coligação elegeu todos os oito, com gente eleita com menos de 10% de votos de outros que ficaram fora. Em que lugar meteram a “vontade do eleitor?”.
Tenho ouvido, inclusive de gente autoproclamada “cientista político”, que o proporcional é o melhor. Respeito a opinião mas não nego minha posição. Há algumas legislaturas houve na composição da Assembleia Legislativa um claro exemplo de voto distrital: os sete municípios do “cone sul”, com eleitorado pequeno, elegeram seis deputados, enquanto Porto Velho, àquela altura com mais que o dobro daqueles sete elegeu dois.
Há quem diga que o fim do voto proporcional vai elitizar a representação legislativa, acessando apenas quem tenha maior capacidade financeira. Aí é um raciocínio meramente pontual e que se reflete na parafernália em que se transformou o mundo político brasileiro, onde partidos são fundados a qualquer momento e não há um cuidado na formação política dos filiados, apenas querem número e não qualidade.
O voto proporcional, beneficia apenas quem não tem representatividade popular, nivela por baixo a representação política e acaba fazendo com que surjam partidos políticos que nada acrescentam à democracia, apenas atendem aos que usam mandatos para negociar, indicar ministros e manter a “base aliada” sob jugo.
Não sou politicamente correto, epíteto que considero absurdo mas que agrada aos ouvidos de quem não pensa e apenas repete chavões de quem os planta, gente que apenas segue o que mandam sem nem experimentar o livre arbítrio. Prefiro ser politicamente incorreto, porque fui ensinado dessa maneira, de ter o direito de pensar e de externar o que penso.
Inté outro dia, se Deus quiser....
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