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Matias Mendes

MESA DIRETORA DA ALE: Quem Vai Botar o Guiso no Gato?


Por MATIAS MENDES

A movimentação de bastidores para a sucessão da Mesa Diretora da Assembleia Legislativa começa a ganhar corpo no cenário político do Estado. O atual presidente da Mesa Diretora, deputado Hermínio Coelho, sucessor natural de Válter Tocaia Grande Araújo, desaparecido desde dezembro de 2011, cassado à revelia em meados de 2012, e muito provavelmente já morto e enterrado em alguma cova rasa ou profunda, é o herdeiro natural também do segundo mandato relativo à eleição antecipada que Válter Tocaia Grande fez malandramente sem saber que seus dias já estavam contados. Preso pela Polícia Federal em novembro de 2011, Válter Tocaia Grande esteve por alguns dias no Presídio Federal do km 48 da BR-364 e depois conseguiu ser liberado por uma liminar, desaparecendo por completo, não havendo sequer comparecido à sessão fatídica que lhe cassou o mandato de deputado estadual em 2012. O deputado Hermínio Coelho, vice-presidente da Mesa Diretora, foi ungido definitivamente como novo presidente do Poder Legislativo, saindo-se muito bem no exercício da presidência da Casa de Leis.

Agora surge a discussão se o deputado Hermínio Coelho tem direito a assumir o novo mandato como presidente da Mesa Diretora no biênio 2013/2014. A discussão sobre o caso é de todo casuísta, com nítidas características de golpe parlamentar, pois a eleição antecipada nunca foi anulada por nenhum instrumento jurídico válido. Como supostamente vivemos em um Estado Democrático de Direito, salta aos olhos que a única forma de apear o deputado Hermínio Coelho da presidência da nova Mesa Diretora da Assembleia Legislativa é mesmo pela via do golpe parlamentar. E o golpe abriria um precedente perigoso, pois lá adiante alguém poderia sentir-se tentado a dar um golpe para assumir o Governo do Estado e, mais perigoso ainda, outro poderia sentir-se no direito de assumir a Presidência da República pelo mesmo caminho do golpe. Nunca se pode esquecer do sábio provérbio latino que diz que Abyssus abyssum invocat, ou seja, que abismo atrai outro abismo, que uma desgraça chama outra desgraça, que um golpe sempre atrai outro golpe em perigosa e sucessiva sequência.

De tal modo, como estamos em plena temporada das historinhas que o ex-deputado Jesualdo Pires inaugurou na sua despedida do Parlamento, vem perfeitamente o caso lembrar aqui mais uma fábula, muito provavelmente nascida da pena primorosa do fabulista francês Jean de La Fontaine.

Diz a fábula que uma próspera colônia de ratos vivia muito feliz em determinada propriedade, com fartura de variados alimentos, queijos, cereais nobres e outras iguarias que muito apetecem aos ratos. Não havia ali pelas redondezas nem ofídios, nem gatos e nem qualquer outro predador para tirar o sossego dos roedores. Os ratos viviam robustos e muito felizes, reproduzindo-se em progressão geométrica, tornando-se uma verdadeira e perigosa praga. Temendo as consequências do aumento da população dos ratos, o dono da propriedade resolveu trazer para o local um gato muito caçador. E o gato caiu matando em cima da rataiada, dizimando a população dos roedores em velocidade que apontava para o extermínio dos ratos, um autêntico raticídio. O felino era de fato um criminoso sanguinário, não se limitava a matar para comer, praticava uma ação predatória de puro extermínio, sem se dar ao trabalho de devorar as numerosas carcaças de ratos abatidos diariamente. O alarma soou na comunidade dos roedores e os ratos ressabiados fizeram uma grande assembleia para discutir o assunto e encontrar uma solução para deter os ataques mortais do felino sorrateiro. As sugestões foram surgindo e sendo descartadas por impraticáveis. Até que um rato muito esperto teve a ideia brilhante, declarando haver encontrado a solução: --“ Vamos colocar um guiso no gato assassino, assim, quando ele tentar se aproximar, poderemos ouvir o barulho do guiso e nos escafedemos a tempo”... A ideia foi entusiasticamente aplaudida, os ratos deram muitos vivas ao genial pensador, até que um rato velho e muito experiente fez uma pergunta crucial: “Mas quem vai botar o guiso no gato?” A assembleia de roedores simplesmente silenciou e dissolveu-se, porque ninguém se dispunha a pôr o guiso no gato exterminador...

Mutatis mutandis, em pleno regime de democracia, com eleições livres para todos os gêneros de representatividade, a condução de um processo golpista para tirar o deputado Hermínio Coelho da presidência do Poder Legislativo seria um escândalo em âmbito nacional, colocaria outra vez o Estado de Rondônia no olho do furacão, recrudesceriam as críticas no sentido de que Rondônia é um Estado dominado por quadrilhas perigosas de políticos criminosos, e a mídia nacional se comprazeria em enumerar os nada edificantes exemplos de bandidagens dos nossos políticos. Seria um massacre para o Estado, pois não faltariam analistas que apontariam as razões preconceituosas do golpe contra o homem simples e praticante de rigorosa probidade administrativa, considerando-se que até o momento os desafetos do deputado Hermínio Coelho não lograram trazer a lume qualquer fato que desabone sua conduta, não pesando contra ele qualquer acusação de desvio moral ou ético, não havendo contra ele nenhum procedimento policial em andamento. De tal modo, as perguntas que se impõem  são as seguintes: Quem vai assumir o risco de dar o golpe no presidente do Poder Legislativo? Quem vai assumir a pecha de golpista em pleno regime democrático e arcar com a execração popular advinda de tal ato? Enfim, quem vai botar o guiso no gato???

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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