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Montezuma Cruz

Amazônia põe tecnologia a serviço de culturas energéticas



Na região nordeste do Pará, o Sistema Bragantino comprova a eficácia da rotação de lavouras de feijão-caupi, milho e arroz.


MONTEZUMA CRUZ
montezuma@agenciaamazonia.com.br

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TOMÉ-AÇU e BELÉM, PA – Quase quatro anos depois de lançar o modelo, o pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, Manoel Cravo colhe os melhores resultados do Sistema Bragantino, que capacitou até agora mais de duas mil pessoas para fazer agricultura sustentável na região nordeste do Pará. "Rotação de culturas e consórcios deram certo, principalmente com a mandioca, o feijão-caupi, milho e o arroz", relata

O Sistema Bragantino possibilita ao agricultor aumentar em quatro vezes mais, por hectare, a produtividade da cultura da mandioca; em sete vezes mais a do milho e em oito vezes mais a do arroz. A denominação se deve à concepção do sistema na região Bragantina, uma das mais antigas na exploração agrícola da Amazônia. Com 1,6 milhão de habitantes, a mesorregião nordeste paraense é formada pelas microrregiões Salgado, Bragantina, Cametá, Guamá e Tomé-Açu. Ocupa uma área é de 135 mil km2 (10,6% da superfície estadual) e engloba 48 municípios.

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Cravo, o autor do Sistema Bragantino, obtém elevada produtividade com a mandioca (foto), feijáo-caupi, arroz e milho / EMBRAPA

Junto com os projetos Tipitamba e o Trio da Produtividade, o Sistema Bragantino avançou em diversas frentes nos latossolos e argisolos da regiáo. Com a onda nacional da bioenergia, ele deverá ser introduzido nas culturas da mamona, do girassol e do amendoim. “Mas não vamos descuidar da segurança alimentar dos pequenos produtores rurais”, garante Cravo.

Esse modelo elimina ou diminui o uso do fogo e de plantios, sem uso de fertilizantes e calcário. “O ponto de partida é a correção da fertilidade do solo, com base em resultados de análises”, explica o pesquisador. Transformou-se no modelo mais rentável ao produtor e menos danoso ao meio ambiente que o sistema itinerante (derruba-e-queima) utilizado na região há mais de um século.


Amapá, Amazonas e Acre

As unidades demonstrativas e de observação atuam em Terra Alta, Inhangapi, Tracuateua, Barcarena, Tomé-Açu, São Miguel do Guamá e Maracanã. Segundo o pesquisador, todos os cursos e palestras ministrados aos agricultores paraenses já alcançaram o Acre, o Amapá e o Amazonas. Técnicas e benefícios do Sistema Bragantino são assimilados diretamente por estudantes de colégios agrícolas, universitários e participantes de congressos, lembra Cravo.

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Girassol está na lista das culturas de bioenergia próprias para se beneficiar ds técnicas do Sistema Bragantino / PLANTIO DIRETO

O sistema nasceu, também, da necessidade de se vencer um desafio do Governo do Pará, de “produzir sem devastar”, que estimulava o uso de áreas já destituídas da cobertura de floresta primária, para produção de bens de consumo. Pode ser muito bem utilizado na agricultura familiar, por médios ou grandes e grandes produtores que necessitam fazer o plantio e a colheita semi-mecanizada do feijão-caupi. Por isso pode ser adaptado em qualquer parte da Amazônia.

Mas há preocupações, por conta de produtividades muitas vezes abaixo da média. Exemplo disso é a mandioca, quando não ultrapassa seis a dez toneladas por hectare; o milho e o arroz, quando se situam em meia tonelada por hectare, e o feijão-caupi, de 800 quilos a 1,2 tonelada/ha.

O Bragantino permite a ocupação produtiva da propriedade; a conservação ambiental; o uso racional de máquinas, equipamentos e insumos, aponta ainda o pesquisador. A cobertura de solo diminui os efeitos nocivos da erosão hídrica e eólica. A partir da correção da fertilidade do solo (necessária em função do empobrecimento dos solos naturalmente fracos do nordeste paraense), de espaçamentos diferenciados e da adaptação da prática do plantio direto (sem arar ou gradear), o sistema é apropriado tanto para a agricultura familiar quanto a empresarial.

Dez em um

Segundo o pesquisador, a primeira é praticada pela maioria dos produtores locais e a segunda está em crescente expansão na região. “Além de permitir os tratos culturais mecanizados, o plantio de mandioca em fileiras duplas beneficia os médios e grandes produtores de feijão-caupi que necessitam fazer o plantio e a colheita semi-mecanizada desse grão”, comenta. 

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Feijão-caupi se consorcia com milho e mandioca no nordeste do Pará / EMBRAPA

Três cultivos por ano (milho ou arroz, mandioca + feijão-caupi), em vez de um, favorecem o aumento da renda do produtor e da oferta de mão-de-obra. Ao restaurar a fertilidade do solo, o sistema potencializa a utilização de áreas já alteradas, contribuindo para a preservação ambiental.

A produtividade aumenta a tal ponto que um hectare cultivado no Sistema Bragantino corresponderia a no mínimo dez, se comparado à média estadual. Exemplo disso é um pé de mandioca de 16 quilos colhido em área de produtor parceiro da pesquisa, no município de Bragança, quando o usual seria 1,5 ou 2 Kg.

A média estadual da produtividade da mandioca é de 12 toneladas por hectare (t/ha). "Se tomarmos por base plantas de 10 quilos cada, teríamos cerca de 100 t/ha", estima o pesquisador. ). "A produtividade do milho passa de 350 Kg/ha para 2,5 toneladas/ha. A do arroz, de 300 Kg/ha para 2,3 toneladas/ha", demonstra Cravo.

ALGUNS RESULTADOS

▪ Os espaçamentos mais indicados para o plantio da mandioca em fileiras duplas: 2,0m (0,50m x 0,50m); 2,0m (0,60m x 0,60m); 2,0m (0,70m x 0,70m) e, 2,5m (0,70m x 0,70m), especialmente o arranjo espacial de 2,0m (0,60m x 0,60m), também recomendado para o Pará na década de 1980 (Cardoso & Kato, 1986).

▪ O espaçamento de 2,00m x 0,60m x 0,60m, entretanto, só permite a colheita do feijão caupi e as capinas da mandioca pelo método manual, o que é possível ser feito só na agricultura familiar.

▪ Macaxeira consorciada com caupi (60cm x 60cm x 2,0m) em Igarapé Açu e Tracateua 1.186 kg/ha de feijão; 1.336 kg/ha feijão-caupi; 22.400 kg/ha macaxeira

▪ Mandioca consorciada com feijão-caupi (60cm x 60cm) x 2,00m em Tracateua. Milho, 3.175 kg/ha.

▪ Linhas de plantio no sentido Leste-Oeste, com boa luminosidade no feijão-caupi em Terra Alta, 925 kg/há entre médios produtores.

▪ Em Bragança, mandioca consorciada com caupi, em 5 hectares, 1.000 kg/ha de caupi e 42 t/ha de mandioca
 
 
 

 

 

 

 



TOMÉ-AÇU e BELÉM, PA – Quase quatro anos depois de lançar o modelo, o pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, Manoel Cravo colhe os melhores resultados do Sistema Bragantino, que    

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