Segunda-feira, 17 de novembro de 2014 - 09h37
Por Marli Gonçalves
Funciona e não machuca. Assim, mãos à obra! Vamos sair por aí dando petelecos, nem que sejam imaginários. O que tem de coisa ruim e merecedora de ganhar um deles dá uma lista gigantesca e não sei se conseguirei ser completa aqui. Você prepara os dedinhos e pum! Isso na real. No imaginário, como tudo vale, se você quiser pode trocar, dependendo do que/quem for o que quiser mandar para longe: pode virar chute, tabefe, empurrão e safanão, sacudidela, tranco. Tudo vai depender de sua índole.
Eu, repito, gosto do peteleco. Hão de concordar que, primeiro, é uma palavra deliciosa, sonora, gordinha; segundo, um ato de mandar para longe, de dar um piparote muito interessante. Coisa de criança que já jogou botão. Dá até para ser elegante, delicado, mirando, como quem joga golfe mira os tais buracos. Só não pode deixar cair a peteca.
Não, não sei se peteleco vem de peteca, mas é que as duas são palavras que trazem em si duas consoantes que ultimamente andam nos dando muita dor de cabeça, e não é o "L" nem o "C". Conheço muita gente que anda louca para dar um peteleco no PT, o partido. Parece que vem aumentando esse número, saindo às ruas, o que me leva a sugerir talvez a criação de um Movimento Peteleco e, no alvo, a obrigação de mandar para longe uma série de desmandos e erros, gente querendo andar para trás. Seria suprapartidário. Melhor ser Movimento, que Grupo Peteleco ficaria parecendo pagode.
Ponto! Já viria até com logotipo, a famosa mãozinha armada.
Pensem. O peteleco é inofensivo. Também serve para despertar alguém - quem sabe quantos estarão apenas anestesiados só precisando de um para acordar e agir?
Claro, há variações, mas aí são coisas que a gente faz por diversão, com quem a gente gosta. Dar um coquinho, aquele murrinho com a mão fechada, que parece querer despertar a cachola de quem leva; o puxão de orelhas, dado nos meninos traquinas e nos aniversariantes, quantos anos estiver completando. E tem mais uma: a consagrada! A ardida! A sardinha. A "sardinha" era aquela mania de, com o dedo indicador e o maior, dar um "tapa arrastado" na bunda do colega ou amigo, como se fosse tirar uma lasca, largando os dedos. Tem que ser na bunda, e meio para dar uma machucadinha, no mínimo arrancar um ai. Faz tempo que não solto os dedos e dou sardinha em alguém. Bem, faz tempo que minha lista de amigos íntimos (tem de ser, porque a operação oferece riscos!) também não aumenta. Na sardinha outra dica de segurança: não ache com tanta certeza e tanto ímpeto que sabe de quem é aquela bunda que vê e atrai a sua sardinha. Verifique se é mesmo da pessoa que conhece, espere que ela se vire. Senão a coisa pode acabar mal.
Mas, voltando ao reles peteleco, também lembrei deles nessa semana em que recebi a visita de pernilongos sem teto querendo ocupar minha cama, e é uma satisfação acertar um deles em pleno voo. Eu disse pernilongos.
Poderemos então petelecar os chikungunyas, os aedes, e juntos, petelecando, mandar para longe, bem longe, as más notícias, a seca, os desmandos, os medos, essa crise que quer, ela sim, pegar, mas nossos calcanhares.
Sinceramente? Também pensei no peteleco quando estava querendo afastar uma tristeza que me agonia, uma sensação de falhar sempre no emocional e nas relações e que, ainda por cima, soma fatos, feitos e não feitos este ano que já estamos dando petelecos para que vá embora o mais rápido possível.
São Paulo, 2014
Marli Gonçalves é jornalista - - Ando pensando em estilingue também. E se acaso pudéssemos dar petelecos nas nuvens - será que choveria mais?
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