Quarta-feira, 27 de junho de 2018 - 14h41
LÚCIO FLÁVIO PINTO
Editor do Jornal Pessoal
Não sei se a Globo conseguirá se tornar um dos principais polos de influência na eleição de outubro e se a série O Brasil que eu quero tenha este objetivo. Independentemente de tal componente, essa iniciativa está permitindo, aos que a seguem, descobrir este Brasil continental, tão imenso quanto diverso e complexo.
Brasileiro não conhece o seu país e nem parece ainda suficientemente disposto (ou em condições de materializar essa disposição, se existente, por falta de fundos para custear dispendiosas viagens). É uma séria barreira ao amor pela nação.
Mesmo meteóricas incursões pelo interior, num território de 8,5 milhões de quilômetros quadrados, como as proporcionadas pela Globo, são proveitosas - por vezes, emocionantes. Que país é o Brasil!
É um Brasil, por sua distância do centro do poder e da fímbria litorânea de riqueza multissecular, que precisa trabalhar todos os dias para sobreviver. Efeito da grandeza física do país em que moram, prosperaram nos últimos anos, principalmente pelos efeitos da expansão do agronegócio por mercados internacionais (com ênfase no chinês), com a valorização das commodities.
A Globo lhes deu voz e eles falaram como conjunto, com alguma unidade por suas origens e pelo que dizem, incoerências e contradições à parte. Contradições detectadas por alguns deles, como as moças paranaenses, que condenaram os que criticam o roubo de milhões pelos políticos e roubam milhos grandes - ou milhões - de plantios expostos à beira da estrada. É a moral privada desconectada - ou indiferente - da moral pública, quem aponta o dedo sem legitimidade para cobrar virtude que não pratica.
Por tudo isso, gostaria de ver a continuidade desse programa com suas raízes plantadas no que temos visto. E temos visto constantes denúncias de desperdício ou dissipação de dinheiro público (corrupção intensa à parte). Obras mal iniciadas, incompletas, abandonadas ou que nunca funcionaram são apontadas por moradores dos lugares nos quais elas estão instaladas, mais repórteres do que muitos jornalistas.
Por que não criar uma nova série só para dar a oportunidade aos cidadãos operosos deste Brasil de apontarem esses candentes exemplos de má gestão do dinheiro do povo? Eles teriam mais tempo (até um minuto) para detalharem essas denúncias, incluindo imagens internas, quando necessário. O serviço dos cidadãos seria complementado pela obtenção de maiores informações pela equipe da Globo e uma confrontação dos administradores públicos com as tarefas sob a sua responsabilidade e a palavra dos órgãos de controle externo, como os tribunais de contas e os ministérios públicos.
Reunido todo material, a Globo forneceria o dossiê a quem de direito para as providências da sua competência e jurisdição. Pela primeira vez, numa escala sem paralelo, a voz do povo teria que ser ouvida e ter consequências legais e práticas.
Poderia mudar este país pantagruélico, esta cruel monarquia republicana?