Sábado, 5 de março de 2022 - 09h53
É muita coisa junta atraindo, merecendo e roubando a nossa atenção.
Pandemia, mortes; guerra, mortes; violência, mortes; usinas nucleares em
chamas, o mundo todo envolto em dramas, pó, chamas. Gente chata. Busca por
sobrevivência. Me diz: quanto tempo você está conseguindo ficar pensando só em
sua própria vida? Planejando qualquer coisa? Como se concentrar sem ser
egoísta?
Um dia após o outro, com calma. Respire fundo. Tenha
pensamentos positivos. Concentre-se. Reze, reze muito. Apegue-se ao presente.
Não será por falta de conselhos, mesmo que alguns sejam praticamente
inexequíveis nesta altura dos acontecimentos.
Não teremos mesmo muitas outras opções, pelo menos não nos
próximos dias, talvez meses, e que não se permita que essa agonia prossiga por
anos. O ar irrespirável da guerra, mesmo que lá a mais de 11 mil quilômetros de
distância, nos tira o fôlego, e especialmente o tempo de pensar em nossas
próprias vidas, problemas e soluções.
Por aqui, os dias do Carnaval, que já não estava aquela
beleza, ficaram muito piores ainda com os ecos da invasão russa à Ucrânia, não
bastassem os gritos de perigo da pandemia, seu vírus e suas cepas continuamente
renovadas. Nos últimos anos aqui em São Paulo o Carnaval tinha virado uma
temporada de alegria, com diversão, blocos na rua – as pessoas nem mais
viajavam tanto, abandonando a cidade, abarrotando estradas – e agora já vimos
tudo isso de novo. Como se todos que pudessem sair, corressem para algum lugar
onde pudessem relaxar, esquecer, ouvir o canto de pássaros, mergulhar com
peixinhos. A cidade aqui ficou uma tristeza só. E olha que em 2021 já tinha
sido punk, mas agora somou-se pandemia e a guerra lá, com ecos por aqui, e que
já nos aperta e morde os tornozelos.
É uma guerra não contida só em suas fronteiras. É uma
guerra que envolve os brasileiros, seja por estarem lá, ou por perto, ou no
todo ameaçado continente europeu – e isso é muita gente, contando seja com
familiares, ou mesmo nossos amigos – tanta gente que havia se pinicado daqui em
busca de futuro. Para completar, a política errática do desgoverno Bolsonaro,
que não sabe se vai ou se fica, se pula ou corre, e que abraça, para nossa
tristeza, o lado dos ditadores. Não, não vou deixar de criticar uma
inacreditável parte da esquerda nacional ainda capaz de vomitar tantas
sandices, abanando o rabo russo, como se esse lhe coubesse em um caso tão claro
de violação de direitos humanos e espalhamento de terror.
Quem não se sente perdido nesse mar de bombas, fake news,
autoritarismo, oportunismo ideológico e de outras nações, violações, alarmes
tocando dia e noite, mais um êxodo migratório gigantesco e desconfortável?
Tudo isso em 2022, logo já em seu início. Ano que se já não
era simples para nós, piorou, quando aguardamos ansiosos uma eleição ainda
indecifrável, com lista de candidatos pouco atrativos e nessa grudenta divisão
que nos assola há anos, limitante e emburrecedora, capaz de nos por aqui,
também, em uma guerra particular.
Ah, não quero ouvir falar de guerra! Ah, não quero saber de
números da pandemia! Ah, não quero saber de noticiário! - Tenho ouvido tanto
isso, que acabo entendendo a apatia em que nos encontramos. E exageram.
Para vocês terem uma ideia, acreditem ou não, ouvi da
gerência da academia que frequento – a mocinha foi capaz de dizer aos meus
ouvidos que a terra há de comer, como se diz - que as tevês estavam ligadas em
canais de esporte por conta do “ambiente esportivo”. O que passava quando
reclamei, coisa que parece as pessoas esqueceram como é, submetendo-se silentes
a tudo, e era de manhãzinha? Das cinco tevês, três sintonizavam uma mesma e
sangrenta luta de boxe; as outras duas, comentaristas sportvianos sentados nas
suas mesinhas, e visto em tevês claro que sem som. As boquinhas se mexendo.
(...e eu só queria ver o mar, por exemplo, nas ondinhas das
surfistas do Canal OFF, ou uma Ana Maria Braga com suas receitas deliciosas, um
desenhinho animado, uma previsão de tempo...).
A guerra não é aqui. Mas vai sempre ter alguém ou algo
bombardeando nosso mais que valioso momento reflexão.
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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação,
editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres.
E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon).
marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br
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Com tantos sustos como os que todos estamos passando nesse fim de ano até o próprio Espírito de Natal, creio, chamou as renas pelo aplicativo e está
Cérebro. Duvidando até da sombra.
Em quem acreditar, sem duvidar? De um lado, estamos como ilhas cercadas de golpes por todos os lados. De outro, aí já bem esquisito, os cabeças-dura
Não chama a polícia. Ela pode apavorar, te matar, te ferir. Não sei se é um surto, se são ordens ou desordens, mas estes últimos dias fizeram lembra
Stress, o já aportuguesado estresse. Até a palavra parece um elástico que vai, estica e volta, uma agonia que, pelo que se vê, atinge meio mundo e n