Sábado, 8 de junho de 2013 - 15h03
MONTEZUMA CRUZ
Editor de Amazônias
Um dos símbolos da história amazônica ocidental no período de território federal, a Catedral de São João Bosco, em Ji-Paraná, está ameaçada de demolição. Salvo raros apelos pessoais ou na internet, esse templo parece não exercer para autoridades de Rondônia o mesmo fascínio das igrejas de Nossa Senhora dos Seringueiros, em Guajará-Mirim (na fronteira brasileira com a Bolívia) e do Bom Jesus, na capital.
Se for mesmo destruída a catedral desta cidade com 118 mil habitantes, a 367 quilômetros de Porto Velho, o bispo da Diocese de Ji-Paraná, dom Bruno Pedron corre o risco de atingir aspectos importantes dessa história: pelo desprezo à memória do padre Adolpho Rohl, pioneiro nas desobrigas na época da pré-colonização do Território Federal de Rondônia, e ainda, o auxílio do Exército Brasileiro à obra. Um capitão do 5º Batalhão de Engenharia de Construção (BEC) dedicou-se plenamente à construção do templo.
Em quatro décadas, Rondônia é duramente golpeada nesse aspecto: o que restou da lendária Estrada de Ferro Madeira-Mamoré virou sucata e muitas peças desapareceram; vários marcos deixados pela Expedição Rondon no início do século passado também sumiram. No que diz respeito à memória de São João Bosco, avalia-se a importância do santo e suas profecias, observando-se o exemplo de Brasília, onde seu nome é dado a uma grande igreja no começo da Asa Sul, e a uma Ermida, próxima ao Lago Paranoá.
Na compreensão do bispo, a demolição parece irrelevante: “(...) Essa catedral não tem uma história dela, não tem nada de antigo, assim, como um monumento histórico da nossa cidade, porque nunca foi tombada, nada. Inclusive, foi reformada várias vezes, pra cima e pra baixo; não é como as igrejas lá de Minas Gerais, que mantiveram suas estruturas. A nossa foi estruturada três vezes” – afirmou à Rádio Alvorada.
Padre Adolpho era amigo de seringalistas e seringueiros, dos quais também recebia auxílio e, acima de tudo, o reconhecimento. Fazia pregações nas missas, unindo as pessoas em favor das obras da igreja. Era o único na região.
Há quem considere diferente. Dona Maria das Graças, viúva do falecido Raul “Espanhol”, o construtor do madeiramento da catedral de Ji-Paraná, limpou a igreja diversas vezes, cantou no coro, participou de quermesses, e defende a preservação do imóvel: “É a única recordação que a gente antiga tem, da memória do sacrifício com que ela foi feita”. “Ela foi construída numa época em que esse edifício era um monumento; aqui não tinha nada, entendeu?”– disse ela a Renata Nóbrega, do movimento Preserva Ji-Paraná.
Em seu parágrafo terceiro, o artigo 9º da Lei Orgânica de Ji-Paraná diz que compete ao município, em comum açor com o Estado e a União, “proteger os documentos, as obras de valor histórico-cultural e artístico, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos”. Fosse demovido da ideia, o bispo poderia contar com apoio político federal, a fim de obter recursos para o tombamento da igreja, examinando-se o valor do templo para a história da formação do Estado de Rondônia.
Outra voluntária, a agricultora Maria Vilani Peixoto, que chegou à antiga Vila de Rondônia (nome que antecedeu Ji-Paraná) em 1974 lembra ter participado de atividades e cerimônias religiosas, ativamente, durante 17 anos. Seus filhos cresceram em torno da igreja. “Sou eterna apaixonada por esse lugar, mas o que vai mandar é a força maior, né? Quem sou eu? O sentimento que a gente tem, de uma coisa boa que possui, que a gente participa, convive e depois de repente, você vê assim, se transformar num nada”.
Ex-boiadeiro e garimpeiro, o conhecido Sergipe, 94 anos, morador na antiga vila desde 1951, conheceu padre Adolpho Rohl e o reverencia “Nos demos muito bem, ficamos muito amigos. (...) Em 61 saiu a demarcação da estrada (BR-29, depois BR-364), e essa igreja aí foi feita às custas daquele hospitalzinho que tem ali onde é a delegacia de saúde hoje”. O primeiro hospital foi obra daquele sacerdote.
Lembra que um capitão do 5º BEC mandara aplainar o terreno da igreja, mandou encostar areia, tijolo e construir “a capelinha de padre Adolpho”. “Levou o padre pra ver: ‘Tá bom, padre, desse jeito. ‘Tá bom!’. E aí ficou: o capitão levantou a igreja e o finado Raul amadeirou a parte de cima. O padre Bernardo foi quem rebocou. E agora eu vejo essa proposta aí de tirar essa igreja. Eu tenho um radinho velho, fico só escutando. Eu já quis ir lá na rádio, mas eu já tô velho. Mas tá tudo errado”.
Irene Duarte, filha de um soldado da borracha (seringueiro) e de uma filha da terra, nasceu em Ouro Preto do Oeste em 1950, muito antes da instalação do Projeto Integrado de Colonização do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Recorda que o padre Adolpho Rohl, cujo nome foi dado a um projeto do Incra, saía de casa em casa pedindo tijolos, cimento e telhas para a construção da igreja, para a qual também promovia animadas quermesses.
Outro soldado da borracha conhecido por Natinho, disse ao Preserva Ji-Paraná que padre Adolpho “por pouco não morria afogado no Rio Machado, quando a embarcação naufragou e a carga se perdeu”. Ele buscava cimento em Porto Velho. A viagem fluvial demorava um mês.
A secretária escolar Maria Iraneide, paulistana, migrou em 1972, de Altônia, antigo reduto cafeeiro paranaense. “Chegamos à Vila de Rondônia no dia 4 de outubro de 1972, às 4h da tarde, e a primeira coisa que meu pai fez foi procurar a Igreja Católica. Ele homem de muita fé. Encontramos o padre Moisés na Igreja São João Bosco, ali no centro da cidade; ele nos acolheu muito bem e papai foi agradecer a Deus por ter chegado em paz, com a cabeça toda enfaixada, uns com braço quebrado, em consequência um acidente na estrada, mas graças a Deus, não morreu ninguém. Então ele foi lá agradecer”.
Para Iraneide, apesar de pequena, a catedral é “uma igreja bela, bonita”. “Seria bom que permanecesse esse patrimônio publico. Eu gostaria que tivesse a igreja nova, claro, porque a comunidade cresceu, mas que fosse em outro lugar, e ali permanecesse aquele lugar, pra que nós pudéssemos mostrar pros nossos filhos, nossos netos, que aquela é a comunidade que iniciou aqui, na Vila de Rondônia”.
Bispo insiste, ganhando
apoio de empresários
Em depoimento à Rádio Alvorada de Ji-Paraná, o bispo Dom Bruno Pedron explicou ter recebido há seis anos projeto para a reforma da catedral. O Corpo de Bombeiros lhe entregara um levantamento técnico do prédio, defendendo reforma na fachada, construção de banheiros, entre outros itens.
“Eu não gostei do projeto, porque parecia mais uma reforma feita para um barracão de ônibus do que para uma igreja, que atraísse mesmo a devoção dos fiéis”, disse o bispo. E criticou aquilo que para a população antiga, a custo de muito sacrifício, fora um cartão postal: “(...) Esse modo de ser mesmo da nossa catedral, aquele alpendre na frente, assim, parece um barracão na frente: só tem as duas torres que salientaram alguma coisa, mas depois das reformas que fizeram, não foram reformas bem feitas, para sentir que você está num ambiente espiritual, um ambiente bom”.
Depois disso, Dom Bruno disse ter consultado engenheiros, arquitetos, queixando-se dos ventiladores, tidos como inadequados. Outro laudo, em 2000, apontou a impossibilidade de modificação da estrutura. Nessa ocasião, temia-se a queda de uma parede, se fosse modificada a janela, “para dar mais ventilação”. As torres foram acrescentadas nos anos 1980, com a sacristia anexa ao prédio, algo considerado impossível de mexer. Foi esse segundo laudo, conforme Dom Bruno, que originou a ideia da construção de uma nova catedral.
“Fizemos modificações dentro da igreja. Lá dentro tem granito, na área interna, até que se fizesse essa construção e os católicos pudessem ter melhor recepção, ficassem melhor acomodados. As tabuinhas da lateral estavam todas apodrecendo, por causa da umidade e do bolor, que causa irritação. Muitas pessoas que ficavam na lateral da igreja tinham acesso de tosse durante a celebração, então isso foi mudado: trocamos as tabuinhas”.
O bispo disse que procurou o prefeito José de Abreu Bianco, a quem relatou a falta de banheiro e de estrutura na catedral. Até o ex-diretor geral do Departamento Nacional de Infraestrutura dos Transportes (Dnit), José Antonio Pagot, aparece nessas negociações: dom Bruno recebera dele a promessa de um terreno então destinado a garagem de veículos. Depois disso, nas palavras do bispo, “as coisas foram enrolando e nada mais foi possível”.
A essa altura, o bispo concordou em doar o próprio terreno da catedral, “porque é propriedade da Igreja Católica”. Justificou o problema de estacionamento e dos bancos, ao redor. “Por que o senhor não constrói aqui uma praça, faz um monumento a Dom Bosco, e me cede um terreno lá, e fazemos a catedral mais bonita, uma quadra inteira, com jardim?”.
Passada a frustração com o terreno do Dnit, cogitou-se na prefeitura um terreno estreito em área do mercado municipal. O bispo rejeitou: “Lá é fora da minha comunidade, lá embaixo, a comunidade lá já pega a São Sebastião”.
E não parou aí a pendenga: Dom Bruno procurou os empresários José Otonio e Bernardes, explicando que a Comunidade São Sebastião já tem igreja “e cada comunidade deve ter o seu centro”. “E o povo chega pra mim e diz: Ó! Seu bispo, quando vai fazer a nova catedral? Quando o senhor vai arrumar esse negócio aqui, porque ela está sempre lotada?”.
Ao mesmo tempo, ele trouxe um projeto de Rondonópolis (leste de Mato Grosso), consultou o “conselho econômico”, pagou desenhistas e um engenheiro, porém concluiu que seria impossível investir recursos em projeto sem aprovação comunitária. Foram gastos, segundo o bispo, cerca de R$ 100 mil. Talvez daí, a situação angustiante tenha feito prosperar na Paróquia de Dom Bosco a ideia da demolição do velho templo.
Em 26 de novembro de 2012, o bispo convidou pessoas interessadas em formar uma equipe para a construção da catedral. “Participaram 33 pessoas, entre empresários dispostos a colaborar, formar a comissão. E no dia seis de dezembro, quinta-feira, no auditório da Pemaza, no 2º Distrito, às 19h30, tratamos da construção da nova catedral Dom Bosco, com essas pessoas, empresários da nossa comunidade”.
Em 2012, reuniões feitas em 22 de janeiro, cinco de fevereiro, cinco e 20 de março, aqueceram as negociações. Impressos os carnês, planejou-se um leilão e festas para motivar a sociedade.
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