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Montezuma Cruz

AULAS NA FLORESTA




Estudantes vão à
Amazônia para aprender



JOSANA SALES (*)
Agência Amazônia

ALTA FLORESTA, Amazônia Mato-Grossense – Educação para a conservação com foco na ciência e a formação de uma nova consciência de consumo, com percepção de interdependência no mundo em que vivemos. Esses são alguns dos bons resultados conquistados pelo Projeto Escola da Amazônia, coordenado pela Fundação Ecológica Cristalino há cinco em Alta Floresta (norte de Mato Grosso, a oitocentos quilômetros de Cuiabá).

O projeto de educação proporciona a alunos s e professores de outras regiões do Brasil que conhecem a Amazônia apenas pela mídia a oportunidade única de entrar em contato com a floresta e sua gente e discutir sobre os principais problemas socioeconômicos e ambientais que mudaram totalmente os rumos do desenvolvimento na região.  Aqui foram desenvolvidos até agora 47 projetos de pesquisa durante diversos workshops (reuniões de trabalho). Esse modelo de Desenvolvimento Socioeconômico e Conservação da Biodiversidade atende especialmente estudantes e professores dos Ensinos Médio e Fundamental II de todo o Brasil e exterior.


Batismo de selva

Pela primeira vez eles entram em contato com a floresta amazônica para compreender o mundo natural e as inter-relações do homem com o meio ambiente . Este mês, quarenta alunos das escolas paulistas; Colégio Bandeirantes, Colégio Vera Cruz e Colégio Santo Américo participaram do workshop que envolve visitas a empresários de diversas atividades econômicas na Amazônia Mato-grossense (também conhecida por Pré-Amazônia) e atividades práticas de pesquisa em tópicos, desde ecologia à conservação da biodiversidade e à criação de unidades de conservação e consumo consciente. 


AULAS NA FLORESTA - Gente de Opinião
Professores e alunos fazem relatórios do que vêem /DIVULGAÇÃO

Desde o início do projeto, os primeiros dias do workshops ocorrem na cidade de Alta Floresta e seguem por quatro dias nas matas do Cristalino Jungle Lodge, localizado em uma Reserva Particular de Patrimônio Natural (RPPN), ao lado do Parque Estadual Cristalino, Bacia do Rio Teles Pires e em pleno Arco do Desmatamento.

Ao chegarem a Alta Floresta, os grupos iniciam os trabalhos com entrevistas com representantes de diferentes atividades econômicas em Alta Floresta (artesãos, madeireiros, pecuaristas, entre outros), estudantes e professores entram em contato com as reais dificuldades envolvidas no processo de desenvolvimento aliado à conservação da Amazônia.

"A gente logo se depara com a força da migração, pessoas que mostram a força do trabalho, exemplos de humildade e sabedoria.Quando os alunos conversam com essas pessoas ocorre uma imediata mudança de postura tanto dos que vem do sul como também de quem vive na Amazônia", conta a professora de Química do Colégio Bandeirantes , Denise Curi.

Ao entrar na floresta amazônica todos podem sentir a força da natureza e logo começam a olhar o mundo natural de maneira diferente. "É uma oportunidade única para os alunos de ver em campo o que aprenderam em sala de aula e explicar cientificamente como funciona o mundo natural", complementa a professora. A interação entre brasileiros de realidades tão diferentes está sendo reforçado no projeto Escola da Amazônia com a participação de professores do ensino público da região.

Heidy De San Zirilo é professora da escola rural municipal Mundo Novo, de Alta Floresta e na sua infância teve contato com a febre do garimpo que durante dez anos dominou a região. Ao contatar o grupo Heidy conta que percebeu a grande importância de educação para a conservação, mas com respeito a realidade dos povos. "A Amazônia não é só o que aparece na televisão. Acho que podemos mudar o jeito de viver aqui, mas por enquanto sentimos muito constrangimento e receio do que vem por aí diante da pressão pela preservação da Amazônia, diz ela. AULAS NA FLORESTA - Gente de Opinião

Conhecimento científico

Os workshops da Escola da Amazônia possuem o mais alto rigor acadêmico. Um deles contempla aspectos ecológicos da Floresta Amazônica por meio de diversas atividades práticas desenvolvidas em plena mata. Dentre essas atividades, destaca-se a oportunidade de o estudante criar e desenvolver um projeto de pesquisa científico, sempre orientado de perto por mestres e doutores em Ecologia e Conservação.

Na primeira fase debate-se a fundamentação do pensamento científico com base na observação, formulação de hipóteses e experimentos que serão necessários para fundamentar cada projeto de pesquisa que será elaborado pelos grupos. "Ao contrário da maioria dos projetos de educação ambiental, a Escola da Amazônia baseia parte de suas atividades nos resultados da pesquisa que ela própria promove, com o objetivo de entender como o conhecimento local, as crenças e as atitudes determinam a relação das pessoas com a natureza – a floresta e sua biodiversidade, em particular", explica o coordenador da Escola da Amazônia, Silvio Marchini , doutor em Conservação da Vida Silvestre na Wildlife Conservation Research Unit (WildCRU) da Universidade de Oxford, na Inglaterra, e mestre em ecologia pelo Jardim Botânico do Missouri (USA) .


Grupos de estudos

Com base nos resultados da pesquisa, intervenções mais efetivas de educação e comunicação podem ser elaboradas, abordando diretamente as crenças a atitudes que determinam comportamentos incompatíveis com a conservação da biodiversidade. Este ano, os participantes discutiram como eles jovens que no futuro poderão ser tomadores de decisão, podem ajudar na conservação de áreas relevantes para a proteção da fauna e flora, elaborando assim projetos de pesquisa que podem apontar para a necessidade de criação de unidades de conservação.

Assim, quatro grupos de alunos foram formados com foco de pesquisa para insetos, borboletas, embaúbas e líquens. "Propomos que os alunos pensem como fazer ciência com espírito crítico e metodologias corretas desde a amostragem até a produção do texto do projeto científico", comenta o coordenador pedagógico do projeto, professor Edson Grandisolli, biólogo e mestre em Ecologia de Ecossistemas Aquáticos e Terrestres pela Universidade de São Paulo. Ele é professor de Biologia e Ciências por mais de dez anos e autor de coleções de livros didáticos na área.

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Guaraná, uma das riquezas amazônicas, também é encontrado em Mato Grosso /DIVULGAÇÃO


Mudar atitude, eis a questão

ALTA FLORESTA, MT – A alta diversidade da fauna e flora é o que mais impressiona quem participa da Escola da Amazônia. Ao entrar na floresta pelas trilhas do Cristalino, os alunos saem em busca de amostragens da biodiversidade. O grupo voltado a pesquisar os insetos vibrava com o universo abundante dos pequenos voadores que são ao todo mais de um milhão de espécies no planeta.

Depois de horas de coleta, os grupos chegam com flores, frutos, plantas , fungos, amostras de terra, pegadas de bichos, aracnídeos e outros invertebrados. Os experimentos avaliam variáveis como luminosidade, temperatura, umidade, espaço geográfico. Ao final e sob orientação dos professores os alunos produzem relatórios segundo os padrões de um verdadeiro artigo científico.

No meio de um afloramento rochoso na floresta do Cristalino o aluno paulista do Colégio Santo Américo, Janailton Gonçalvez de Souza ao lado de outros cinco colegas tentava observar os insetos da Amazônia. Ele faz parte do Instituto Social Maria Telles (Ismart) de São Paulo, cuja missão é desenvolver talentos de baixa renda, oferecendo oportunidades que possam transformá-los em profissionais de sucesso.

O Ismart concede bolsas de estudo e benefícios a jovens que apresentem resultados acadêmicos acima do esperado para as suas oportunidades de vida ou de renda familiar. Dedicado e observador, ele diz que tem agora uma nova imagem da realidade amazônica, porém, entende que todos os cidadãos brasileiros devem ajudar a preservar a Amazônia. "Em casa todo mundo tem que mudar o jeito de consumir", diz.

A percepção de que cada atitude como cidadão e consumidor gera uma reação em cadeia e que afeta a vida das pessoas, o meio ambiente, as relações sociais e a economia é um dos mais destacados resultados do projeto Escola da Amazônia. É acreditar que a grande mudança pode estar, mesmo na educação. (J.S.)

(*) Telefone de Josana Sales: 65 9219 0100

SERVIÇO

Escola da Amazônia: www.escoladaamazonia.org.
Fundação Ecológica Cristalino – www.fundacaocristalino.org
Contatos: silvio@escoladaamazônia.org


Fonte: Agência Amazônia é parceira do Gentedeopinião

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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