Segunda-feira, 14 de junho de 2010 - 18h24
Mídia teria papel importante em campanhas de educação ambiental. Pesquisadores sugerem abertura de espaço para cientistas com experiência sobre o ambiente amazônico /MONTEZUMA CRUZ |
MONTEZUMA CRUZ
Amazônias
BELÉM, Pará — Tragédias ambientais na Amazônia ocorrem em regiões remotas, longe dos olhos da maioria dos cidadãos, principalmente dos grandes centros populacionais. Talvez esta seja uma das razões para que a sociedade brasileira ainda esteja apática quanto à escalada desses problemas.
Os pesquisadores Raimundo Nonato Brabo Alves e Moisés de Souza Modesto Júnior, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) chegaram a essa conclusão, após avaliarem ao acaso 60 matérias jornalísticas publicadas no triênio 2006/2007/2008, nos jornais O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo.
Os dois são engenheiros agrônomos vinculados à Embrapa Amazônia Oriental, em Belém. Brabo Alves é o chefe do Núcleo de Apoio a Pesquisas e Transferência de Tecnologia do Baixo Tocantins e Modesto Júnior, especialista em marketing e agronegócio. A pesquisa foi apresentada durante o 7º Congresso Nacional de Meio Ambiente, em Poços de Caldas (MG), no final de maio.
— O resultado satisfatório clareou a realidade que muitos desconhecem, mesmo com as imagens de satélite, que estão cada vez melhores — comentou Brabo Alves. Ele comanda o Projeto Trio da Produtividade na cultura da mandioca, associado ao Projeto Tipitamba e ao Sistema Bragantino. Os três obtiveram êxito com roçados sem fogo no nordeste do estado e no Baixo Tocantins.
Maior documentação com imagens aéreas de ocorrência do fogo e desmatamento sensibilizaria mais, opinam os autores da análise. Eles sugerem campanhas permanentes na mídia, abordando a dimensão do desmatamento, os números e os recursos financeiros envolvidos no crime do tráfico de animais silvestres, as perdas em divisas para o Brasil com a prática da biopirataria e outros.
— Isso ajudaria a formar uma consciência coletiva de preservação na sociedade — acreditam.
Desmatamento e incêndios
Quais as correlações de problemas ambientais da Amazônia brasileira com as diferentes fontes de financiamento? Quais os estados mais citados por problemas ambientais? Quais as correlações de problemas ambientais da Amazônia com os países amazônicos?
Esse conjunto de indagações possibilitou aos pesquisadores maior reflexão a respeito da maneira como a mídia trata as questões ambientais no País. Também revelou quais as instituições mais citadas e os problemas de maior gravidade.
O desmatamento liderou, com 46% de participação; o segundo, o aquecimento global com 14%, numa relação de causa/efeito do próprio desmatamento. O desflorestamento na Amazônia Legal foi de 18.226 km² em 2000, elevando-se para 27.423 km² em 2004, e caindo para 12.911 km² em 2008.
Os estados com maior freqüência na mídia por problemas ambientais são Mato Grosso (34%), Pará (29%), Amazonas (19%), Rondônia (15%) e Roraima (3%). Amapá e Acre aparecem apenas pontualmente.
Números do desmatamento nunca estiveram abaixo de 10 mil km². Estudo atribui essa queda ao resultado da democratização de informações difundidas pela mídia /GREENPEACE |
Mais informações, mais conhecimento
—Quando começaram as estimativas, os números do desmatamento nunca estiveram abaixo de 10 mil km² — assinala Brabo Alves. Segundo ele, essa queda “certamente é resultado da democratização de informações que a mídia difunde para a sociedade, ao divulgar os indicadores de desmatamento e outros crimes ambientais”.
— Isso estimula o senso crítico coletivo e as ações repressivas — considera Modesto Júnior. Lembra que a conscientização dos extrativistas, quilombolas e indígenas, sob a orientação principalmente de organizações não-governamentais (ONGs), provocou o confronto entre as fronteiras de interesses, na medida em que aumenta a área desmatada.
— A mídia explorou intensamente o conflito de interesses entre rizicultores e indígenas em Roraima. Entre madeireiros e pecuaristas contra extrativistas na Reserva Verde Para Sempre. Entre grandes projetos hidrelétricos e ambientalistas no Rio Xingu. Entre mineradoras e indígenas no Alto Rio Negro no Amazonas — registram os pesquisadores.
A ação mais comentada foi a repressão com 20% de freqüência. A mídia ressalta que as medidas repressivas como a operação Arco do Fogo, que teve como primeiro alvo o município de Tailândia, no Pará, só contribuíram para intensificar os problemas sociais
Estudantes e pesquisadores franceses visitam o "nortão" de Mato Grosso. Governos assinaram acordo que prevê a criação de um Centro Franco-Brasileiro de Biodiversidade Amazônica, voltado para a pesquisa científica e tecnológica /CORREIO DO NOROESTE |
Fundo, presença francesa,
madeira e grandes projetos
BELÉM — A pesquisa revelou os olhos da mídia sobre diversos problemas amazônicos. Um dos assuntos mais relevantes foi o interesse de governos estrangeiros pelo Fundo Amazônia. Japão, Coréia do Sul, Suécia, Alemanha e Suíça manifestaram intenção em cooperar com o fundo que pretende captar US$ 1 bilhão por ano.
O Fundo Amazônia tem por finalidade captar doações para investimentos não-reembolsáveis em ações de prevenção, monitoramento e combate ao desmatamento, e de promoção da conservação e do uso sustentável das florestas no bioma amazônico, nos termos do Decreto no 6.527, de 1º de agosto de 2008.
Em 2007, a Campanha da Fraternidade da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil alertou para a perda irreparável de inestimáveis riquezas humanas e culturais, não apenas para a população brasileira, mas para a humanidade. Os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da França, Nicolas Sarkozy, assinaram um ambicioso acordo para a exploração conjunta da Amazônia. Protocolo adicional prevê a criação de um Centro Franco-Brasileiro da Biodiversidade Amazônica, focado na pesquisa científica e tecnológica.
O governo federal teve o maior espaço na mídia, com 15% de participação entre as instituições, destacando-se o Ministério do Meio Ambiente com 5% de freqüência. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) teve 12% de participação e foi a mais citada em notícias do monitoramento do desmatamento.
Brabo Alves: "Pesquisadores estrangeiros têm privilégio sobre aqueles que vivem na região, mas encontram dificuldades para divulgar pesquisas e idéias /MONTEZUMA CRUZ |
Entre as ONGs destaca-se o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (8%) e o Greenpeace (7%). Ibama e Polícia Federal tiveram 6% de participação. A Operação Curupira, a maior investigação policial na Amazônia, foi um marco importante das ações repressivas ao desmatamento.
O terceiro e o quarto problema ambiental a ocupar espaço foram os impactos de grandes projetos, entre os quais, o licenciamento da Hidrelétrica de Belo Monte, o asfaltamento da BR-163 (rodovia Cuiabá-Santarém), e o avanço da pecuária e da produção de grãos, ambos com 9%. (M.C.)
Mais espaço para opiniões de estrangeiros
BELÉM — A Agência Estado foi a fonte de informação de 46% das matérias sobre o meio ambiente da Amazônia, seguida da Folha de S. Paulo (39%) e da BBCBrasil (8%). A Agência Reuters (3%) foi a fonte estrangeira de maior participação. Gestores públicos (39%) aparecem com freqüência entre os formadores de opinião. Há relatos de muitos órgãos ligados aos problemas ambientais, cujo entendimento sobre um mesmo tema é divergente.
Em seguida se destacam os pesquisadores (36%). Mesmo assim há restrições, o que limita a democratização de opiniões.
— A mídia abre mais espaço para pesquisadores estrangeiros, principalmente aos que publicaram sua pesquisa em periódicos de renome internacional, enquanto que pesquisadores que vivem na região têm mais dificuldade de divulgar suas pesquisas e idéias — queixam-se.
O terceiro são os representantes de ONGs (11%), que protestam e denunciam crimes ambientais. Parlamentares, apenas 4%. Representantes de empresários e agricultores familiares se manifestaram menos que as lideranças indígenas.
Grandes projetos do governo federal em Mato Grosso, Pará, Amazonas e Rondônia serviram de atrativo para um fluxo migratório que resultou em maior pressão sobre o meio ambiente.
— Não se pode deixar de considerar o efeito tamponante nas questões ambientais da Amazônia entre os estados. A produção de alimentos básicos nos estados mais desmatados serve de suprimento para a população dos estados menos desmatados. (M.C.)
MAIOR PARTICIPAÇÃO DE PESQUISADORES AMAZÔNICOS
● A mídia teria um papel importante em campanhas de educação ambiental. Na coordenação de fóruns de debates, abriria espaço para cientistas ou pesquisadores com experiência sobre o ambiente amazônico. Divulgaria pesquisas ou tecnologias que contribuiriam para a sustentabilidade da economia.
● Segundo a mídia, grande parte das soluções que o Brasil busca programar atende às exigências do Protocolo de Kioto. “A Amazônia deve ser preservada não pela pressão internacional, mais sim, pela conscientização dos brasileiros, de que é nossa região mais rica em recursos naturais, pela existência de milhares de espécies animais, vegetais e microorganismos, além diversidade de minerais estratégicos em seu subsolo.
● O controle das ações necessárias à mitigação das degradações ambientais na Amazônia tem que ser responsabilidade do governo brasileiro e dos brasileiros. Isso evitaria leviandades, a exemplo do editorial do jornal inglês “The Independent”: "Uma coisa tem que ficar clara. Esta parte do Brasil é importante demais para ser deixada aos brasileiros. Se perdermos as florestas perderemos a batalha contra as mudanças climáticas”.
● Sob o título “Salvem os pulmões do Planeta”, o jornal diz ainda: “Amazônia é um recurso precioso para o mundo inteiro, pelo qual todos temos de assumir a responsabilidade”.
● Agressões ao meio ambiente da Amazônia ocorrem desde o descobrimento do Brasil, mas as conseqüências somente inquietaram a sociedade brasileira de 40 anos para cá. Documentos inéditos do regime militar (1964-1985), guardados no Arquivo Nacional, em Brasília, mostram que em 1967 a saída clandestina das riquezas madeireiras e minerais do País já preocupava.
● No ofício nº 021-3S/4193/67, de dois de agosto de 1967, o Conselho de Segurança Nacional (que funcionou no regime militar classificou de ultra-secreto o estudo sobre o "Descaminho das riquezas naturais do País”.
“Jovem advogado que sai da Faculdade quer apoio para enxergar a nova realidade”
Desde 2023, o presidente da Seccional OABRO, Márcio Nogueira ordena a visita a pequenos escritórios, a fim de amparar a categoria. “O jovem advogado
Casa da União busca voluntários para projetos sociais em 2025
A Associação Casa da União Novo Horizonte, braço da Beneficência do Centro Espírita União do Vegetal, espera mais voluntários e doadores em geral pa
PF apreendeu o jornal Barranco que mesmo assim circulou em Porto Velho
Mesmo tendo iniciado no Direito trabalhando no escritório do notável jurista Evandro Lins e Silva, no Rio de Janeiro, de postular uma imprensa livre
"Mandioca é o elixir da vida", proclama o apaixonado pesquisador Joselito Motta
Pequenos agricultores de 15 famílias assentadas em Joana D’Arc e na linha H27, na gleba Rio das Garças, ambas no município de Porto Velho, ouviram o v