Domingo, 24 de dezembro de 2017 - 14h47
Montezuma Cruz
Em Presidente Prudente
A história de Altino Oliveira Correia, 60 anos de jornalismo, é agora contada no livro reportagem com 11 capítulos escritos e editados por Anne Abe, Camilla Saldanha, Nellise Pinheiro e Stephane Melo, produto da conclusão de curso na Faculdade de Comunicação Social de Presidente Prudente (Facop), oeste paulista.
Em 238 páginas impressas na Editora Midiograf, a trajetória do menino nascido em Rio de Contas (BA) revela sua ousada e pontual atuação na ZYH-7, Rádio Presidente Venceslau, e os degraus em seguida galgados nos principais jornais do País e na TV Bandeirantes.
Espalha-se a notícia da peste, e milhares de suínos são abatidos a tiros por soldados na região de Ourinhos. Lá estava Altino a serviço da Folha de S. Paulo, onde trabalhou 25 anos.
Em 1976, o jovem Ludinho, filho do pecuarista Lúdio Coelho, é executado a sangue frio durante sequestro, em Campo Grande (ainda Mato Grosso). O repórter viaja 400 quilômetros, cobrindo para o Jornal do Brasil.
Sabe aquela ponte de 2,5 quilômetros (ex-Maurício Joppert da Silva, hoje Hélio Serejo) cruzando um “mar de água doce” na divisa entre os estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul? Em diversas matérias, ele detalhou tratativas, projetos e a sua construção.
Bom dia! Aqui fala a Rádio Presidente Venceslau – a gigante do oeste paulista – pela voz do repórter Altino Correia. Estamos ao vivo de Presidente Epitácio para todo o Brasil na cerimônia de inauguração da ponte sobre o Rio Paraná. Aqui presentes, autoridades de todos os estados brasileiros, nosso querido governador Ademar de Barros, além da maior autoridade deste País, o presidente da República, marechal Castelo Branco. (21 de agosto de 1965).
Luiz Antônio Vanalli fotografou. No final da tarde, o repórter constata o furto dos dez rolos de cabos telefônicos que foram estendidos pelo mato. Ele os havia retirado em confiança, de uma loja de construção.
A grandeza da cobertura cobriu o suposto prejuízo. Sem linhas telefônicas previamente solicitadas até o local, diversas emissoras de outras regiões brasileiras entraram em rede com a transmissão da ZYH-7.
Hidrelétricas? Noticiou o dia a dia e o funcionamento de cinco, ao longo dos rios Paranapanema e Paraná. Na de Capivara, notou que na madrugada hastearam a bandeira da União Soviética.
O repórter resgatou a existência de jazidas inexploradas de gás e petróleo, com sucessivas prospecções e fechamento de poços, inspiradas em estudos geológicos.
Está no livro:
“O então prefeito de Epitácio, Élio Gomes, reivindicou a abertura do poço de um antigo balneário, alegando que tinha sido lacrado de forma abrupta e sem muitas explicações à população, que ainda acredita na chance de haver um tesouro escondido ali. Quando ninguém mais cogitava a possibilidade de petróleo nessa região, Paulo Maluf, eleito governador de São Paulo em 1979, tornou a reiniciar as buscas no interior do Estado.”
Outro trecho:
“As buscas continuavam. Habitantes de Cuiabá Paulista foram presenteados com os primeiros sinais de óleo em uma rocha de 30 metros de espessura, que funcionava como reservatório de arenito, similar ao basalto, chamada Formação Itararé, produzindo gás por mais de oito horas seguidas. A notícia auspiciosa surgia nos últimos meses de 1981. Era a descoberta de um gás que causava furor entre a população e os próprios funcionários da Paulipetro. O combustível fóssil resultava de uma mistura de metano, etano, propano e butano. De longe, a chama de cor amarela prendia a atenção de quem passava .”
Altino Correia escreve este blog e atualmente assessora a Universidade Estadual Paulista em Presidente Prudente. O livro é um presente para quem aprecia histórias do jornalismo e a maneira como se fazia rádio e jornal, décadas atrás.
OUTRO TEMPO
“Quatro jovens mergulharam em pilhas de jornais velhos, processos arquivados, depoimentos de jornalistas pioneiros na região, para entender a rotina jornalística em um mundo sem internet, com quilômetros de cabo, blocos de papel, solicitação de linhas para telefonemas, fotografias enviadas por ônibus, telex, radiofoto, telefoto, laboratórios fotográficos e estúdio de televisão montados em banheiros, uma lista de equipamentos e terminologias que já não pertencem à profissão” – descreve a orientadora, professora doutora Fabiana Aline Alves.
AMOR PELA PROFISSÃO
“Jornalista é uma profissão com várias funções e, certamente, a principal delas é a de repórter. Função que traduz a mais fiel definição da profissão: a de contador de histórias. A prática da reportagem está atrelada ao trabalho de campo, na prospecção de informações para elaboração de notícias, longe do conforto do ar condicionado das redações e perto da vida em movimento nas ruas e nos mais diferentes lugares. O personagem central desta obra, o jornalista Altino Correia é essencialmente repórter e todos os indícios são de que essa função é a sua grande paixão” – escreve no prefácio o jornalista Homéro Ferreira.
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