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Montezuma Cruz

Roça sem fogo ganha adesão de prefeituras


 

Fresa com mil rotações por minuto derruba e tritura capoeira. Cada hectare produz 30 a 40 toneladas de biomassa 



MONTEZUMA CRUZ 
montezuma@agenciaamazonia.com


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IGARAPÉ-AÇU, PA – A roça sem fogo na Amazônia terá pleno êxito quando as máquinas de prefeituras consolidarem parcerias com o Projeto Tipitamba. A maior parte das administrações municipais possui tratores e equipamentos que podem se adequar ao uso da tecnologia da Embrapa Amazônia Oriental, prevê o pesquisador e coordenador do projeto, Osvaldo Kato. Na próxima terça-feira, 30, ele participará de audiência pública para debater o tema na Comissão de Amazônia da Câmara dos Deputados. 

Roça sem fogo ganha adesão de prefeituras  - Gente de Opinião
A americana Dawn Michelle estuda o agroextrativismo e a conservação de solo / FOTOS M.CRUZ
Desenhada por técnicos das universidades federais de Göttingen e Bonn, na Alemanha, uma fresa florestal avaliada em R$ 125 mil trabalha com mil rotações por minuto em capoeiras com cinco a seis anos de idade, obtendo um rendimento de 30 a 40 toneladas de biomassa por hectare. É o que acontece, por exemplo, no município de Igarapé-Açu, a 117 quilômetros de Belém.

"Constatamos que a regeneração se deve em 80% à raiz que permanece na área. E nesses solos de baixa fertilidade, os cultivos são supridos pela biomassa, com grande ganho na estabilidade da produção", diz Kato. "Estou conhecendo pouco a pouco como são feitas as transformações que podem salvar a Amazônia", comenta a estudante de engenharia florestal do Estado de New York (EUA), Dawn Michelle Harfmann. Ela diz que não perde um só dia se aprendizado nas visitas a campo promovidas pela Embrapa e pela Prefeitura de Igarapé-Açu. Michelle apresentará tese de mestrado a respeito de sistemas de cultivos agroflorestais.



Um hectare custa R$ 950 

Roça sem fogo ganha adesão de prefeituras  - Gente de Opinião

A turismóloga Suellen Santos Mendes participa do Plano do Desenvolvimento Municipal

Na primeira passada, a fresa projetada por alemães derruba o mato e o tritura; na segunda, faz o acabamento. Um hectare custa R$ 950 e exige em média cinco horas de operação, constata o pesquisador em áreas das associações de Marapanim, São Domingos do Capim, Concórdia do Pará, Mãe do Rio, Irituia e Barcarena. No custo estão incluídos o deslocamento da máquina e o consumo de 125 litros de óleo diesel/ha.

Kato treina grupos de agricultores para o uso conjunto, obtendo economia na compra e manutenção dos equipamentos. Ele vem propondo que os pequenos agricultores incorporem as máquinas do projeto às patrulhas mecanizadas das prefeituras, que também servem para os serviços rurais.

"É possível instalar a fresa num trator-esteira", ele anuncia. Similar nacional adquirida pela Albras – subsidiária da Companhia Vale do Rio Doce – tem uma serra e uma rosca que fazem as operações de uma só vez. "Em capoeiras menores podem ser usadas máquinas menores", acredita o pesquisador. A turismóloga Suellen Mendes registra tudo para o Fórum de Desenvolvimento Municipal, do qual faz parte.


Roça sem fogo ganha adesão de prefeituras  - Gente de Opinião

Manoel da Silva, 57 anos, deixou de usar o fogo no roçado. Diversificou a produção.


Perda de nitrogênio

Além de trazer prejuízos ao meio ambiente, como incêndios florestais e emissão de gás carbônico, as queimadas agrícolas também destroem nutrientes importantes do solo. "Perdemos 93% do nitrogênio, que volatiliza. Potássio e o fósforo também se perdem praticamente pela metade nas cinzas levadas pelo vento", explica o coordenador.

O pesquisador acredita que, na troca de experiências e na compreensão das problemáticas enfrentadas em sua região, cada cidadão se conscientizará do seu papel na preservação do meio ambiente. "Assim, ele se tornará vigilante e multiplicador das boas práticas, reforçando a luta por políticas públicas efetivas para o setor", diz Kato. 

História em quadrinhos mostra 
o valor do Projeto Tipitamba


IGARAPÉ-AÇU – O texto em linguagem acessível de Patrícia Mourão e as ilustrações de José Fernandes Neto constituem os quadrinhos do portifólio O que está acontecendo com a Amazônia? – Alternativas para recuperação de áreas degradadas. Milhares de exemplares com indicações de práticas alternativas para a preservação dos sistemas produtivos da agricultura familiar vêm sendo distribuídos desde o ano passado pela Associação de Desenvolvimento Comunitário de Nova Olinda.

Não é mais o caso de Manoel da Silva, 57 anos, da Associação São João, em Marapani. Dono de um sítio entre esse município e Igarapé-Açu, ele parou de queimar. Ensinando o uso sustentado da terra e a melhoria de vida dos agricultores da Amazônia, os quadrinhos propõem a roça sem queima. o plantio de leguminosas que recuperam o solo; o uso de defensivos agrícolas naturais, adubos orgânicos e sistemas agroflorestais - todos embasados em conhecimentos técnico e científicos que visam a possibilidade de mudanças.



Conservando a biodiversidade 

Roça sem fogo ganha adesão de prefeituras  - Gente de Opinião

A fresa modelo alemão já tem similar nacional adotado pela Vale do Rio Doce

Agricultores se informam, por essa publicação, a respeito da importância das capoeiras que acumulam biomassa – folhas, galhos, troncos, cipós e nutrientes. Eles contribuem para a fertilidade dos solos; diminuem a quantidade de plantas invasoras; controlam a erosão dos solos; e conservam a biodiversidade.

Os quadrinhos dão aos agricultores a noção exata dos benefícios: "Ai! Vamos ser trituradas". "É, mas vamos deixar mais alimentos para a terra". "E como não cortam nossas raízes, podemos crescer de novo". Meses depois do plantio direto, a mocinha pergunta: "É Tipi, a plantação está bonita mesmo! Deve ter dado muito trabalho".

O agricultor responde: "Que nada! Eu só dei uma capinada, só fiz uma adubação, e posso plantar em várias épocas do ano". Em seguida, alinham-se as principais vantagens do preparo da área com corte-trituração: 1) Evita que os nutrientes acumulados pela capoeira sejam perdidos pelo fogo; 2) Reduz os riscos de incêndios acidentais; 3) Permite uma maior flexibilidade do calendário agrícola do produtor; 4) Melhora as características físicas, químicas e biológicas do solo. (M.C.)

Parceiros do Tipitamba: Programa Piloto de Proteção das Florestas Tropicais (PPG7), Banco da Amazônia, Banco Mundial, United States Agency for International Development (USAID), Projetos Demonstrativos e Projetos e Programa de Alternativas ao Desmatamento e às Queimadas (PDA/Padeq), Sebrae-PA, Ministério da Agricultura, Ministério da Ciência e Tecnologia e CNPq.

MATÉRIAS DA SÉRIE

Tipitamba usa capoeira contra o fogo na Floresta Amazônica 

Fonte: Montezuma Cruz - A Agênciaamazônia é parceira do Gentedeopinião e do Opinião Tv.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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