Segunda-feira, 14 de agosto de 2023 - 16h38
A PA-230, rodovia estadual paraense que liga os municípios de Uruará, na Transamazônica, a Santarém, situada no local de convergência do rio Tapajós com o Amazonas, é uma estrada completamente diferente de todas as outras na região. Ela atravessa uma das maiores concentrações de castanheiras, considerada a rainha das árvores da região. Tão especial que é protegida por lei federal desde 1965, há quase 60 anos.
Mesmo assim, é derrubada e queimada todos os anos. Mesmo quando é preservada em uma área totalmente desmatada, ela permanece em pé, conforme exige a lei. Nada que entusiasme, porém. Isoladas, castanheiras de 50, 60 ou 70 metros podem ser derrubadas por ventos e chuvas mais fortes. Ficam sem a proteção da companhia de centenas de árvores que a circundam e a defendem, e que são logo postas abaixo.
Sozinhas, são gigantes frágeis. Mesmo que se mantenham por certo tempo, cadê a abelha da polinização, a cutia e outros animais que roem os ouriços e plantam as sementes? A procriação cessa e a floresta de castanheiras irá desaparecendo. Assim tem sido em todas as estradas.
Não na PA-230. Sua construção foi decidida porque no traçado proposto, economizaria os 100 quilômetros que o motorista precisaria percorrer se tivesse que prosseguir pela BR-230 (a Transamazônica) até a BR-163 (Santarém-Cuiabá) e só a partir daí chegando à capital do Baixo Amazonas, na rota tradicional.
Seria uma conquista e tanto pela ótica do rodoviarismo desenvolvimentista, que há mais de 60 anos assola e assalta a Amazônia. Em 2008, começou a construção. Hoje, dos 215 quilômetros de extensão, 70 quilômetros da estrada, que é a PA-370, já estão asfaltados. A maioria dos trechos de chão está compactada. No verão, é possível fazer o percurso em 3 ou 4 horas. No inverno, em até cinco horas, com trechos muito enlameados.
Nenhuma novidade em matéria de rodovia pelo interior da Amazônia. As cenas surpreendentes aparecem quando o leito da estrada altera o seu traçado para preservar as castanheiras. Num trecho, a pista se bifurca, contornando de casa lado duas gigantescas castanheiras. Há centenas delas, que são mais esparsas às proximidades de Santarém e mais densas perto de Uruará, quando formam um corredor polonês de ambas as margens do traçado. Dá para parecer até com juma típica estrada francesa, ladeada por árvores, só que muito menores do que as de porte amazônico.
Em áreas, como as do Acre e do sul do Pará, depois que as árvores foram derrubadas ou queimadas, a lei que protege as castanheiras começou a ser aplicada e respeitada, como na PA-370. Ao longo da estrada, pode-se contemplar o espetáculo oferecido por essas árvores maravilhosas. Não há cenário igual em toda região.
E agora, o que fazer para proteger de verdade essas árvores gloriosas da Amazônia, enquanto é possível? Criar um parque em toda a extensão da estrada, instalar uma guarda florestal, desenvolver projetos de pesquisa e preservação e, com seriedade, desenvolvendo a região pelo turismo ecológico. Primeira medida: tirar o nome da PA-370, de Transuruará, para Rodovia das Castanheiras.
Meio século atrás, a Eletronorte, empresa do governo federal, pôs abaixo, de uma só vez, 760 castanheiras, que estavam no trajeto do linhão de transmissão de energia da hidrelétrica de Tucuruí, com 22 quilômetros de extensão e 100 metros de largura. A linha atravessou a reserva Mãe Maria, dos índios gavião. Com seus 62 mil hectares, ela servia de proteção às arvores.
Em novembro do ano passado, manifestantes da candidatura de Jair Bolsonaro à presidência (provavelmente os mesmos que tinham realizado “o dia do fogo”, em 2019), derrubaram uma castanheira gigante para obstruir a BR-163 (Santarém-Cuiabá), em novo Progresso, o principal reduto de pecuaristas radicais de direita, para bloquear o trânsito, em protesto contra a vitória de Lula.
Um investimento público significativo poderia transformar a “rodovia dos castanhais” em março de uma nova era para as ameaçadas castanheiras da Amazônia?
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